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5.1.22

OS MAGOS QUE NÃO CHEGARAM A BELÉM III - LUÍSA DACOSTA

 


— Regressar?! E a Luz que vínhamos a seguir? — protestou o mais novo, para quem era doloroso, depois de tantos trabalhos e canseiras, não levar a cabo o que se tinha proposto. — Desistimos assim da Luz que nos guiou até aqui? Desistimos, agora, quando estávamos já perto?

— Compreendo o que sentes, irmão, também já fui novo… Mas há a criança. Como poderemos abandoná-la?

— Sim… há a criança — e também o mais novo, que tanto se tinha esforçado por alimentá-la, se inclinou e sorriu para vê-la dormir.

— A Luz que vínhamos a seguir — ponderou ainda o mais velho — não poderá ser ocultada e dela teremos notícia. Lembremo-nos de que a Luz ilumina e nem mesmo as trevas podem escondê-la para sempre. O nosso caminho é o do regresso e será longo, pois teremos de nos revezar com a criança nos braços, embora seja já uma bênção termos a graça de um alimento que ainda sobrará para um gole de sede nosso. Descansemos, agora, enquanto dorme.

— Tens com certeza razão — concordou o mais novo, que também não se sentia capaz de recusar a criança, presente da noite santa e, quem sabe, daquela misteriosa Luz.

O braseiro consumia-se, lento, perfumado pelo açúcar dos figos assados nas brasas. A ovelha deitara-se junto da criança, aninhando-a na sua lã, também ela apaziguada, como se tivesse recuperado a sua cria. Uma paz despetalava-se no silêncio da noite e caía sobre a gruta.

Esta foi a história. Não adoraram o Messias, salvador, o que devia chegar para que a paz e a justiça florissem até ao fim das luas, o que teria compaixão do fraco e do pobre e havia de lançar a sua bênção sobre todas as raças, povos e línguas. O anjo do Senhor não lhes apareceu, nem foram envolvidos na sua claridade. Não ouviram cantar: «Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade».

Mas tinham vivido o Amor, essência daquela doutrina que ainda não tinha sido pregada e ninguém registara ainda. No mais íntimo dos seus corações tinham sentido aquela verdade: «O que fizerdes ao mais pequeno e ao mais ínfimo a Mim o fareis». E naquela noite, em que os animais falaram, as flores abriram o esplendor das suas pétalas nas trevas como se as entregassem à luz do meio-dia, e as pedras puderam deslocar-se para se dessedentarem nos regatos mais próximos, adormeceram com a criança aconchegada entre eles.

Longe, a estrela fazia descer a sua cascata de fogo sobre Belém de Judá.

Luísa Dacosta
Natal com Aleluia

Porto, Ed. ASA, 2002
Adaptação

6 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Uma versão alternativa e muito bonita.

rere disse...

Thanks for sharing

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Tintinaine disse...

Vamos a meio da primeira semana do ano, ainda faltam 360 dias para o fim, um longo caminho. O que nos acontecerá durante essa caminhada só Deus sabe!
Bom dia!

Cidália Ferreira disse...

Mais um conto muito bonito!! :))
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Sentimentos escondidos na palavras
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Bom Ano. Beijos.

Emília Pinto disse...

Que lindo, Elvira! Um conto que bem pode ser aquele que conhecemos, não é verdade? Aqui, só faltam a Maria e o José que bem poderiam ter ido procurar alimentos. Nunca se sabe!!! Só sei que adorei! Espero que estejas bem e que, neste ano, os teus problemas de saúde se resolvam. Beijinhos
Emilia

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Continuando a ler esta bela história que me tem agradado imenso.
Um beijinho,
Ailime