A mulher que caminhava pela praia naquele entardecer, era muito bonita, mas trazia nos olhos uma tristeza, que parecia impossível de esconder. Ali perto, duas crianças brincavam na areia, enquanto a mãe sacudia a toalha e a metia no saco, dando por findo aquele dia de praia.
Ela porém, nem se apercebia do que se passava à sua volta. Parecia perdida num outro mar, que não aquele que suavemente lhe beijava os pés. Um mar de recordações.
Fora num fim de tarde assim, que conhecera Eduardo.
Ela caminhava pelo parque da cidade, olhando embevecida as crianças que brincavam no escorrega, fazendo grande algazarra. As flores, impregnavam o ar com um intenso, mas agradável aroma.
Rita, ia tão absorta, que não viu aquela raiz, na qual foi tropeçar, saindo projetada para...os braços dele. Sim porque fora ele. que por ali passava e a segurara, quando se apercebeu que ela ia cair.
Rita sentiu o olhar intenso e trocista do homem, e sentiu-se envergonhada, mas coisa esquisita, sentiu uma estranha sensação de felicidade. Agradeceu sentindo-se corar sob o olhar masculino.
Eduardo pelo contrário parecia divertido com a sua atrapalhação. E depois de algumas palavras que ela quase não escutou, combinaram encontrar-se no dia seguinte. Naquela noite, o sono tardou para Rita.
Ela não conseguia esquecer o desconhecido do parque. E só nessa altura se deu conta que tinha esquecido de perguntar o seu nome. Que faria ele no parque? Passaria ali por um acaso, e a vida teria caprichado naquele tropeço, para que se conhecessem? E se assim era qual iria ser o seu papel na vida dela? Era bonito, pensava ela. E dava voltas na cama, ansiando pelo nascimento do novo dia.
Pobre Rita! Se ela soubesse o quanto ia sofrer por aquele homem, teria sufocado a sua lembrança, e nunca teria voltado ao parque, para o encontro. Mas ela era muito jovem, tinha a cabeça cheia de sonhos românticos, e ansiava pelo amor.
No início Eduardo parecia ser o homem dos seus sonhos. E o que começou com uma amizade, não tardou em transformar-se numa intensa paixão. Ela vivia cada beijo, cada instante, sentindo-se a mulher mais feliz e mais amada da terra.
Casaram num dia de sol em pleno mês de Maio. Eduardo não quis casar na igreja, e isso foi uma pequena nuvem a ensombrar a felicidade de Rita, cuja fé lhe pedia a bênção no altar. Porém em breve essa contrariedade deixou de ter significado, ultrapassada por outras bem maiores.
Três dias, durou a lua de mel.
Três dias como o Carnaval. Carnaval! Estranha associação, pensava enquanto continuava caminhando pela praia solitária.
Mas a verdade é que ao fim de três dias, a ternura dera lugar à prepotência, os beijos, às palavras duras, e sarcásticas. Menos de um mês depois, começaram as ameaças. Começou a pensar, que o homem com quem se casara, era um desconhecido, que usara uma máscara, pela qual ela se apaixonara. Como fora possível iludir-se assim?
Nunca mais saíram juntos. Ele saía depois do jantar e voltava tarde da noite, algumas vezes dormia fora, e chegava a casa a cheirar a perfume barato.
Mas apesar da sua juventude, Rita era uma mulher de coragem e substituído o amor pela desilusão, decidiu pôr um ponto final no casamento.
E naquela tarde, passeava junto ao mar, a sua falsa liberdade.
Falsa sim, porque se o divórcio a libertara do casamento, não levara do seu peito, a desilusão e a dor, nem do seu cérebro a amarga recordação do que fora a sua vida durante o casamento.
11 comentários:
Que triste quando o amor acaba assim... Maldito aquele tronco que a fez conhecer esse homem... beijos, lindo dia! chica
Estranho, ou talvez não, parece-me familiar este texto! É uma reedição?
Um Conto que espelha a vida de muitas mulheres.
Gostei muito.
Beijo
Olinda
Parabéns para a Rita que teve discernimento, a dor que vive agora o tempo esfumará. cOMO SE DIZ: Antes só que mal acompanhada/o.
Bom dia, Elvira
Que bom lê-la de novo
Beijinhos
Será que vai tropeçar novamente noutra raiz? Será que lhe vai surgir um novo amor. Infelizmente existem muitos amores que acabam porque nunca foram verdadeiros.
Cumprimentos poéticos
Gostei do episódio! Obrigada :)
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Existem silêncios que atropelam ...
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Beijo e uma excelente tarde!
O que me parece inverosímil é o facto da Rita ter obtido o divórcio, sem que o marido tirano tivesse aprontado alguma.
Dizer NÃO, nessas circunstâncias é que custa e, por vezes, não se consegue à primeira.
Um abraço, Elvira.
Lindíssimo texto e muito emocionante.
Beijinhos. Boa noite
Identifiquei-me nestas palavras que não me são estranhas. Disse igualmente BASTA e não voltei atrás. Pena é que muitas mulheres "aprisionadas" não o consigam fazer.
Beijos e um bom dia com o desejo das tuas melhoras
Boa tarde Elvira,
Um conto muito bonito e bem escrito.
Pena o desfecho com a maldade daquele homem.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Boa noite de muita paz, querida amiga Elvira!
Um texto com base numa realidade cruel que tem muita incidência atualmente por aqui
Há marcas da alma que jamais se apagam quando um relacionamento é motivo de grande decepção e tristeza.
Citei você no meu blog de Espiritualidade.
Há muitos casos assim de príncipes que se tornam sapo, chegando até ao feminicídio, inclusive.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos carinhosos de gratidão e estima
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