Mais calma, lembrou-se dos ensinamentos da avó, devota de Nª Senhora do Rosário. Abriu o cesto e, embrulhado num lencinho branco, lá estava o terço de contas meio gastas de tantas e tantas vezes passadas entre os dedos rugosos da avó. Ajoelhou e pondo a alma em cada oração rezou como nunca o fizera na vida. Uma vez e outra e outra até adormecer de cansaço.
Vá-se lá saber se foi coincidência ou intervenção divina, mas no dia seguinte apareceu na casa um homem jovem, que ao vê-la, se engraçou por ela. E depois de uma breve conversa, lhe perguntou se queria casar com ele. Ela pensou que ele era um anjo mandado pelo céu e aceitou na hora. O homem falou então com a dona do bordel, que lhe disse que se queria levar a rapariga tinha que pagar vinte escudos, pois fizera gastos com ela dos quais não ia ver retorno. O homem prometeu voltar ao anoitecer com o dinheiro, pedindo que, entretanto, a rapariga se recolhesse ao quarto e não fosse vista por outros homens.
Vinte escudos em 1946 era muito dinheiro, mas o homem voltou ao entardecer com a quantia pedida. E Rosa saiu daquela casa, com as suas velhas roupas, algum temor no coração mas também com muita fé num destino melhor.
João, assim se chamava o homem, trouxe-a até ao mar onde apanharam um barco para o Barreiro, pois era aí que ele trabalhava e morava. Rosa nunca tinha visto o mar e tremeu de medo os trinta e cinco minutos da travessia. Por medo do mar, por vergonha do homem que a “comprara”, porque ela achava que fora isso que acontecera, por temor do que o homem poderia fazer, Rosa nem se atrevia a falar.
Quando finalmente saíram do barco, o homem pegou no cesto dela e disse:
-Anda, vamos ter que caminhar ainda um bom bocado. Mas não tenhas medo, já falei com a minha irmã e dormes lá hoje. Amanhã vou procurar uma casinha para os dois e
depois vamos falar com o padre.
depois vamos falar com o padre.
Ela assentiu com a cabeça e começou a segui-lo. Caminhavam por um sítio de terra batida, junto ao mar, mas aquela parte do mar era estranha, pois não tinha água. Ao manifestar a sua estranheza, o homem explicou que aquilo não era mar, era o rio Coina, afluente do Tejo, que a maré estava vazia, e quando a maré vazava só ficava o lodo. Depois, começava a encher de novo e levava seis horas até a água chegar àquela orla por onde caminhavam agora. Com a ingenuidade de uma criança, ela perguntou:
- E para onde vai a água do mar quando vaza?
Ele soltou uma gargalhada e respondeu:
- E alguém sabe?
Depois, talvez para encurtar o caminho, começou a fazer perguntas sobre ela. Donde era, se não tinha família, como é que tinha chegado até ali.
- Por vergonha, ela limitou-se a dizer o nome da sua aldeia e que não tinha ninguém na vida
-Landeira? Mas isso é muito perto da minha aldeia. Eu sou da Trapa, pertencemos ao mesmo concelho.
15 comentários:
Rosa, era o que queria,
antes que fosse tarde
sair de lá melhor seria
amor à primeira vista
poderá ter sido milagre?
Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Como é que isto vai desenvolver-se?!
Já estou ao corrente... Não vejo a razões de escandalizar as pessoas. É tão real como a
Chuva no inverno. Mas quantas raparigas foram servir para Lisboa!
"Kis :=)
Afinal sempre há anjos da guarda!
Será que este "anjo" será o anjo da guarda de Rosa?
Uma história emocionante
Beijinhos,
Ailime
Finalmente algo de menos mau, ele parece ser boa pessoa, espero que o seja mesmo...
um beijinho
De aldeias vizinhas?
Então ele conhece o segredo que ela tanto se esforça por guardar??
Abraço
A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Está a ficar interessante.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
bom dia
os humildes e bons quase sempre são compensados.
todos esperamos que a nossa Rosa venha a ser compensada por todos o males que lhe aconteceram.
JAFR
Bom dia, será que o João é mesmo bondoso? espero que sim.
AG
Rosa está tendo momentos esperançosos... Creio que foram respostas das orações! Deus age surpreendentemente e providencia escapes/livramentos...
Bjs e carinho...
Agora já me lembro desta parte, mas falta-me recordar o resto. Será verdade que o que tens contado escandalizou alguém? Parece impossivel, amiga! Bem, cá fico à espera do resto, e entretanto deixo-te um beijinho e votos de saúde e alegria para todos aí em casa. Até breve!
Emilia
" Para onde vai a água do mar quando vaza ? "
Bendita inocencia.
Que a historia non sexa mui dura con Rosa.
Ainda dizem que não há coincidências
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