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9.5.16

MANEL DA LENHA - PARTE LXVI




A 9 de Março, é decretado estado de prevenção rigorosa em Lisboa, que se estende por três dias. Enquanto isso as forças militares e políticas movimentam-se em sentido contrário, às decisões governamentais.
Dias depois reúne-se em S. Bento a "brigada do reumático". À cerimónia, faltam os chefes militares mais influentes, entre eles, Costa Gomes, Spínola e Silvério Marques. Em consequência, Marcelo demite Costa Gomes e Spínola, e faz mais uma remodelação do governo.
A 16 desse mesmo mês, dá-se o golpe das Caldas. O Regimento de Infantaria 5 subleva-se e sai para a rua, numa tentativa de fazer a revolução. Esperava que outros quartéis em todo o país o seguissem, mas isso não aconteceu. Sem hipótese acabam por se render ao brigadeiro Serrano, segundo comandante da região militar de Tomar. Duzentos militares foram presos, mas a revolução não fora debelada. Fora apenas adiada. Com o tradicional humor português, contava-se por todo o país,  dias depois.
"Lisboa ainda é virgem. O das Caldas não conseguiu entrar"
No final do mês, Marcelo vai ao estádio José Alvalade, assistir ao Sporting - Benfica, e numa impressionante orquestração é intensamente ovacionado. E nesse mesmo dia,  após os incidente no Instituto Superior de Economia, a escola é encerrada.
Na Seca, a safra já terminara. Apesar de haver cerca de metade do pessoal de outrora, ela acabara mais cedo. E isso devia-se a dois factos. O Inverno não fora tão rigoroso como em outros anos, e as máquinas introduzidas.  Na Seca estão agora além do Manel, o pessoal residente na Seca. O armazém está encerrado a maior parte do tempo, e o Manuel junta-se ao restante pessoal, na limpeza e pintura dos grandes armazéns, no roçar das ervas daninhas sob as mesas de arame, onde o bacalhau é estendido, na reparação dos arames partidos, e em tudo o que é necessário para que tudo esteja em ordem quando os navios voltarem. A pouca lenha que sobrou, já está toda transformada em cavacos, e Manuel vai ao armazém uma vez por semana carregar o carro de mão e abastecer as residências. Em Agosto virão as camionetas cheias de grossos troncos de árvores, cortados com aproximadamente um metro de comprimento, que ele terá de empilhar no armazém, para depois transformar em cavacos que alimentarão a seca durante a safra. Para esse trabalho, terá a ajuda da mulher, bem como das outras mulheres residentes na Seca. É uma autentica obra colocar toda a lenha em pilhas até ao tecto, que terão que ficar bem seguras, para não correr o risco de desabarem e ficar soterrado sob elas. Porque alguns dos troncos são bem retorcidos e de difícil encaixe, mas ele não consentia que mais ninguém os empilhasse, porque só confiava no seu trabalho. Assim ele fica no armazém, enquanto as mulheres transportam para dentro os troncos que ele empilha. Quando a pilha, atingia a sua altura, pouco mais de um metro e sessenta, começava outra. Quando a terceira atingia cerca de um metro, uma das mulheres ia para essa pilha, ele para a segunda, e começava a subir  a primeira da seguinte forma. As  mulheres que traziam os troncos para dentro,iam colocando-os na terceira pilha. A mulher que lá estava, ia apanhando-os e passando-os para a segunda pilha, onde o Manuel se encontrava. Este por sua vez, apanhava-os e colocava-os na primeira. Quando subia um bocado, mandava que fosse feita outra pilha, de modo a que os troncos fossem empilhados em escada, e que uma pilha nunca subisse muito sem o apoio da seguinte. 
Era trabalho moroso, e pesado, mas ele tinha que sentir segurança. E nunca teve qualquer acidente nos 44 anos que foi lenhador.

18 comentários:

Edum@nes disse...

Quarenta e quatro anos de lenhador,
com paciência e habilidade bem fazia
porque sabia e ao trabalho tinha amor
por isso é que incidentes não sofria!

Quanto a Marcelo Caetano, andava numa roda viva,
como a galinha, que não sabia onde pôr o ovo
se calhar até queria devolver a liberdade ao povo
tinha sabedoria, mas se calhar como fazê-lo não sabia?

Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

chica disse...

Acontecimentos não faltam e nós te acompanhando! bjs, chica

Gaja Maria disse...

Aquilo é que era arrumar lenha com perícia, faz-me lembrar as pilhas de lenha que meu pai fazia, todas escolhidas ao milimetro :))

Rui disse...

:)) Estou a adorar essa série de textos, que fazem o paralelo entre os factos políticos da época pré revolucionária e da vida familiar e de trabalho do Manel da Lenha (carvalho ? ) :))

... E que bem me recordo de todos esses factos políticos !

Beijinho ! :))

Rogério G.V. Pereira disse...

Diário de Lisboa...
Sabes que trabalhei lá?

Pedro Coimbra disse...

Cheira a tragédia...

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Sou da opinião do amigo Pedro - cheira a tragédia.
Gosto dos relatos históricos.
Um abraço e boa semana.

Blog da Gigi disse...

Ótimo dia!!!!!!!!!! Beijos

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, é bom fazer lembrar aos mais esquecidos o regime que impunha o terror para a maioria do povo, excelente partilha.
AG

Isa Sá disse...

A passar para acompanhar a história.


Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

rosa-branca disse...

Amiga Elvira andei a por a leitura em dia e gostei muito. Espero que nada lhe aconteça, mas cheira-me a algo. Boa semana e beijos com carinho

Andre Mansim disse...

44 anos lenhador? Puxa...
E que riquesa de informações e história heim?
Você deve pesquisar muito para escrever.

Muito bom minha amiga!

Unknown disse...

Elvira, boa noite.
É bom ler os seus textos, como foi bom voltar aos blogues, virei para acompanhar a história.
Beijinho.

Elisa disse...

Costumo ler os seus textos à noite no conforto do sofá depois de um cházinho. Adoro este ritual:)
beijinhos
elisaumarapariganormal.blogspot.pt

Pedro Coimbra disse...

E se lhe dissesse que sou muito amigo de uma das filhas e um dos genros de Silvino Silvério Marques??
Vivem aqui em Macau há muitos anos e são uns bons amigalhaços.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Quantos acontecimentos... e eu seguindo com você.
Bom dia Elvira!
Abraços,
Mariangela

Odete Ferreira disse...

Mas que excelente arquitetura engendrou o Manuel!
Continuando a ler com muito interesse.
Parabéns, Elvira :)

Os olhares da Gracinha! disse...

Relato histórico carregados de histórias...bj