Seguidores

7.6.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE XVI

 


Gonçalo encontrava-se sentado no sofá da sua sala. A Televisão estava desligada, a garrafa de cerveja, estava quase cheia. Já “morta” pois a Primavera já fazia lembrar o Verão e há mais de três horas que a abrira.  Desde que chegou a casa, apenas tomou banho, enfiou uns bóxeres, pegou numa garrafa de cerveja e sentou-se ali a pensar nos acontecimentos daquele dia. Ainda não acreditava que fora capaz de ir ter com aquela mulher e assim sem mais nem menos dizer-lhe que queria falar com ela.

A mulher devia ter pensado que estava doido. E será que não estava mesmo a enlouquecer? A infrutífera busca de uma lembrança, durante aqueles quase catorze anos, não estariam mesmo a dar com ele em doido?  Ele não a conhecia. Então porque o seu coração disparava quando ela estava perto? E porque é que a filha dela, se parecia com a sua irmã como duas gotas de água? Se a sua sobrinha Sara, não fosse tão parecida com o pai, ele poderia pensar numa troca de crianças na maternidade, mas assim nem essa hipótese era plausível

“Esquece as semelhanças da criança com a Laura, Gonçalo – dizia-lhe a voz da razão. – Estás farto de saber que há pessoas parecidíssimas sem que tenham qualquer vínculo familiar. Nunca ouviste falar em sósias?”

Passou a mão pela testa.. É claro que ele sabia que havia pessoas muito parecidas, e até já vira em revistas e televisão sósias de alguns atores famosos.

Mas não era só isso. Ele viu surpresa e medo no olhar daquela mulher, quando tropeçou nele à porta da escola, antes de fugir a correr. E se não se conheciam não havia razão para essa reação.

Em desespero, apertou a cabeça entre as mãos. E nesse momento o telemóvel tocou. Olhou o ecrã. Fernando Novais. Atendeu.

- Estou…

- Gonçalo, estás de serviço, ou em casa?

- Porquê?

- Lembras-te do Ernesto Vieira, aquele gajo, da Guarda que terminou o curso connosco?

- Lembro-me.

-Encontrei-o hoje por acaso. O tipo está há seis anos num hospital em Londres. Casou com uma inglesa, e foi pai o mês passado. Veio apresentar o bebé aos avós.  Perguntou por ti e pelo Paulo Antunes. Pediu para vos dizer que gostaria de se encontrar connosco amanhã à noite, para beber uns copos e matar saudades. Estás disponível?

- Estou, embora para te ser sincero, não ande muito animado.

- Que se passa, pá? Alguma coisa com a tua irmã?

Notou a ansiedade na voz do amigo.

-Não.

- Ouve lá, precisas de ajuda? Queres que vá até aí? Não tenho nada combinado para esta noite.

Fernando era psiquiatra e um bom amigo. O único aliás que conhecia o seu problema.

- O quê, não tens um programa para hoje? A uma Sexta-feira? Estás a ficar velho, amigo.

- Vai-te lixar, Gonçalo. Precisas ou não de um amigo?

- Acho que preciso mais de um psiquiatra, - respondeu quase num murmúrio

 - Quinze minutos e estou aí – disse desligando.

Gonçalo, pousou o telemóvel, foi ao quarto, enfiou umas velhas calças de ganga e uma T-shirt. Sentiu fome. Afinal não jantara. Mas o Fernando devia estar a chegar. O bom do Fernando, filho único de um casal vizinho e amigo dos seus pais.

Os dois eram amigos e companheiros de brincadeiras desde a mais tenra idade. Apaixonara-se pela sua irmã desde a primeira vez que a viu, era ela apenas um bebé de dois dias de idade. Podia ser um amor fraternal, e provavelmente fora-o, pela menina que punha de lado as bonecas e andava sempre atrás dos dois querendo participar nas brincadeiras deles. Mas à medida que os anos se passavam, esse amor transformou-se numa paixão que ele nunca confessou, primeiro porque Laura era muito jovem e ele tinha receio de a assustar com o seu amor. Resolvera esperar e, entretanto, a irmã conhecera Joaquim e todos os outros homens deixaram de existir para ela.

Gonçalo suspeitava de que o amigo continuava apaixonado pela sua irmã. A campainha da porta tocou e ele apressou-se a ir abrir.

 

14 comentários:

Janita disse...

Apesar de se terem reencontrado, Gonçalo e Lena continuam desencontrados.

Ele porque a não reconheceu completamente e ela porque pensa ter sido esquecida. Raio de vida!

Um abraço.

noname disse...

Estou a pôr fé nesse encontro de amigos, quem sabe saem dali novidades.

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Amores impossíveis cruzados?
Boa semana

chica disse...

Muito legal ,mas nós continuamos a acompanhar e torcer pelo entendimentos deles. beijos, chica

Maria Dolores Garrido disse...

Quem será que está a tocar?
Gosto deste suspense.
Um abraço, Elvira, e um dia com boas histórias.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um belo capitulo.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Cidália Ferreira disse...

Muito bem. Vamos ver quem vem por aí?! :))
-
Não desejo se a deusa do teu mar...
-
Uma excelente semana
Beijos

Tintinaine disse...

Gostei deste capítulo. Com a ajuda do psiquiatra a coisa, agora, vai dar um salto em frente.
Boa semana!

teresadias disse...

É agora que o Gonçalo vai recuperar memórias.
Elvira, esta história é brilhante!
Beijo, boa semana, muita saúde.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Não deve ser fácil o dilema com que se defronta Gonçalo!
Aguardemos os próximos capítulos!
Um beijinho e uma bom semana, com saúde.
Ailime

Edum@nes disse...

O telefonema do amigo Fernando, terá interrompidos os seus pensamentos. Resta agora esperar pelo próximo capitulo, para saber o que terá acontecido e o que mais a seguir irá acontecer.

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

lis disse...

E nada dos dois se reencontrarem ... a Elvira está criando um suspense formidável, rs como sabe bem !
Adorando!
abraço e boa semana

aluap disse...

Temos aqui o amigo e o profissional ideal para ajudar a despoletar a lembrança de quase 14 anos?
Aguardemos...
Boa semana c saude.

Fê blue bird disse...

Acho que a visita do seu amigo Fernando vai ajudar o Gonçalo, a colocar a "cabeça no lugar". E o encontro com o Ernesto, também , vamos ver :)

Um abraço, Elvira!