Na quinta, Tiago conversava com os pais na grande cozinha, onde eles decidiram que deveriam jantar, por ser mais acolhedora do que a sala de refeições, ter suficiente espaço, e evitar dar trabalho aos dois empregados que passariam a consoada com eles. De resto o doutor Azevedo, e a esposa só se juntariam a eles no dia seguinte para o almoço, já que a consoada, a passariam em casa de filha.
- Confesso que estou muito contente, com a tua evolução, - dizia naquele
momento Armindo, o pai do jovem. – Da última vez que aqui estivemos,
correste connosco de um jeito que a tua mãe chorou o tempo todo.
-Desculpa, pai. Eu sei que não me portei muito bem convosco, mas a falar
verdade, o meu desespero era tão grande, sentia-me tão revoltado, que a única
coisa que desejava era que me deixassem sozinho até que a natureza fizesse a
sua parte e eu deixasse de sofrer. Na verdade, mentalmente eu amaldiçoava os
médicos, que tanto se esforçaram para me fazer viver.
-Um homem nunca deve perder a esperança, filho. Já te olhaste ao espelho? O
teu corpo está bem mais forte, e com a continuação dos tratamentos tenho a
certeza de que voltarás a andar. Depois ficarão apenas as cicatrizes, para
recordar-te o que te aconteceu e para te lembrar que não é preciso ires para
sítios longínquos, onde a paz está tão ausente como o alimento, para ajudares
os outros. Aqui no nosso país, há infelizmente muita gente que tem de escolher
entre a saúde e a comida.
-Além disso, - acrescentou a mãe, voltando-se para o filho, mostrando que estava
atenta à conversa embora os dois pensassem, que estava distraída com a conversa
da empregada. Está na hora de arranjares uma boa rapariga, e formares o teu
lar. Quando somos jovens pensamos sempre que o tempo passa devagar demais para
os nossos desejos. Não é verdade, a vida é curta, passa a correr e quando deres
por isso estás demasiado velho para formares um lar.
-Vamos deixar essa conversa de casamento para outro dia, -protestou o
jovem.
- Eu sei que sofreste um desgosto com a Sandra, mas nem todas as mulheres
são tão frívolas e egoístas como ela. A tua enfermeira por exemplo, é uma
mulher muito interessante e segundo o teu tio é uma ótima profissional e uma excelente
moça.
- Mãe, em primeiro lugar, uma boa profissional não se envolve com o seu
doente. É eticamente incorreto. Segundo, a Anabela tem tantas ou mais cicatrizes que eu para curar. E,
como deves saber as Cicatrizes da alma, não desaparecem nas mãos de qualquer
cirurgião plástico. Terceiro, acho que está na hora de me recolher, a noite vai
longa e a cadeira de rodas não é o assento mais confortável do mundo.
-Sei. Tu queres é fugir da conversa. Mas tudo bem, não volto a falar do
assunto, todavia não posso prometer que não voltarei a ele. O meu maior
desgosto será chegar ao fim dos meus dias e saber que vou partir e te deixo
sozinho.
-Por favor, querida. Hoje não é noite para falar de partidas. Vamos falar
de coisas alegres, ou recolher à cama se o cansaço começa a tomar conta de nós.
-Boa noite a todos, - despediu-se Tiago enquanto dava a volta à cadeira e
se dirigia para o quarto seguido pelo Joaquim.
8 comentários:
Com esses empurrões não há coração por mais empedernido que resista.
Boa semana
Olá! Já temos uma casamenteira em campo, a coisa promete!
Boa semana, Elvira!
O jovem vai melhorando e ficará bem bom e as coisas terão seus rumos. Muito bem bolado o conto,Elvira! beijos, linda semana, chica
As Mães, no seu afã de verem os filhos felizes, acabam por falar demais e cortam logo o fio da conversa. Eu sei bem como é...sou igual!
Um abraço e boa semana, Elvira.
É verdade, um técnico de saúde não se envolve emocionalmente com um paciente seu. Seria eticamente incorrecto.
Um grande abraço, minha amiga!
Mais um maravilhoso episodio :)
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Carrossel de emoções ...
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Beijo. Uma excelente semana.
Boa tarde Elvira,
Grandes progressos já fez Tiago.
Sobre a vida sentimental lá chegará a hora;))!!
Beijinhos e saúde.
Ailime
Preocupações de mãe...
Beijo.
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