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8.5.16

MANEL DA LENHA PARTE LXV


                A foto da filha e do genro do Manuel com a afilhada

                                                 foto minha


A 25 de Fevereiro de 1974, explode uma granada num café em Bissau. Resultado, um morto e 63 feridos. No dia seguinte Marcelo Caetano recolhe-se no Buçaco. Regressa no fim do mês, é recebido por Américo Tomás e pede-lhe a exoneração, que não é aceite.
O país está sentado sobre uma bomba relógio. Por um lado os militares cansados da guerra querem acabar com ela o mais rápido possível. Por outro a poderosa máquina montada por Salazar e  mantida por Américo Tomás, que quer manter tudo como está a sacrifício da vida do povo que sofre cada vez mais com a repressão, e com a perda dos seus filhos, mortos numa guerra inglória, e por fim com os Movimentos de Libertação, cada vez mais apoiados internacionalmente.
No meio de tudo isto temos um povo, maioritariamente  a caminho da velhice, que viu sair os seus filhos ou para a guerra, ou fugidos de salto para a França, e que nem podia desabafar a sua revolta, sob pena de acabar vendo o sol através das grades do presídio. Manuel era parte integrante deste povo. Com 56 anos, tivera a sorte de ter visto o filho cumprir o serviço militar sem ir à guerra, mas vira alguns amigos perderem os seus filhos, vira  o sobrinho ficar estropiado, e tinha a filha, o genro e um sobrinho por lá que não sabia quando voltariam e se voltariam.
A 5 de Março o Movimento dos Capitães reúne-se em Cascais no estúdio do arquitecto Braula Reis. Melo Antunes apresenta o que seria um esboço do programa.  Elegem como chefes do Movimento, Costa Gomes e Spínola. A comissão militar, fica a cargo de Casanova, Monge e Otelo. Na comissão política, Melo Antunes Victor Alves e Vasco Lourenço.
Poucos dias depois, na intenção de acabar com o movimento, vários dos seus membros são transferidos para outra unidades militares.
E o Manuel recebe carta da filha com as fotos do baptizado da filha da ex-vizinha.


Nota 1 A quem me pediu os nomes das filhas do Manuel, apesar deles serem referenciados nos capítulos a seguir ao seu nascimento, aqui vão de novo.
A mais velha chama-se Elvira, aí está nessa foto 42 anos mais nova.
A segunda filha chama-se Lourdes.




Nota 2
A maioria dos factos que decorrem na época e que achei por bem incluir nesta história de família, são históricos, e para os conseguir servi-me das pesquisas por jornais da época, pelo google, e pelos factos registados no anuário. Porque na época, o Manuel, como a maioria do povo,  não sabia o que se passava para mo relatar depois.

21 comentários:

Olinda Melo disse...


Esses são os dias que prenunciam o fim do regime.
Excelente trabalho de pesquisa, cara Elvira.

Bj
Olinda

Isa Sá disse...

a passar para acompanhar a história e desejar um ótimo domingo!


Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Tintinaine disse...

E viva o velho!
O Domingo vai molhado, mas se o mal for só esse, nada nos impedirá de gozá-lo!

Magia da Inês disse...

✿゚ه° ·.
Lendo seus relatos históricos fica um travo triste... que a história sempre se repete com personagens e tempos diferentes!...
Os franceses chamam de "déjà-vu"?!

Ótimo domingo!!!
Ótima semana!!!

╰⊰✿‿⎠

AC disse...

Uma coisa eu sinto, de forma muito clara: a Elvira tem muito orgulho nas suas memórias. E isso é muito bom!

Um bom domingo :)

Zé Povinho disse...

Passei para continuar a ler e para cumprimentar neste domingo às caretas.
Abraço do Zé

aluap disse...

Infelizmente como bem escreveu houve muita gente que viu os filhos partir para a guerra ou a fugidos a salto para França e que nem podia desabafar a sua revolta.
Eu conheci pessoas que me contaram que para alguns passar a fronteira foi uma brincadeira comparada ao que lhes aconteceu quando chegaram a França e la nem reclamar podiam também porque como não estavam legalizados eram ameaçados pelos franceses que os punham na fronteira. Mas a maioria sobreviveu em nome de um objectivo: dar melhor vida aos filhos e aos netos. Ainda bem.
Parabéns pelo seu trabalho de pesquisa.E, repito: a Elvira tem fotografias antigas muito bonitas.

Os olhares da Gracinha! disse...

Um belo trabalho de pesquisa...e uma bela história de vida!
Adorei...bj

Os olhares da Gracinha! disse...

Um belo trabalho de pesquisa...e uma bela história de vida!
Adorei...bj

Ane disse...

Elvira,você fez um excelente trabalho relatando os eventos históricos junto com a história de sua família.É muito bom te ler.É a vida real sendo escrita.Um abraço!

Elisa disse...

A acompanhar! Uma boa semana querida Elvira
Beijinhos

Edum@nes disse...

Para uns a vida era bela,
tristeza era para outros
por causa daquela guerra,
tantos jovens foram mortos!
Numa terra que não era a sua
por teimosia de ditadores loucos
que pensariam ser donos da lua?

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

manuela barroso disse...

Que tem uma apetência inata para o romance , é incontestável . Mas o trabalho de pesquisa é trabalhoso e árduo . Parabéns Elvira!

Pedro Coimbra disse...

A Revolução estava já muito próxima.
Boa semana

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Já se sente no ar o cheirinho a liberdade.
Um abraço e boa semana.

O meu pensamento viaja disse...

Gosto desta viagem no tempo.
Feliz semana.

Anete disse...

Elvira, gostei da foto, ótima! Cheia de história!!

Você escreve com fatos, pesquisas que tornam seus textos muito reais e interessantes...
Bjs e boa semana...

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Parabéns Elvira, por este lindo trabalho desta bela história, rica em detalhes. Linda foto!
Tudo muito interessante.
Abraços, boa semana!
Mariangela

Odete Ferreira disse...

Uma pausa nesta parte do relato para te dar os parabéns pela apurada pesquisa.
Bjo

Portuguesinha disse...

E disse que não era bonita (ou a mais bonita)... lol.
Era uma brasa! (como se dizia ou se diz ainda, dependendo de quem fala)

É isso e dizer que é quase analfabeta...
Não vejo a Elvira como alguém que se menospreze. Faz tanta coisa, tem capacidade para compreender mais ainda. Além de que escreve com uma capacidade de encaixe boa. O domínio do português clássico pode não estar no texto, mas deixemos isso para os puristas da língua, que esses é que estudaram e privaram com intelectuais para dominarem essa capacidade retórica.

Existe um outro dom na escrita. E a Elvira tem-no. Que é saber contar uma história na qual quem lê fica agarrado a ela, fazer sentir, visualizar... até se identificar e se encontrar a si mesmo nela. E isso a Elvira consegue.

Depois, acho que a simplicidade é encantadora. Na escrita também. Escrita complicada é boa para quem a sabe dominar. Para os que a tentam mimicar é um horror para os sentidos. E para os que a dominam mas o que têm a dizer pouco interesse consegue despertar, um mau casamento.

A autenticidade é sempre o melhor caminho.

Sim, nota-se que fez pesquisa. O que só demonstra empenho e capacidade para escrever histórias. Nenhuma se escreve sem pesquisa :)

Bom fim-de-semana!

PS: a questão dos nomes foi deixada por conjecturar se era intencional. No que respeita a escrever uma história, convém de vez em quando fazer referencia à "personagem" pelo nome. Humaniza-a e facilita a identificação.

Por outro lado, se o foco for intencionalmente o Manuel, então tem o seu quê de interesse não mencionar outros nomes que não o ele. Depende do objectivo.

Assim subitamente recordo-me que um dos romances que gostei de ler e reler - Rebecca, usa magistralmente esse recurso. A personagem principal não tem nome (é chamada pelo do marido, sra de...) e a outra, que ganha força na trama, está morta. Faz todo o sentido que assim seja. Já leu?

Desculpe o longo testamento.
Abraços.

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira
Quanta dor passaram os portugueses na guerra.
Beijos
Minicontista2