- Aqui é a sala comum. É a maior divisão da casa. Daquele lado é a casa de jantar, deste como vês uma sala de estar. Estás muito calada. Que se passa Sofia? Se não tivesses falado no aeroporto diria que és muda.
- Desculpa. É que é tudo muito novo para mim. O medo do avião, o ver-me numa terra estranha, a falta dos meus pais, são muitas emoções juntas. Sinto-me cansada.
- Tem paciência só mais um pouco, já te deixo descansar, - disse sorrindo.
A sala, na parte onde se encontravam, tinha duas janelas com cortinas estampadas, um sofá em tons de azul, também estampado, coberto de almofadas coloridas, e um cadeirão estofado em cor-de-vinho. No chão uma carpete, muito parecida com as que a tia Ilda tecia com trapos, lá na aldeia. E em cima da carpete uma pequena mesa com tampo de vidro.
No outro lado da sala, a chamada casa de jantar com outra janela que iluminava a mesa retangular com cadeiras estufadas de amarelo.
Por todo o lado as cores vivas estavam presentes, como se os franceses quisessem celebrar a vida, depois do término da guerra que ocorrera há pouco mais de vinte anos.
Passaram depois à cozinha, decorada em tons de branco e verde água.
- Não sei se o meu pai te informou, eu trabalho no restaurante do meu tio, - informou Quim. Ele era o cozinheiro quando cheguei. Comecei a seu lado como aprendiz. Agora sou eu o cozinheiro e ele dirige o restaurante. Todavia hoje, para que eu possa estar aqui, teve que voltar à cozinha. Quer isto dizer, que excetuando o dia de folga, em que o restaurante fecha, eu faço as refeições lá. Mas deixemos as explicações para mais tarde, como disseste estás muito cansada, é melhor que vás descansar, anda vamos ver os quartos.
Os quartos eram dois. Um mais pequeno, com uma cama de solteiro, e outro maior com cama de casal.
Quim foi buscar a mala dela para o quarto de casal, e disse:
- Fica à vontade. Podes trocar de roupa, e descansar. Eu vou até ao restaurante, dar uma ajuda ao tio na elaboração do jantar, e mais tarde venho buscar-te. Jantamos lá. Outra coisa, não sei se reparaste, na sala há um telefone, e ao lado num caderno está o número do telefone do restaurante. E o número do café da aldeia. Podes ligar e pedires para informar os teus pais que chegaste bem. Devem estar em cuidado.
Deu-lhe um breve beijo na face e saiu, deixando-a só, com os seus receios e o seu cansaço.
12 comentários:
Sim, Elvira, sei que era assim e muito pior ainda. O meu pai que era taxista da aldeia, levou muitos que " iam a monte " para o estrangeiro. O meu pai precisava de ganhar o sustento dos filhos e corria esse risco. Tempos dificeis, Amiga! Um beijinho e boa noite!
Emilia
Que coisa tão estranha mas, como ser diferente, não é? Nada nesse casamento é o que se espera de um casamento com noivos enamorados.
Curiosa, muito curiosa :)
Boa noite, Elvira
O clima continua tenso e muito formal.
Boa semana
Realmente é tudo tão estranho, tão formal, tão distante da paixão arrebatadora que, a mim, me levou ao registo civil...
Continuo sem conseguir adivinhar como é que a sua mestria vai "dar a volta" a este casamento, Elvira.
Forte abraço!
Bom dia Elvira,
Uma bela história que nos relata memórias daqueles tempos vividos com muitas dificuldades.
Um beijinho e saúde.
Ailime
Bom dia
Estou a recordar algumas cenas da historia que naturalmente já não me lembrava.
JR
Esse capítulo estava bem guardado em minha memória. Bom reler! beijos, lindo dia! chica
Pois era! E ter uma família por perto para dar uma ajuda era um verdadeiro milagre. Assim me safei eu, quando estive na Alemanha.
Bom dia, Elvira!
Há sempre surpresas!
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Vagueio em sonhos singelos
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Beijos e um excelente dia :)
Casar por poderação era muito corrente naquiles tempos de emigração.
Lendo aprendo dos nomes que vocês dam a coisas que nós chamamos de diferente maneira, como casa do jantar, aquí, comedor, ou os tampetes...e tantas outras!
Estou a ler muito portugués istes tempos. Algum livro, os blogs...
Muito obrigada pela sua visita.
Abraço
Tudo tão estranho, formal, desapaixonado.
Que tempos aqueles!
A Elvira vai aos pormenores mais pequeninos. Eu gosto!
Beijo.
Muito bom este conto que nos mostra um pouco da riqueza cultural de Portugal.
Abraços fraternos!
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