Às vinte horas, Helena despediu-se da filha que dormia, com
um beijo na testa e saiu, depois da enfermeira lhe ter entregue um cartão de
Pessoa Significativa que lhe permitiria visitar a filha a partir das treze
horas, do dia seguinte e não ter que esperar pela hora normal das visitas que
era bem mais tarde.
Ao entregar-lhe o
cartão a enfermeira disse-lhe:
-É melhor ligar para cá antes de vir, o tempo de
internamento nos casos de apendicectomias laparoscópicas, quando não surge
qualquer complicação é de vinte e quatro horas. A ronda médica é por volta do
meio dia, e se tudo estiver como se espera, ela terá alta, e sairá na hora das
visitas. Se telefonar antes já saberá se deve ou não trazer a roupa dela, mas
não ligue antes da uma.
-Deixei-lhe o
telemóvel. Vou ligar de manhã para saber como passou a noite e como não sei a
que horas o médico a observará, venho às treze e trago-lhe uma muda de roupa.
Dirigiu-se ao parque de estacionamento, onde deixara o
carro, lançou o saco com a roupa da filha para o banco traseiro e sentou—se ao
volante. Pôs o veículo em movimento, e dirigiu-se a casa. Sentiu uma pontada no
estômago e só então se lembrou de que não comera nada desde o pequeno almoço.
Comprou uma piza a caminho de casa. Sabia que tinha de
comer, mas não tinha vontade de cozinhar. Sentia-se muito cansada, física e
psicologicamente. Não lhe saía da cabeça a conversa do Gonçalo. Por muito estranho que lhe parecesse, podia
jurar que ele não só, não a reconhecera, como não tinha qualquer lembrança
dela.
Por outro lado, agora sabia onde a filha fora buscar o seu
tom de pele, e a cor dos seus olhos. A semelhança com a tia era assombrosa. No
seu breve e intenso namoro, Gonçalo tinha-lhe falado dos pais, e da irmã, porém
ou porque não tinha com ele qualquer fotografia ou por outro qualquer motivo,
ela nunca imaginou que a família dele, não fosse morena como ele.
Acabava de jantar quando o telemóvel tocou. Atendeu. Era a
mãe.
- Estou, mãe, não esperava a tua chamada hoje. Aconteceu
alguma coisa?
- Não, filha. Acabei de falar com o teu irmão e deu-me
saudades vossas. Depois de amanhã é Domingo de Ramos, temos a procissão e como
dissestes que vêm passar a semana da Páscoa, lembrei-me que podiam vir amanhã e
íamos juntas à procissão.
-Não mãe, provavelmente só poderemos ir na segunda feira.
Para que a agência fique fechada uma semana, precisamos dar andamento a alguns
assuntos que não podem ser adiados.
Estava a mentir, mas não ia dizer aos pais que a neta
estava no hospital para que ficassem preocupados.
- E a Matilde? Hoje não quer falar com a avó?
- Não está, mãe. Hoje foi passar a noite com a Madrinha. Amanhã
eu digo-lhe que telefonaste, não te preocupes. Beijos.
Desligou e de seguida ligou para Rita.
- Desculpa, -disse assim que a amiga atendeu – vi que
estavas a ligar, mas estava ao telefone com a minha mãe.
- Contaste-lhe da Matilde? - perguntou Rita.
- Não queria que ficassem preocupados. Disse—lhe que ela
estava em tua casa.
- Já me disseste que a cirurgia correu bem, mas como estava
a Matilde quando saíste?
- A dormir tranquilamente. Em princípio deve ter alta
amanhã. Olha Rita aconteceu uma coisa estranhíssima, que preciso de te contar.
Queres vir amanhã tomar o pequeno almoço comigo? Sei que é sábado, o Inácio
está em casa, mas eu preciso mesmo de desabafar. Se ele quiser podem vir os
dois.
- A que horas? – perguntou Rita
- Não sei. Decide tu. Eu só vou para o hospital perto da
uma.
- Às dez. Se estiver bem para ti, para mim é boa hora.
-OK! Às dez então.
14 comentários:
E não tarda muito e as coisas se esclarecerão para o bem de todos. Espero que o teu tratamento esteja a dar certo e que melhores. Isso é muito mais importante que a história. Boa noite, Amiga! Dá noticias, sim? Um beijinho
Emilia
Parece que tudo vai sair a contento, Elvira
A filha vai ser o gatilho para a amnésia do pai , espero que sim!
um abraço
_e que estejas se recuperando bem.
O que se chama uma mentira piedosa.
Bfds
Muito bem, ficaremos aqui sentadinhos até segunda-feira para saber como correu a conversa, muito embora não seja difícil de adivinhar.
Bom fim de semana!!!
Continuo a acompanhar com interesse.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
A história desenrola-se a caminho do encontro, acho eu, que a escritora é mestre em pregar partidas. :)
Bom dia, Elvira
Elvira sabe nos prender com cada detalhe no enredo... Gostando muito! beijos, espero estejas cada dia melhor! chica
Amanhã Rita vai a casa de Helena tomar o pequeno-almoço com ela. Para ela contar à amiga que se encontrou com o Gonçalo. E, até lá o que mais, ainda, poderá acontecer?
Tenha um bom dia, com saúde e alegria, amiga Elvira. Um abraço.
Estou a gostar, sim senhora :)
Fico contente por tudo indicar que não me enganei quando, no início da história, tomei a defesa de Gonçalo :)
Um grande abraço, Elvira!
Passando, lendo, e desejando as suas rápidas melhoras.
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Votos de um dia feliz
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Uma vez mais... encantada com a história.
Beijo Elvira, continuação de boas melhoras.
Boa noite Elvira,
A história está linda de modo a prender-nos à sua leitura.
Estou a gostar imenso.
Beijinhos e continuação de boas melhoras.
Ailime
A amiga é muito importante nesta relação com o Gonçalo.
Gosto imenso da sua escrita, Elvira, fluida e bem cativante.
Um abraço apertado.
A história/estória melhora a cada capítulo. Continuo acompanhando e gostando.
Abraços,
Furtado
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