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4.6.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE XV

 


Às vinte horas, Helena despediu-se da filha que dormia, com um beijo na testa e saiu, depois da enfermeira lhe ter entregue um cartão de Pessoa Significativa que lhe permitiria visitar a filha a partir das treze horas, do dia seguinte e não ter que esperar pela hora normal das visitas que era bem mais tarde.

Ao  entregar-lhe o cartão a enfermeira disse-lhe:

-É melhor ligar para cá antes de vir, o tempo de internamento nos casos de apendicectomias laparoscópicas, quando não surge qualquer complicação é de vinte e quatro horas. A ronda médica é por volta do meio dia, e se tudo estiver como se espera, ela terá alta, e sairá na hora das visitas. Se telefonar antes já saberá se deve ou não trazer a roupa dela, mas não ligue antes da uma.

 -Deixei-lhe o telemóvel. Vou ligar de manhã para saber como passou a noite e como não sei a que horas o médico a observará, venho às treze e trago-lhe uma muda de roupa.

Dirigiu-se ao parque de estacionamento, onde deixara o carro, lançou o saco com a roupa da filha para o banco traseiro e sentou—se ao volante. Pôs o veículo em movimento, e dirigiu-se a casa. Sentiu uma pontada no estômago e só então se lembrou de que não comera nada desde o pequeno almoço.

Comprou uma piza a caminho de casa. Sabia que tinha de comer, mas não tinha vontade de cozinhar. Sentia-se muito cansada, física e psicologicamente. Não lhe saía da cabeça a conversa do Gonçalo.  Por muito estranho que lhe parecesse, podia jurar que ele não só, não a reconhecera, como não tinha qualquer lembrança dela.

Por outro lado, agora sabia onde a filha fora buscar o seu tom de pele, e a cor dos seus olhos. A semelhança com a tia era assombrosa. No seu breve e intenso namoro, Gonçalo tinha-lhe falado dos pais, e da irmã, porém ou porque não tinha com ele qualquer fotografia ou por outro qualquer motivo, ela nunca imaginou que a família dele, não fosse morena como ele.

Acabava de jantar quando o telemóvel tocou. Atendeu. Era a mãe. 

- Estou, mãe, não esperava a tua chamada hoje. Aconteceu alguma coisa?

- Não, filha. Acabei de falar com o teu irmão e deu-me saudades vossas. Depois de amanhã é Domingo de Ramos, temos a procissão e como dissestes que vêm passar a semana da Páscoa, lembrei-me que podiam vir amanhã e íamos juntas à procissão.

-Não mãe, provavelmente só poderemos ir na segunda feira. Para que a agência fique fechada uma semana, precisamos dar andamento a alguns assuntos que não podem ser adiados.

Estava a mentir, mas não ia dizer aos pais que a neta estava no hospital para que ficassem preocupados.

- E a Matilde? Hoje não quer falar com a avó?

- Não está, mãe. Hoje foi passar a noite com a Madrinha. Amanhã eu digo-lhe que telefonaste, não te preocupes. Beijos.

Desligou e de seguida ligou para Rita.

- Desculpa, -disse assim que a amiga atendeu – vi que estavas a ligar, mas estava ao telefone com a minha mãe.

- Contaste-lhe da Matilde? - perguntou Rita.

- Não queria que ficassem preocupados. Disse—lhe que ela estava em tua casa.

- Já me disseste que a cirurgia correu bem, mas como estava a Matilde quando saíste?

- A dormir tranquilamente. Em princípio deve ter alta amanhã. Olha Rita aconteceu uma coisa estranhíssima, que preciso de te contar. Queres vir amanhã tomar o pequeno almoço comigo? Sei que é sábado, o Inácio está em casa, mas eu preciso mesmo de desabafar. Se ele quiser podem vir os dois.

- A que horas? – perguntou Rita

- Não sei. Decide tu. Eu só vou para o hospital perto da uma.

- Às dez. Se estiver bem para ti, para mim é boa hora.

-OK! Às dez então.

14 comentários:

Emília Pinto disse...

E não tarda muito e as coisas se esclarecerão para o bem de todos. Espero que o teu tratamento esteja a dar certo e que melhores. Isso é muito mais importante que a história. Boa noite, Amiga! Dá noticias, sim? Um beijinho
Emilia

lis disse...

Parece que tudo vai sair a contento, Elvira
A filha vai ser o gatilho para a amnésia do pai , espero que sim!
um abraço
_e que estejas se recuperando bem.

Pedro Coimbra disse...

O que se chama uma mentira piedosa.
Bfds

Tintinaine disse...

Muito bem, ficaremos aqui sentadinhos até segunda-feira para saber como correu a conversa, muito embora não seja difícil de adivinhar.
Bom fim de semana!!!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar com interesse.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

noname disse...

A história desenrola-se a caminho do encontro, acho eu, que a escritora é mestre em pregar partidas. :)

Bom dia, Elvira

chica disse...

Elvira sabe nos prender com cada detalhe no enredo... Gostando muito! beijos, espero estejas cada dia melhor! chica

Edum@nes disse...

Amanhã Rita vai a casa de Helena tomar o pequeno-almoço com ela. Para ela contar à amiga que se encontrou com o Gonçalo. E, até lá o que mais, ainda, poderá acontecer?

Tenha um bom dia, com saúde e alegria, amiga Elvira. Um abraço.

Maria João Brito de Sousa disse...

Estou a gostar, sim senhora :)

Fico contente por tudo indicar que não me enganei quando, no início da história, tomei a defesa de Gonçalo :)

Um grande abraço, Elvira!

" R y k @ r d o " disse...

Passando, lendo, e desejando as suas rápidas melhoras.
.
Votos de um dia feliz
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

teresadias disse...

Uma vez mais... encantada com a história.
Beijo Elvira, continuação de boas melhoras.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
A história está linda de modo a prender-nos à sua leitura.
Estou a gostar imenso.
Beijinhos e continuação de boas melhoras.
Ailime

Fê blue bird disse...

A amiga é muito importante nesta relação com o Gonçalo.

Gosto imenso da sua escrita, Elvira, fluida e bem cativante.

Um abraço apertado.

Rosemildo Sales Furtado disse...

A história/estória melhora a cada capítulo. Continuo acompanhando e gostando.

Abraços,

Furtado