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13.9.15

A HISTÓRIA DE UM PAR DE BOTAS BOTAS... DO ESTADO. PARTE V


Mulheres a estenderem bacalhau na Seca da Azinheira. O edifício do lado direito, é a malta dos homens. Foto de Eduardo Martins.



O casarão, como ele lhe chamava, era um enorme barracão assente em pilares de cimento, com 1m de altura, para que a água passasse por baixo nas tempestades de Inverno, ou nas marés vivas de Agosto, pois ficava bem na margem do rio Coina, junto ao portão de acesso à Seca, pelo pessoal do Barreiro, que para encurtar caminho, vinham pela trilha da Caldeira do Alemão. Tinha quatro grandes quartos com portas e chave, mas apenas um tinha janela para o exterior. E um salão de 11 m de comprimento por 4 m de largura. Contrariamente aos quartos, este salão não tinha nenhum forro por baixo do telhado, pelo que não raras vezes pingava lá dentro quando chovia. Na frente duas enormes janelas para o exterior. Viradas para a Seca, cercada a toda a volta por arame farpado. A meio do salão uma grande mesa comprida, e de cada lado um banco corrido de madeira. A mesa era utilizada pelos quatro casais. A um canto do salão, sobre uma base de cimento, dois tijolos, com uma grelha de ferro em cima servia de fogão. A luz era fornecida pelos candeeiros a petróleo, e a água, as mulheres iam  buscá-la ao chafariz da Telha, em bilhas de barro, que transportavam à cabeça, sobre uma rodilha, ou sogra. Entre o barracão e o chafariz uns quinhentos metros bem medidos. 



                                      Candeeiro a petróleo
                                           

Os casais davam-se bem, eram colegas e amigos, gente da mesma terra, que migrara para ali, em busca de trabalho e uma vida melhor. Todos eram vigias, excepto o Manuel que era lenhador, por isso tinham trabalho todo o ano.
A primeira obra do Manuel no casarão, foi a construção de um forno, junto ao fogão, para que as mulheres pudessem cozer pão.
Se por um lado não havia grande privacidade, por outro havia sempre uma mulher disponível para cuidar dos miúdos, dois rapazes do Aires, um casal do António, mais um rapaz do Carlos, e a menina do Manuel. Em Setembro, regressam os bacalhoeiros e recomeça a labuta de mais de 400 pessoas, que na Seca, descarregam o bacalhau e iniciam todo o processo de cura que expliquei noutro conto. É a  festa do reencontro, entre os que partiram para a aldeia, e os que ficaram.
Pouco tempo depois, o António muda-se com a mulher e os filhos para uma casa na Telha. Mais longe do trabalho, mas mais perto da mercearia, da escola, da padaria… E melhor que isso, com electricidade em casa e o chafariz à porta. No Barracão ficou um quarto vago que foi ocupado pelos dois filhos do Aires. No verão, seguinte, o Carlos muda-se com a família para a seca de Alcochete, onde tinha irmãos a trabalhar, e pouco depois, o Aires, muda-se para uma das casas existentes na seca. No “casarão” ficavam agora apenas o Manuel e sua família.


19 comentários:

chica disse...

Lindo e vamos te acompanhando! Gostando muito! bjs, ótimo fds! chica

Anete disse...

Olá...
É bom estar aqui e acompanhar mais um trecho emocionante...
Gosto de refletir nos costumes e culturas apresentados...

Foto interessante! Amo bacalhau!

Abraços neste sábado...

lucia bezerra de paiva disse...

Muito bom, seguir essa história tão bem narrada, passo a passo!Sigo acompanhando...bom final de semana, Elvira!

Unknown disse...

Voltas e mais voltas. Lutas de quem procura uma casa melhor.
Tempos duros também os vivemos aqui na aldeia.

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Deixo-me sempre enlevar pela ternura com que conta as suas histórias.

Um bom domingo

Unknown disse...

Olá, Elvira.
A vida que foi real retratada aqui tão bem, nesta história que vamos seguindo.

tenha um bom domingo
bj amg

Emília Pinto disse...

Amiga, também vivi muito tempo sem energia electrica e ainda hoje vejo a dificuldade da minha mãe a ter que matar um coelhinho ou um franguingo, ao domingo, pratcamente à hora em que tinha de o cozinhar e já se tinha de dar muitas graças por haver esse tipo de comida; havia gente na minha aldeia que, dado o grande numero de filhos, nada disso havia, Foram tempos difíceis que ninguém os deseja para os filhos, mas a verdade é que com isso aprendemos a dar valor ao que às coisas . Obrigada, amiga por me teres levado a tempos distantes, dificeis, mas felizes. As dificuldades no meu caso foram atenuadas pelo facto de sermos só dois. Beijinhos e até sempre.
Emilia

Socorro Melo disse...


Olá, Elvira!

Cá estou eu, de volta, depois de um bom tempo afastada. Fiquei feliz em te encontrar blogando, quando tantos amigos também se afastaram. Gosto muito dos seus textos, da sua escrita, os contos são maravilhosos, nos transportam para o cenário onde acontece a história. Li somente a parte V, mas, vou ler as outras depois. Parabéns!

Grande abraço
Socorro Melo

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
CONTINUO LENDO E GOSTANDO.
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Zilani Célia disse...

ORA, PENSEI QUE HAVIA MAIS PARA LER, BOM, MAS AO MENOS AGORA ESTOU EM DIA, ESPERANDO NOVOS CAPÍTULOS.
ABRÇS AMIGA
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/

AC disse...

Elvira,
Há memórias que fazem, profundamente, parte de nós, e ainda bem que que se orgulha delas.
O relato é muito bom, ilustrativo duma época que, bem vistas as coisas, não está assim tão longe, embora muitos tenham "perdido" a memória.
Fico-lhe grato pelo testemunho.

Um beijinho :)

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira!
Que vida difícil tinham os nossos pais, minha mãe sempre dizia, estuda para não ser mula de carga como eu. E foi que fiz.
Eu é que fiquei uns dias sem aparecer....Desculpa
Agora não perco mais nenhum.
Beijos
Dorli Ramos

Rogério G.V. Pereira disse...

Nos fins dos anos 50, punha o ti Zé da mercearia
em cima de um banco de cozinha um alguidar e um letreiro "Uma quinze, duas vinte cinco". Era o "fiel amigo" assim oferecido.

Mal sabia eu que por detrás de cada posta
estaria isto que nos conta

Pedro Coimbra disse...

Estou a suspeitar que estamos a conhecer uma espaço que em breve vai desaparecer.
Boa semana

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira, espero mais uma narração desta linda história!
Abraços de uma ótima semana,
Mariangela

Berço do Mundo disse...

Acabaram com um casarão só para si... a menina é a Elvira?
Beijinhos
Ruthia d'O Berço do Mundo

Cadinho RoCo disse...

Tão interessante ir, pela leitura, a um ambiente tão lusitano.
Cadinho RoCo

Marina Filgueira disse...

¡Hola Elvira!!!

Decirte que el buen bacalao es un plato riquísimo y, a mí encanta.
La historia que nos cuentas seguro que fue realidad pues algo y mucho se parce a otras similares que yo conozco, en tiempos pasados nada era fácil para muchas muchas familias.
Mas con lo que vamos leyendo en los periódicos y viendo a diario en la televisión: ojalá que no se repita la historia.

Siempre es un inmenso placer pasearme por tus letras, describes la situaciones familiares con mucho estilo, genial diría yo.

Te dejo un abrazo, toda mi estima y gratitud.
se muy muy feliz.

Te dejo la dirección de una amiga. Por favor echa un vistazo siempre que puedas, seguro que te va a gustar. Mil gracias de antemano.
www.leriasdebea.blogspot.com

Rosemildo Sales Furtado disse...

Ficando só, de certa forma, o trabalho diminui, Gostando e aguardando a próxima parte.

Abraços,

Furtado.