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11.11.15

FOLHA EM BRANCO PARTE XXIV



                                                imagem publica


O homem, preocupado, sem saber que fazer, e quase sem tempo para adiar uma resolução, pois a data agendada para a próxima exposição aproximava-se. A jovem, assustada, perdida, sabe-se lá em que infernos interiores, quase não jantaram nessa noite, apesar de toda a simpatia do empregado do restaurante e do belo aspecto do peixe assado pedido para o jantar. Depois em casa, rapidamente a jovem recolheu ao quarto. Mas estranhamente, ou não, a porta do quarto ficou aberta, e a luz acesa, acabando por adormecer assim.
Na sala Miguel continuava perdido nos seus pensamentos, buscando uma solução para o problema em que se tinha metido.
O melhor, cogitou, será levá-la para Lisboa. Lá existem bons psiquiatras, poderá ser tratada lá. Depois se verá. Mas levá-la daqui, que pode ser a sua terra, não será demasiado arriscado? – Interrogava-se.
Por fim tomou uma decisão. No dia seguinte teria uma conversa franca com o médico, e faria o que ele achasse melhor para a jovem, ainda que isso o contrariasse. Mais calmo, preparou-se para dormir. Como a porta do quarto estava aberta e a luz acesa, chamou pela jovem julgando-a acordada. Ela não respondeu. Hesitou, um pouco e depois dirigiu-se ao quarto. Ela dormia, meia destapada, a farta cabeleira espalhada na almofada. Por alguns instantes ficou contemplando-a. A imagem era demasiado bela para o  olhar de qualquer homem, mas Miguel atribuiu a sua admiração ao facto  de ser pintor. Depois suavemente puxou-lhe a roupa para cima, apagou a luz, e saiu do quarto murmurando:
-Tão jovem e tão sofrida!
Acordou perto das onze. Sentou-se no sofá, e enquanto calçava os chinelos, olhou para o quarto. A porta continuava aberta, mas a cama estava feita, pelo que deduziu que a jovem se teria levantado à muito.
Encontrou-a sentada à mesa da cozinha fazendo rabiscos no caderno de desenho. Vestia, umas calças de ganga, e um camiseiro turquesa. O cabelo apanhado numa só trança, caía-lhe sobre o ombro direito.
“Caramba, parece uma miúda”, pensou enquanto saudava:
-Bom dia Mariana. Dormiu bem?
- Bom dia Miguel. Dormi sim. E parece que o Miguel também. Pelo menos quando me levantei, dormia.
- Adormeci tarde, - desculpou-se sorrindo. Bom, vou tomar o meu duche. Temos que almoçar mais cedo, por causa da consulta. Está preparada?
Ela assentiu com a cabeça.
-Ainda bem.
E saiu dirigindo-se à arrecadação junto à casa de banho. 
Dias depois da chegada da jovem, ele  tinha comprado um armário, que mandou colocar na arrecadação, para onde mudou todas as suas roupas. Não tinha lógica, e nem lhe parecia  correto,  ir para o quarto da jovem, sempre que precisava mudar de roupa. 
Mariana fechou o caderno e dirigiu-se à sala. Apanhou a roupa espalhada no chão, sacudiu-a,  dobrou-a cuidadosamente, guardando-a depois no gavetão do sofá. Depois fechou-o e colocou-lhe por cima a manta alentejana, e as almofadas de croché.