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9.7.17

ROSA - PARTE XI




                                       foto da net


No ano seguinte, Rosa dava à luz uma menina e no outro, mais uma menina e no outro ainda, um rapaz.
Três filhos em três anos. João trabalhava agora na C.U.F., ganhava um pouco melhor mas, ainda assim, pouquíssimo para as necessidades de cinco bocas. A casa também não tinha condições. No quarto, além da cama de casal e do armário, só cabia o berço. As duas crianças mais velhinhas dormiam no chão da cozinha, numa cama feita com duas mantas de trapos.
Quando vagou uma casa de dois quartos no pátio, mudaram-se para lá. Mas Rosa já estava outra vez grávida. Nessa altura não havia pílula, só as “camisinhas”. Mas João não as queria usar. Quando os amigos, ou vizinhos comentavam da pobre Rosa que sofria de “prenhez cronica” ele dizia a rir:
-E o que é que eu hei-de fazer? O raio da mulher basta olhar para mim quando estou a mudar de roupa para ficar logo “embuchada”.
Rosa adorava o marido. Nunca lhe batera, o que os maridos de algumas vizinhas faziam com frequência, nunca a ofendera e, às vezes, até era carinhoso com ela. Era bom pai, muito trabalhador, não se metia nos copos como a maioria dos homens do pátio. O pior, era não querer usar a malfadada “camisinha”. Cada vez que ela lhe pedia, respondia sempre que "os rebuçados embrulhados não sabem a nada". E Rosa começava a sentir-se exausta.
Felizmente para ela, o bebé não foi além do terceiro mês, tendo sofrido um aborto espontâneo. O pior foi que pelo Natal já estava outra vez grávida. Rosa tinha que aproveitar o trabalho na Seca do Bacalhau para ajudar a despesa da casa. Levantava as crianças logo de manhãzinha e lá ia ela para o trabalho, com um filho no bucho, os dois mais pequenos sentados cada um do seu lado sobre a anca e a maiorzinha agarrada às saias. Na Seca, estendia o xaile dentro dum carro de mão e lá metia os bebés guardados pela pequenita enquanto ela trabalhava. Tempo depois, voltou a abortar e deu Graças a Deus por isso.
Depois, vieram mais três em quarenta meses. Rosa ainda não fizera vinte e oito anos, e já tivera seis filhos e dois abortos. As duas filhas mais velhas já estavam na escola. Rosa tinha vergonha de mandar as crianças, para a escola, com os sapatos rotos mas não podia comprar outros. De roupa, as duas mais velhas estavam servidas. Havia na Seca uma senhora, esposa do chefe de escritório, que tinha duas filhas, um pouco mais velhas que as suas e dava-lhes a roupa que já não servia às meninas. Coisas caras, de bons tecidos, que mesmo depois de deixarem de servir às filhas, ela guardava religiosamente para a mais pequenina. Para os rapazinhos é que era pior. Mas a necessidade aguça o engenho e Rosa ia aproveitando das suas roupas e do marido, que já não davam para consertar, alguns bocados bons que dava para uns calções ou um bibe para eles. De quando em vez, Amália, a cunhada, lá arranjava maneira de lhe dar um quilo de arroz, umas batatas ou meio litro de azeite. Não muito que também ela vivia com muitas dificuldades. O problema dos pobres é que o que podem partilhar é sempre muito menos do que manda o seu desejo de ajudar.
À noite, quando regressava do trabalho, Rosa recolhia do pessoal que vivia na Seca e cuja cozinha era composta por enormes fogões a lenha, o carvão que os ia aquecer na braseira.
Mas sentia-se muito cansada. Sentia-se velha. A vida estava cada dia mais difícil. O ordenado do marido não chegava para nada. O dono da mercearia fiava-lhe o avio durante a semana. Quando no sábado o marido recebia a semanada, passava por lá para acertar contas e vinha logo sem dinheiro para casa.

Continua



18 comentários:

Majo Dutra disse...

Que vida!!
Sei que era assim...
Bom Domingo
Abraço
~~~

chica disse...

Pobre Rosa! Cansada da vida...vim deixar um bj praianos,chica

Tintinaine disse...

A minha mãe teve 12 filhos e ainda dois abortos.
Sei bem o que isso é.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
esta historia devia ser lida por muitos casais de hoje , para que tivessem noção das dificuldades dos nossos avós e visavós.
JAFR

António Querido disse...

Essa dos rebuçados embrulhados fez-me rir e outra coisa que nesse tempo não havia eram automóveis, só carroças e não tinham marcha-atrás!
A minha avó materna também teve 9 filhos e só um morreu cedo, os outros todos morreram com mais de oitenta anos e todos se criaram com meia sardinha a cada um às refeições.

O meu abraço.

Edum@nes disse...

No tempo da pobreza em Portugal, era assim. Chapa ganha chapa gasta. Não havia televisão, não havia internet, nem telemóveis. Mais curto era o serão. Havia mais tempo para o jogo do mete e tira!

Tenha uma boa tarde de domingo amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Os olhares da Gracinha! disse...

Criar tanto filho não era tarefa fácil!!!
Bj

Anete disse...

Experiências duras as da Rosa! Pobreza, filhos e mais filhos... Puxa! Ainda bem que era amada... Tomara as coisas mudem para o seu lado... "Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão!" Salmos 126

Bjs e boa semana..............................

O meu pensamento viaja disse...

Pobre Rosa!
Boa semana.
Beijo

Gaja Maria disse...

Vivia-se com muitas dificuldades naquela altura e tantos filhos...

Cantinho da Gaiata disse...

Que pena que tenho da Rosa, tanto filho, trabalho e governo de casa, o que lhe vale é o amor que os une.
Gosto dessa da "camisinha".
Beijinho grande.

Berço do Mundo disse...

Pobrezinha. Se não fosse tão tímida já teria pedido ajuda a outra mulher mais experiente. Havia mezinhas que muitas usavam para evitarem engravidar, não era?
A gostar muito da história, Elvira

redonda disse...

Ontem passei por aqui e comentei, mas acho que não consegui provar que não era um robô por isso o meu comentário não passou :( por isso vou tentar comentar de novo :)
o que disse ontem, se bem me lembro, era que deve ser difícil querer e não ter que dar aos filhos

um beijinho
(e vou ver se agora fica)

redonda disse...

agora ficou :)

paideleo disse...

A vida era dura naqueles tempos tanto en Portugal como na Galiza. A historia de Rosa repetíase con poucos trocos en cada casa.

En canto ao menino que temos na casa dicir que é saharaui e que vive refuxiado coa familia en Alxeria fuxindo de Marrocos. Vai botar dous meses aquí para fuxir da calor do Sahara e para recibir tratamentos médicos. Se el quere e nós tamén pode vir tres veráns conosco pero despois xa non.
Outra xente que acolle nenos dalá acaba acollendo varios irmáns.

Ailime disse...

Uma vida penosa.
Bjs
Ailime

Rui disse...

Vida muito dura, a de então ! ... As gentes jovens de hoje, não devrão fazer uma pequena ideia do que era a vida destas gentes naquela época !

Socorro Melo disse...


Só quem já viu de perto, ou viveu situação de pobreza e miséria semelhante, sabe a dimensão do sofrimento destes personagens. Em países pobres e subdesenvolvidos esta realidade é gritante.