Com um enorme obrigada por me terem acompanhado no ano que ora termina, desejo a todos os meus amigos um 2014, tão somente como cada qual desejaria que fosse, e sobretudo que a benção divina caia sobre a humanidade para que ela se torne menos egoista e mais justa.
FELIZ ANO NOVO.
Seguidores
30.12.13
FELIZ ANO NOVO
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Feliz Ano Novo. Boas Festas
21.12.13
23.11.13
VOCÊ VAI SABER PORQUÊ - ANDRÉ MANSIM
Recebi há dias numa gentileza do autor, um exemplar do primeiro livro de André Mansim. "Você vai saber porquê" é um policial empolgante. Daqueles que o leitor começa a ler e fica tão embrenhado na leitura que só deseja lê-lo de seguida. Dois investigadores são chamados a resolver um crime, que à partida parece ser muito simples. Parece. Porque neste livro, nada é o que parece e de cada vez que se pensa que se encontrou o ponta da meada, verifica-se que existem várias pontas e voltamos ao ponto de partida. Há muito tempo que não lia um livro que me entusiasmasse tanto.
Parabéns André.
Por favor ampliem as fotos
A todos os que gostam de ler, aqui deixo a explicação da contra-capa para aguçar a vossa curiosidade e vontade de o lerem. Podem contactar o autor em http://amansim.blogspot.pt/ no Facebook
https://www.facebook.com/andre.mansim?fref=ts.
Aproveito este espaço para agradecer publicamente a outros amigos que me têm oferecido livros e a quem já agradeci por escrito.
Luís Filipe Maçarico
Luis Milheiro
Jorge Esteves
Maria José Areal
A todos um enorme obrigada pelo carinho e amizade.
Parabéns André.
Por favor ampliem as fotos
A todos os que gostam de ler, aqui deixo a explicação da contra-capa para aguçar a vossa curiosidade e vontade de o lerem. Podem contactar o autor em http://amansim.blogspot.pt/ no Facebook
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Aproveito este espaço para agradecer publicamente a outros amigos que me têm oferecido livros e a quem já agradeci por escrito.
Luís Filipe Maçarico
Luis Milheiro
Jorge Esteves
Maria José Areal
A todos um enorme obrigada pelo carinho e amizade.
12.11.13
AGUARELA
Um barco apita ao longe...
Um galo canta...
Amanhece...
Ouvem-se os primeiros sons,
alguém que se levanta.
O dia começa...
Apressados os mais velhos seguem
preocupados para o trabalho.
Ás creches chegam os risos das crianças...
Trocam carícias os namorados...
um autocarro passa rápido...
Num banco de jardim, um velho, engole a solidão..
Ergue-se altiva a papoila,
humilde a roxa violeta...
Sai e entra gente nos mercados...
Apressada a dona de casa, descasca as batatas.
Chora o bebé na camita...
Brinca o menino na areia,
perante o olhar atento, do velho avô...
Desliza um barquito de à vela,
a lembrar aqueles de papel,
que fazíamos em criança.
Duma chaminé sai fumo...
Um cão ladra...
Um barco apita ao longe...
Elvira Carvalho
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chaminé crianças,
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10.11.13
Centenário do nascimento de Álvaro Cunhal
Álvaro Cunhal nasceu há 100 anos. Nasceu em Coimbra, mas foi em Seia que viveu a sua infância e decerto retirou da dureza daquelas terras a força com que defendeu os seus ideais. Para mim o que mais me fascina nele, é a convivência dessa força, de antes quebrar que torcer com a sua alma de artista.
Cunhal foi um homem a quem ninguém podia ficar indiferente, comungue-se ou não os seus ideais, e a história portuguesa do século XX não seria a mesma sem a sua existência.
Gostaria de ter engenho e arte para fazer um belo texto a assinalar esta data. Como não tenho limito-me a assinalar a data.
4.11.13
ELISA II
Elisa viu-se nessa altura obrigada a
contar a verdade aos pais. Tinha que deixar o filho com alguém para ganhar-lhe
o sustento. E quem melhor que os pais? O pai só lhe disse que devia ter contado
antes. E que tomaria conta do neto, como se fora um filho. Elisa deixou o filho
lá na aldeia e veio para Lisboa ser criada de servir. Não pensava em namorados. Tudo o
que juntava mandava para os pais, para o sustento do filho. Mas um dia conheceu
o António. António era moço de Lisboa, com muito mais experiência de vida, e
não foi difícil dar a volta à cabeça da jovem. Prometeu-lhe casamento,
criar-lhe o filho, dar-lhe até o seu nome. Elisa ia viver com ele, e logo que
acabasse a tropa, tratavam do casório. E mandavam vir o filho. Elisa acreditou.
E um tempo depois deu-se conta que estava outra vez grávida. Quando António
soube da gravidez, os seus modos alteraram-se. Começou a chegar cada dia mais
tarde, com a desculpa de que tinha serviço no quartel. E um dia deixou de
aparecer. Elisa foi lá ao quartel. Queria saber o que se passava. Mas lá
disseram-lhe que ele tinha pedido para ser transferido. E começou novo calvário
para Elisa. Quando o adiantado estado de gravidez não a deixava já trabalhar,
recorreu à instituição de Santa Zita, que a ajudou até que a menina nasceu, bem
como nos primeiros tempos, até que ela conseguiu com a ajuda da instituição
arranjar trabalho.
A vida de Elisa foi uma vida de
escravidão ao trabalho para criar os filhos. Porque depois da morte da mãe,
teve que ir buscar o filho mais velho, para junto de si. Foi pai e mãe dos
filhos.
Nunca mais quis ouvir falar de homens
na sua vida.
Quando os filhos cresceram, Portugal tornou-se pequeno para os seus sonhos. Só
pensavam em emigrar para o Brasil. O sonho duma vida melhor fez com que
juntassem todos os tostões para a viagem. E lá foram deixando a promessa de
mandarem ir a mãe tão logo tivessem casa e trabalho.
A principio as cartas do Brasil
chegavam todas as semanas. Eram cartas cheias de novidades e promessas. Depois
passaram a ser de mês a mês. A vida corria bem, a filha tinha até casado, e só
estavam esperando mudar de casa para mandar a passagem. É que a casa era
pequena. Mais tarde nascera a neta, a despesa era maior. Depois o filho casou,
tinha mais despesas. Aos poucos Elisa apercebeu-se que tinha perdido os filhos
quando se despediu deles em Alcântara.
Por fim as cartas deixaram de chegar.
O olhar perdeu-se no horizonte, o corpo foi-se vergando ao desgosto e ao peso
dos anos.
Elisa foi hoje a sepultar...
Nunca vi um funeral tão triste. Meia
dúzia de vizinhos, ninguém de família. E enquanto a terra caía sobre a urna, eu
pensava se os filhos iriam pensar algum dia no abandono a que votaram a mãe.
Elisa foi hoje a sepultar... e
enquanto jogo uma flor sobre a sepultura murmuro uma prece:
Senhor, se é verdade que existe o
paraíso, tem piedade desta tua serva, que já teve o seu inferno...
Maria Elvira Carvalho
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Brasil,
Os meus contos,
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28.10.13
ELISA
Corria o ano de 1940. Elisa era nessa
altura uma encantadora rapariga de dezoito anos. Pequena, bem proporcionada,
cabelo escuro como noite sem lua, quase sempre preso numa farta trança.
Os olhos escuros e um
rosto moreno, onde um rasgado sorriso fazia aparecerem duas graciosas covinhas.
Era uma jovem alegre, com uma bonita voz, que encantava quem a ouvia ao domingo
na igreja, ou nos campos enquanto trabalhava. Foi talvez a beleza da sua voz,
que atraiu o patrão, naquele fatídico dia de Abril. Elisa mondava o milho numa
leira, quando o patrão a surpreendeu e sem lhe dar tempo a defesa, ali mesmo a
violou. Naqueles tempos nas remotas aldeias do interior, não raras vezes os
patrões "desgraçavam" as jovens empregadas. Naquele dia Elisa foi
para casa, com o corpo e a alma em ferida. Não disse aos pais nem aos irmãos o que
tinha acontecido. De que teria servido? Só aumentaria a sua dor, e a sua
vergonha.
Nunca mais foi a mesma. Não
queria que ninguém soubesse o que tinha acontecido, e os pais estranhavam que
não quisesse ir trabalhar para aquele patrão. Afinal era o que empregava mais
gente, e pagava melhor.
Uma noite sem que ninguém desse conta
Elisa fugiu de casa. Vagueou por montes e vales, evitando os caminhos
principais, roubando frutas para enganar a fome, durante dias a que esqueceu a
conta. Um dia, com os pés em ferida e as roupas sujas e rotas avistou uma
cidade.
Foi-se aproximando a medo. Teve
sorte. Uma mulher idosa viu-a, e vendo o estado lastimoso em que se encontrava,
levou-a até á sua casa. Deu-lhe um alguidar com água, um pedaço de sabão azul e
branco, e uma toalha velha e esfarrapada, porém limpa, para ela se lavar. Em
seguida trouxe-lhe umas roupas limpas que tinham sido da sua filha que Deus lhe
levara havia dois anos.
Josefa foi-lhe contando isto enquanto
aquecia no velho tacho de barro um prato de caldo verde feito na véspera.
Elisa sentiu-se como alguém que
regressa a casa. Na verdade Josefa, embora não a conhecendo, estava a tratá-la
como uma filha e Elisa deixou que as lágrimas rolassem pelo rosto emagrecido
enquanto contava àquela desconhecida, o que não tivera coragem de contar à mãe.
Josefa ouviu em silêncio o relato da
jovem, e quando esta acabou, estendeu a sua velha mão sobre a cabeça da jovem,
e murmurou entre dentes:
Um dia, um dia isto vai ter fim. E
esses canalhas vão pagar por todos os seus crimes. E logo levantando a voz
disse:
- Ficas aqui enquanto não arranjares
trabalho. Eu não tenho muito, mas há-de dar para as duas. Agora uma coisa tens
que me prometer. Vais escrever aos teus pais e dizeres que estás em Coimbra,
arranjaste trabalho, dizes qualquer coisa. Mas os teus pais têm que saber de
ti. Eu também fui mãe e sei bem a aflição duma mãe quando não sabe dum filho.
Elisa assim fez. Arranjou trabalho a
dias para limpezas e tentava a custo apagar as recordações quando descobriu que
isso era impossível porque estava grávida.
Foram tempos muito difíceis em que só no carinho de Josefa
conseguiu forças para sobreviver. Aos pais não contou nada. Morria de
vergonha. E foi inventando desculpas para não ir visitar os pais.
Quando o filho tinha três anos Josefa
morreu. Morreu de noite sem se queixar, sem dar sinal.
Continua.
Amigos, vou tentar visitar todos os vossos blogues, mas não serei muito assídua. Como já disse muitas vezes o meu sonho era ter estudado coisa que nunca pude fazer. Mas como nunca é tarde para aprender, este ano fui estudar e o tempo está muito mais limitado. Muito obrigada pela vossa compreensão.
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Os meus contos
12.10.13
7.10.13
OUTUBRO MÊS ROSA
Foto da net
Porque estamos em Outubro, e Outubro é o mês rosa, lembro a todas as minhas amigas que não fizeram ainda a mamografia que não deixem de a fazer este mês. Mais, para quem vai fazer este exame, não esqueçam de pedir a proteção anti radiações para o pescoço. Porque não se sabe se o cancro da tiroide e do pescoço que vêm aumentando todos os anos, não têm origem nas radiações da mamografia, havendo já médicos que dizem que sim. Então não esqueçam. Mais vale prevenir...
Para os amigos que por aqui passam e amam as suas companheiras, insistam para que elas façam o exame. E já agora, se já passou a faixa dos 50 aproveite e peça ao seu médico o exame da próstata.
Na maioria das vezes um exame atempado evita grande sofrimento.
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3.10.13
PEDIDO DE AJUDA
Alguém me sabe explicar onde terá ido parar a parte final deste conto? Ontem à noite estava cá, tinha 24 comentários, e hoje entro no blogue e não está. Em 6 anos por aqui nunca tal me tinha acontecido.
14.9.13
Comentário nº 12 000
Vitor Chuva
Com o post abaixo o Sexta atingiu o comentário nº 12 000 como podem ver na lateral. O que eu acho que é muito bom para quem não tem um grande grupo de seguidores e não apresenta no blogue textos de autores famosos que possam ser procurados. Daí que chegue à conclusão que os meus seguidores, são os melhores da blogoesfera.
Ora bem para comemorar o número eu decidi oferecer a quem fez o comentário, um dos meus contos. Que vou enviar de seguida para o nosso amigo Vitor Chuva.
Um enorme obrigada a todos os que me leem e deixam a sua opinião pois é com ela que me posso aperfeiçoar.
Bom fim de semana
Amanhã continua o "Entre duas datas"
8.9.13
ENTRE DUAS DATAS
foto da net
I
O dia amanhecera radioso. Era um belo dia de Setembro,
quando Setembro capricha ainda por nos dar um Verão, que a pouco e pouco se vai
despedindo. Quando ela abriu os olhos, o sol iluminava já a janela, como que a
dizer-lhe:
- Acorda preguiçosa. Não sabes que dia é hoje? É um grande
dia!
Ela sorriu. Sorriu para o sol, sorriu para o passarinho,
que naquele momento passou a cantar esvoaçando pela janela do seu quarto.
Levantou-se, foi até à janela e abriu as vidraças, deixando que o sol lhe
beijasse o rosto moreno. Na sua frente, o rio, maré cheia, águas calmas, mais
parecia um espelho, onde o céu se reflectia vaidoso. Tomou banho, vestiu a sua
melhor roupa e foi acordar a irmãzita que dormia na cama ao lado da sua.
Deu-lhe banho, o pequeno-almoço, e deixou-a a brincar à porta, enquanto
arrumava os quartos. Pouco passava das dez, quando a pequenita gritou alvoraçada:
- Mana, já se vê o barco, já lá vem...
Correu à janela. Era verdade. Do outro lado da ponte já se
via o barco. Resolveu ir até ao cais de desembarque. Porque o navio que se via
ao longe era um lugre da pesca bacalhoeira, que pertencia à Seca da Azinheira.
Andando devagar, com a irmã pela mão chegou até à velha ponte de madeira, que
servia de cais de desembarque da Seca. Ali já se encontravam muitas mulheres,
velhas e novas, bem como alguns homens idosos, e muitas crianças. Eram os pais,
as mulheres, e os filhos dos pescadores, que ali tinham ido esperá-los, a fim
de anteciparem de algumas horas, a visão dos entes queridos, que há mais de
seis meses, haviam partido, para os mares distantes, da Terra Nova, e Gronelândia.
Era assim todos os anos. Mas apesar de não ser novidade, ela ia lá sempre. E
sempre se emocionava como se fora a primeira vez. Não tinha lá ninguém e tinha
toda a gente. Nascida ali, conhecia todos os pescadores e a todos admirava.
Alguns, mais novos, tinham andado com ela na escola, foram companheiros de
brincadeiras. Depois ou por gosto, ou por falta de opção juntaram-se aos pais,
ou substituíram-nos, nos navios de pesca bacalhoeira. Com custo arrastada pela
irmã, cuja curiosidade a empurrava lá para a frente, chegou mesmo lá à ponta do
cais. Olhou à volta sem curiosidade. Sabia o que ia encontrar. Alentejanas,
algarvias, nazarenas. Algumas vinham da terra, outras à muito se tinham
radicado à volta da Seca, sabendo que tinham trabalho sempre que chegavam os
barcos. Todas vinham à espera de alguém. Um filho, um pai, um irmão, um noivo,
um marido...
O problema do feed por agora foi resolvido. Já repararam que me faltam 15 comentários para os 12.000? Pois é. Vamos ver quem fica com o número redondinho...
Bom fim de semana.
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5.9.13
CELESTE
-->
Mal o despertador tocou, Celeste saltou da cama. Lavou-se a correr e foi para a cozinha. Com gestos completamente automatizados, pegou no isqueiro e acendeu o fogão. Era noite ainda, mas Celeste trabalhava longe. Começou a fazer o almoço, para ela e para o marido. Uma lágrima soltou-se e veio cair no alguidar onde tinha as batatas para descascar. Estava cansada. Cansada daquela vida de miséria física e moral em que se encontrava. Onde tinham ficado os sonhos de menina? -Interrogou-se enquanto acabava de descascar as batatas. Onde a ilusão de um homem bonito, que se apaixonasse por ela e lhe desse uma vida de amor e felicidade?
Juntou duas postas de bacalhau às batatas e o sal , quase sem dar por isso absorta nas suas recordações.
Celeste era uma mulher bonita, sem ser nenhuma beleza estonteante. Era pequena, de pele trigueira, com aquela cor das pessoas que vivem à beira-mar. Tinha o cabelo preto e uns olhos castanhos, que muitas vezes se enchiam de lágrimas. Era uma menina ainda, com toda a inocência dos seus quinze anos quando conheceu aquele que era o seu marido.
Afonso era um homem bonito. Mais velho e mais vivido, não foi difícil apoderar-se do coraçãozinho de menina que batia no peito da Celeste.
Casaram um ano depois. Celeste já carregava no ventre um filho. Ainda menina, teve que aprender a ser mãe, e a cuidar daquele pequeno ser, que Deus lhe quisera enviar.
Depressa se apercebeu que o marido não era o príncipe com quem sonhara. Um dia, tinha o filho três meses, Afonso saiu depois do jantar, deixando-a em casa com o filho, e só regressou depois da meia-noite completamente bêbado.
Como se fora um autómato, Celeste apagou o fogão, escorreu a água ás batatas e dividiu a comida pelos dois termos. Pegou as duas lancheiras, que estavam em cima do aparador, colocou um termo em cada uma, juntou uma carcaça do dia anterior, uma pêra e um garfo. Encheu uma garrafa de meio litro de tinto e colocou numa das lancheiras. Foi ao quarto e acordou o marido. Na volta pôs um pano de cozinha em cada lancheira e fechou-as.
Tirou as chaves que estavam na porta, pegou na carteira, e na lancheira, e atirou um seco até logo, saindo de seguida. Não foi ao quarto despedir-se do marido. Há muito que não trocavam um beijo carinhoso.
Enquanto se dirigia à paragem do autocarro, na cabeça fervilhavam as recordações, dos olhos soltavam-se as lágrimas.
O filho crescera e saíra de casa. Nunca se sentira lá muito bem, nem tivera uma relação de amor com o pai. E assim que se empregou, arranjou uma casita e foi morar sozinho. A sua vida ficara então mais triste, sem a presença do filho.
Já lhe ocorrera pedir o divórcio. Porém o medo e a vergonha sempre a faziam desistir da ideia.
Recordou a primeira vez que o marido lhe batera. E a desculpa , com que teve que encobrir, perante a família, a vergonha e a dor que sentia tanto ou mais do que os hematomas. E os dias sem lhe falar. Dias em que ela lhe gritava o nome de manhã antes de sair de casa, e não se falavam mais.
Como agora que não se falavam desde que há oito dias ele lhe tinha voltado a bater. E tudo por causa do álcool. Mordeu os lábios para abafar um soluço ao lembrar - se daquela noite. Ela já dormia, quando Afonso chegou. E estava tão cansada que nem deu por ele se deitar. Acordou com o peso do marido em cima dela. E aquele bafo nauseabundo de bêbado. Quis empurra-lo, fugir da cama. Mas não conseguiu. Ele era muito mais forte e puxara-lhe os cabelos com violência. Virou o rosto e isso enfureceu mais " a besta". Porque Celeste não reconhecia mais o marido naquele selvagem. Quando consumados os seus intentos se virou para o lado e adormeceu, ela levantou-se e meteu-se debaixo do chuveiro. Esfregou o corpo com raiva, enquanto as lágrimas se misturavam à água. Voltou para a cama, e acomodou-se tentando não tocar no marido. Não dormiu mais. E agora enquanto esperava pelo autocarro, pensava que rumo dar à sua vida. O amor que sentira um dia por aquele homem, já sofrera muitas alterações. Foi raiva, medo, ódio, desprezo e agora era também nojo.
De repente saído do nada, veio-lhe à memória, o poema.
Anda Luísa,
Luísa sobe...
sobe que sobe,
sobe a calçada...
Sacudiu a cabeça, ao mesmo tempo que pensava, se o poeta saberia da sua existência.
É que aquela Luísa era ela...
Este conto já foi postado em Janeiro de 2010. Mas como ultimamente a violência doméstica não para de aumentar, ainda ontem li que um homem de 80 anos matou a mulher, que já vinha sofrendo de violência doméstica desde o inicio do casamento há 44 anos. Por outro lado são poucos os que me acompanham dessa época, e os resistêntes se quiserem podem relê-lo.
Uma boa semana para todos
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