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17.5.16

MANEL DA LENHA - PARTE LXXI


                               Foto de Alfredo  Cunha
Pouco depois das 13 horas, o Rádio Clube Português começa a transmitir aos microfones as ordens do Comando do Regime, que se mostra desorientado e fica ainda mais desmoralizado por ter sido interceptado o seu sinal.
O povo está na rua, segue com entusiasmo tudo o que se passa, apercebe-se da tentativa de cerco e a informação chega rápida aos militares, e daí ao Posto de Comandos, que dá ordem ao Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz , que se encontrava a caminho da Trafaria para libertar os militares ali presos em consequência do 16 de Março,  para inverter a marcha e ir para o Largo do Carmo, a fim de apoiar a retaguarda da Escola Prática de Cavalaria.
Com este reforço, as forças do regime desmobilizam, seguindo alguns para os respectivos quartéis, enquanto outros se colocam às ordens do capitão Andrade Moura, aderindo ao Movimento. 
Às duas e meia, o Radio Clube Português, difunde um comunicado, em que noticia os objectivos já conquistados e informa do cerco no Quartel do Carmo a Marcelo Caetano e outros membros do governo ali refugiados.
Enquanto isso, via rádio, Otelo contacta Salgueiro Maia. Diz que a GNR tenta ganhar tempo, pelo que é preciso forçar a rendição. A prisão de Marcelo desmobilizaria as forças que ainda se mantêm fieis ao governo.Diz para forçar os portões da GNR ou por encosto de blindado, ou por rajadas de metralhadora. Salgueiro Maia mostra alguma reticência em abrir fogo e Otelo manda-lhe por estafeta, a seguinte mensagem
"Com o megafone tenta entrar em comunicação e fazer um aviso-ultimato para a rendição. Eu já ameacei o coronel Ferrari, mas ele parece não ter acreditado. Com auto metralhadoras rebenta as fechaduras do portão para verem que é a sério. Julgo que não reagirão. Felicidades. Um abraço. 
Otelo"
Salgueiro Maia, concede um prazo de dez minutos, para a rendição do Quartel do Carmo, findo o qual abrirá fogo. 
Enquanto no Carmo, se espera por uma resposta ao ultimato de Salgueiro Maia, é dada a ordem à Escola Prática de Cavalaria, estacionada no Cristo-Rei para se dirigir à Trafaria e libertar os 11 oficiais, ali presos pela tentativa de golpe a 16 de Março.
Esgotado o tempo dado por Salgueiro Maia, sem que a rendição fosse efectivada, este deu ordem ao Tenente Santos Silva para com as metralhadoras da sua Chaimite,  abrir fogo sobre a parte superior da frontaria do quartel. São disparadas várias rajadas estoirando vidraças da frontaria do edifício. 
Isto teve um efeito arrasador sobre o animo das forças leais ao governo. Marcelo Caetano já sabe que no Regimento de Lanceiros 2, apenas o comandante e 2º comandante, estão com ele. Todos os restantes oficiais e praças assumiam posições hostis ao regime.
Ainda assim não surge a almejada rendição. Salgueiro Maia, envia o coronel Abrantes da Silva para negociar a rendição, mas este é feito refém.
Suspeitando que as suas forças possam ser atacadas por um heli canhão, Salgueiro Maia prepara-se para utilizar armas pesadas, e ordena a colocação de um blindado em posição de tiro.
Os motores arrancam, e a população civil procura abrigos. Inicia-se a contagem, mas ao chegar a dois, surgem junto do Capitão Salgueiro Maia conduzidos pelo Tenente Assunção dois civis que se apresentam como o Dr. Pedro Feytor Pinto (Director dos Serviços de Informação) e Dr. Nuno Távora, secretário do Dr. Pedro Pinto (Secretário de Estado da Informação e Turismo) que portadores de uma credencial do General. Spínola pretendendo dialogar com o Prof. Marcelo Caetano. É autorizada a sua entrada no quartel. 



Relembro que todos este factos, são objecto de pesquisa, de jornais da época, do arquivo da RTP, e sobretudo da base de dados históricos.


12 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo relato histórico do dia em que o povo saiu à rua e se pôs ao lado do MFA.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

chica disse...

Mesclas muito bem história no teu lindo conto,Elvira e nós seguimos...Te acompanhamos! bjs, chica e lindo dia!

O meu pensamento viaja disse...

Mais que interessante, é importante essa viagem ao passado recente.
Beijo

Anete disse...

Muita história e tensões envolvidas...

Vamos adiante com as narrativas...
Bj

Edum@nes disse...

A ditadura desorientada,
se aproximava do seu fim
a liberdade a proclamada
há muito tempo deseja sim!

Aquele regime só interessava,
aos exploradores do povo
porque quem mais trabalhava
recebia sempre muito pouco!

Até parece que agora,
os que a desejam estão fartos dela
não queiram que ela vá embora
porque com ela a vida é mais bela!

Não se incomodem com tudo o que seja bom,
o que nos dá garantias não deixamos perder
ditaduras são regimes que têm por dom
impor repressão a quem trabalha, sem pão para comer!

Tenha uma boa tarde, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Janita disse...

Ler este relato tão bem descrito sobre uma data Histórica, que nos marcou a todos os que assistimos - no meu caso através da Rádio e Televisão - é como reviver as velhas esperanças em dias de mais igualdade e justiça social.

Parabéns, Elvira. O seu empenho na escrita tem-nos levado a lugares inesperados.

Um abraço.

Andre Mansim disse...

Que legal, esse conto demonstra como é mais interessante a história fictícia contada com mesclas de realidade.
Muito bom Elvira!!

Sou seu fã!

Elisa disse...

Assim termino o meu dia ...já deitada a ler o seu maravilhoso texto :)
Beijinhos
elisaumarapariganormal.blogspot.pt

Pedro Coimbra disse...

O que podia ter resultado num banho de sangue acabou pacificamente.

Isa Sá disse...

Passando para acompanhar a história e desejar um ótimo dia...

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Os olhares da Gracinha! disse...

Elvira...recordar aviva a memória e isso torna_se gratificante!
Bj amigo

Odete Ferreira disse...

Amiga: só posso reiterar os meus parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa e a forma como narras os acontecimentos.
Bjo :)