Gonçalo quase não dormira naquela noite. Levantou cedo,
tomou banho vestiu umas calças de ganga e uma camisa branca e saiu. Parou no
quiosque e comprou o jornal do dia, dirigindo-se em seguida para o
café-pastelaria do bairro, onde diariamente tomava o pequeno-almoço.
-Bom dia, António, - saudou ao entrar no estabelecimento
quase vazio aquela hora, porque era sábado. Aos outros dias começava a encher a
partir das seis da manhã.
- Bom dia doutor – respondeu o jovem por trás do balcão.
Sentou--se numa mesa perto do balcão, e abriu o jornal, a
fim de se pôr a par das notícias do dia.
--Bom dia, doutor. Então o que vai ser hoje?
Levantou os olhos do jornal e fixou-os na jovem grávida à
sua frente. Tinha um ar cansado.
-Bom dia, Idália. Está com um ar cansado. Deve estar quase
no fim do tempo, não devia levar tantas horas de pé. Não é bom para si nem para
o bebé.
- Eu sei, doutor. Mas o António sozinho não consegue fazer
tudo e de momento não podemos manter uma empregada. Precisamos pagar logo a
hipoteca ao banco.
Gonçalo, olhou a jovem com pena. Com uma gravidez quase no
fim do tempo, devia ser muito difícil para ela continuar a atender os clientes,
praticamente todo o dia de pé, com os dias de calor fora de época que se tinham
instalado há quase uma semana.
-Traga—me então o mesmo de sempre.
Ela afastou-se e ele ficou a pensar como podia ajudar os
dois jovens, sem que eles se sentissem humilhados. Desde que viera para Lisboa
que habitualmente tomava ali o dejejum antes de ir para o hospital.
Gostava do casal, eram educados e trabalhadores e de algum
modo gostaria de ajudá-los, mas ainda não lhe ocorrera uma maneira de o fazer.
Talvez se falasse com a irmã ela tivesse uma ideia. Era isso. No dia seguinte,
falaria com a irmã. Desde que ela enviuvara e desde que ele não estivesse de
serviço no hospital, sempre passava os domingos com a irmã. Enquanto pensava numa
possível solução, Idália voltou e colocou na sua frente a sandes mista e o copo
de café com leite que constituíam o seu habitual pequeno almoço.
Agradeceu à jovem, enquanto dobrava o jornal e o colocava
de lado para iniciar a refeição. Olhou o
relógio. Oito horas e trinta e cinco. Era cedo ainda. Ele não chegaria ao
hospital antes das dez, pois sabia que as manhãs eram complicadas para as
enfermeiras e auxiliares com a higiene dos doentes, os pequenos almoços, as
trocas de roupas de cama e limpeza do espaço.
Antes das dez e meia, ele não poderia ter um bocadinho de
tempo com a menina. E ele queria vê-la, conversar um pouco com ela, embora
não soubesse muito bem o que esperaria encontrar nessa visita.
Contrariamente ao que o amigo lhe aconselhara na véspera,
não iria fazer qualquer recolha de saliva ou mesmo procurar algum cabelo caído
na almofada para pedir um exame de ADN. Apesar de não lhe ter passado pela
cabeça que a criança fosse sua filha até que Fernando o tivesse dito, agora
essa possibilidade não lhe saía da cabeça. Mas apesar disso ele não
era capaz de pedir um exame de ADN sem falar com a mãe dela primeiro.
16 comentários:
Será que cede à tentação?
Bom dia
Fazer o teste ADN sem falar com a mãe, não era uma grande solução.
JR
Vai correr tudo bem, como se diz quando uma pessoa está doente. E ele está doente, não fisicamente, mas ...!
Boa quarta-feira com chuva e trovoada (pelo menos por aqui)!!!
Essa dúvida é triste,mas creio logo será resolvida...beijos, chica
UI! A VER VAMOS COMO A PROTAGONISTA REAGE À CONVERSA QUE SE PREPARA...
FORTE ABRAÇO, AMIGA!
A mexer com a imaginação e interrogação. O que irá acontecer a seguir?
Cumprimentos
Impôs-se o caracter, gostei :)
Bom dia, Elvira
O melhor, realmente, é evitar mais complicações.
Um beijinho, Elvira.
Um teste de ADN, sem que a outra parte saiba pode complicar as coisas!:)
*
Pensamento que enaltece ...
-
Beijos e um excelente dia! :)
Acho que Gonçalo, quanto ao exame de ADN, tomou a decisão correta!
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.
Boa noite Elvira,
Um bonito episódio que comprova o bom caráter de Gonçalo.
Vamos ver como decorrerá a conversa que terá com a mãe de sua filha.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Passando para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Gosto da maneira de ser e pensar do nosso herói.
Se a conversa for franca, de olhos nos olhos, nem será preciso efectuar teste algum. Resta saber como se vai desenrolar a conversa entre as partes interessadas.
«Isto« também não pode ir com muita pressa, há que criar suspense.
Um abraço, Elvira.
O Gonçalo continua a marcar pontos...
E eu continuo encantada com o enredo desta história.
Beijo.
O Gonçalo é mesmo um homem íntegro, gosto do caminho que está a seguir.
Um abraço e muita saúde, Elvira.
O Gonçalo é mesmo um homem íntegro, gosto do caminho que está a seguir.
Um abraço e muita saúde, Elvira.
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