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18.1.21

SONHO AO LUAR - PARTE V

 





Ferveu o leite, fez o café, pôs manteiga nas torradas, e finalmente sentou-se em frente à avó. Comeram em silêncio, a jovem não se atrevia a dizer à idosa, o que tão bem planeara à noite. Quando acabaram, a avó colocou a sua enrugada mão sobre a dela, e disse com ternura:

- Vá lá filha, desembucha. Ou corres o risco de sofrer uma indigestão.
- Como é que sabes que te quero dizer alguma coisa?
- Olha, Isabel, eu sou velha, mas não sou cega. Sei que ficaste abalada com o que te contei ontem, sobre o Hélder. Também ainda conservo a minha memória e lembro-me bem como vocês foram inseparáveis noutros tempos. Depois não sei o que se passou, mas os dois fugiram. Tu levaste cinco anos sem voltares, ele levou dez. 

-Nunca te perguntei nada, mas não é preciso ser muito esperta para saber que alguma coisa se passou entre vós. Talvez não saibas, mas sempre que estava por cá, ele vinha-me visitar, fazia-me um bocado de companhia ao serão e eu gostava de conversar com ele. Era como um neto. Esteve ausente, dez anos, voltou e não me veio ver, uma única vez. Pode ser que seja por amargura, por estar cego. Mas pode ser por algo mais que só vocês saberão. E então, agora já podes dizer à tua velha avó o que te atormenta?

- Ó avó, não se passou nada. Eu fiz uma coisa estúpida e ele ficou aborrecido, mas isso foi há tanto tempo que nem já se lembrará.
- E tu, esqueceste? – perguntou a avó perscrutando-a com o olhar.
-Claro avó, - mentiu e teve a certeza de ter corado. Mas a avó não disse nada. Ou não deu por isso ou fingiu que não viu. 
E ela acrescentou:

- Sabes, gostava de tentar a vaga de secretária. Sem ele saber quem sou, mas para isso, não podias dizer nada a ninguém.

A avó sorriu ironicamente

-Queres dizer que trocas a tua carreira de advogada, pela de secretária dele? Pensava que tinhas sentido uma paixoneta de garota, mas vejo que é algo bem mais sério.
-Ó avó não é nada disso. É só que tenho pena dele, e como estou de férias…
- Olha Isabel, se há coisa que me aborrece é que me tomem por tola. Vai lá ver se consegues a vaga, eu não direi nada a ninguém, também o que poderia eu dizer? Que a minha neta, anda a apanhar lenha para se queimar, e eu não sei como protegê-la?
-Obrigado, avó. És um amor, - disse abraçando e beijando a idosa.

                                                

16 comentários:

Janita disse...

Interessadíssima, aguardo o desenrolar dos acontecimentos.
Uma relação terna e bonita esta, entre a Isabel e a Avó.

Boa semana, um abraço, Elvira.

Pedro Coimbra disse...

Está para nascer quem consiga enganar uma avó.

Isa Sá disse...

A passar para acompanha a história e desejar uma boa semana.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Lendo e recordando!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um excelente capitulo.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Sempre tão lindo e adorto os detalhes perfeitos que narras! beijos, linda semana,chica

teresadias disse...

A Elvira sabe sempre como nos prender à narrativa.
Lindo capítulo, venha o próximo com o encontro dos dois amigos.
Beijo, boa semana.

Cidália Ferreira disse...

Os idosos sabem mais do que mostram! Gostei!
--
Já não escuto...
-
Beijo, e uma excelente semana. :)

Edum@nes disse...

A idade e a experiência da vida. A avó de Isabel consegue perceber o que Isabel sente, sem que ela lho diga.

Boa semana com saúde, amiga Elvira. Um abraço.

A Paixão da Isa disse...

a minha avo tambem sabia sempre tudo sobre mim nao conseguia lhe esconder nada linda historia bjs saude

noname disse...

Avó é sábia eheheheh

Boa tarde, Elvira

Teresa Isabel Silva disse...

Estou a gostar... Vou ter que ler os capítulos que perdi!

Bjxxx
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Ailime disse...

Bom dia Elvira,
Um capítulo muito bonito
Gostei muito desta conversa entre avó e neta.
Beijinhos e ótimo dia com saúde.
Ailime

ILLUMINATI GRAND LODGE® disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
João Santana Pinto disse...

O último parágrafo é "delicioso" a vários níveis, por um lado fez-me sorrir, por outro é algo que em determinadas fases da nossa vida tendemos a fazer (não por maldade, talvez mais por falta de confiança) e que é "fazer dos mais velhos tontos" no sentido de evitar ser frontal em matérias que para eles, normalmente foram vividas da mesma forma (ou pior - sorrisos)

Maria João Brito de Sousa disse...

Mais dois capítulos e a história já me conquistou :)

Forte abraço, Elvira!