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16.6.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE XX

 


Gonçalo quase não dormira naquela noite. Levantou cedo, tomou banho vestiu umas calças de ganga e uma camisa branca e saiu. Parou no quiosque e comprou o jornal do dia, dirigindo-se em seguida para o café-pastelaria do bairro, onde diariamente tomava o pequeno-almoço.

-Bom dia, António, - saudou ao entrar no estabelecimento quase vazio aquela hora, porque era sábado. Aos outros dias começava a encher a partir das seis da manhã.

- Bom dia doutor – respondeu o jovem por trás do balcão.

Sentou--se numa mesa perto do balcão, e abriu o jornal, a fim de se pôr a par das notícias do dia.

--Bom dia, doutor. Então o que vai ser hoje?

Levantou os olhos do jornal e fixou-os na jovem grávida à sua frente. Tinha um ar cansado.

-Bom dia, Idália. Está com um ar cansado. Deve estar quase no fim do tempo, não devia levar tantas horas de pé. Não é bom para si nem para o bebé.

- Eu sei, doutor. Mas o António sozinho não consegue fazer tudo e de momento não podemos manter uma empregada. Precisamos pagar logo a hipoteca ao banco.

Gonçalo, olhou a jovem com pena. Com uma gravidez quase no fim do tempo, devia ser muito difícil para ela continuar a atender os clientes, praticamente todo o dia de pé, com os dias de calor fora de época que se tinham instalado há quase uma semana.

-Traga—me então o mesmo de sempre.

Ela afastou-se e ele ficou a pensar como podia ajudar os dois jovens, sem que eles se sentissem humilhados. Desde que viera para Lisboa que habitualmente tomava ali o dejejum antes de ir para o hospital.

Gostava do casal, eram educados e trabalhadores e de algum modo gostaria de ajudá-los, mas ainda não lhe ocorrera uma maneira de o fazer. Talvez se falasse com a irmã ela tivesse uma ideia. Era isso. No dia seguinte, falaria com a irmã. Desde que ela enviuvara e desde que ele não estivesse de serviço no hospital, sempre passava os domingos com a irmã. Enquanto pensava numa possível solução, Idália voltou e colocou na sua frente a sandes mista e o copo de café com leite que constituíam o seu habitual pequeno almoço.

Agradeceu à jovem, enquanto dobrava o jornal e o colocava de lado para iniciar a refeição.  Olhou o relógio. Oito horas e trinta e cinco. Era cedo ainda. Ele não chegaria ao hospital antes das dez, pois sabia que as manhãs eram complicadas para as enfermeiras e auxiliares com a higiene dos doentes, os pequenos almoços, as trocas de roupas de cama e limpeza do espaço.

Antes das dez e meia, ele não poderia ter um bocadinho de tempo com a menina. E ele queria vê-la, conversar um pouco com ela, embora não soubesse muito bem o que esperaria encontrar nessa visita.

Contrariamente ao que o amigo lhe aconselhara na véspera, não iria fazer qualquer recolha de saliva ou mesmo procurar algum cabelo caído na almofada para pedir um exame de ADN. Apesar de não lhe ter passado pela cabeça que a criança fosse sua filha até que Fernando o tivesse dito, agora essa possibilidade não lhe saía da cabeça. Mas apesar disso ele não era capaz de pedir um exame de ADN sem falar com a mãe dela primeiro.

 

16 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Será que cede à tentação?

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Fazer o teste ADN sem falar com a mãe, não era uma grande solução.

JR

Tintinaine disse...

Vai correr tudo bem, como se diz quando uma pessoa está doente. E ele está doente, não fisicamente, mas ...!
Boa quarta-feira com chuva e trovoada (pelo menos por aqui)!!!

chica disse...

Essa dúvida é triste,mas creio logo será resolvida...beijos, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

UI! A VER VAMOS COMO A PROTAGONISTA REAGE À CONVERSA QUE SE PREPARA...

FORTE ABRAÇO, AMIGA!

" R y k @ r d o " disse...

A mexer com a imaginação e interrogação. O que irá acontecer a seguir?

Cumprimentos

noname disse...

Impôs-se o caracter, gostei :)

Bom dia, Elvira

Maria Dolores Garrido disse...

O melhor, realmente, é evitar mais complicações.
Um beijinho, Elvira.

Cidália Ferreira disse...

Um teste de ADN, sem que a outra parte saiba pode complicar as coisas!:)
*
Pensamento que enaltece ...
-
Beijos e um excelente dia! :)

Edum@nes disse...

Acho que Gonçalo, quanto ao exame de ADN, tomou a decisão correta!

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um bonito episódio que comprova o bom caráter de Gonçalo.
Vamos ver como decorrerá a conversa que terá com a mãe de sua filha.
Beijinhos e saúde.
Ailime

Isa Sá disse...

Passando para acompanhar a história.
Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Janita disse...

Gosto da maneira de ser e pensar do nosso herói.
Se a conversa for franca, de olhos nos olhos, nem será preciso efectuar teste algum. Resta saber como se vai desenrolar a conversa entre as partes interessadas.
«Isto« também não pode ir com muita pressa, há que criar suspense.

Um abraço, Elvira.

teresadias disse...

O Gonçalo continua a marcar pontos...
E eu continuo encantada com o enredo desta história.
Beijo.

Fê blue bird disse...

O Gonçalo é mesmo um homem íntegro, gosto do caminho que está a seguir.

Um abraço e muita saúde, Elvira.

Fê blue bird disse...

O Gonçalo é mesmo um homem íntegro, gosto do caminho que está a seguir.

Um abraço e muita saúde, Elvira.