Seguidores
20.5.12
MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XXXII
Manuel fez dois moldes redondos de madeira, um com menos 8 cm de diâmetro que o outro. Vedou frinchas e untou com sebo, o maior por dentro e o mais pequeno por fora. Meteu um dentro do outro e encheu o espaço entre os dois com uma liga de cimento água e areia. Quando o cimento secou, tirou os moldes e com a ajuda da mulher e do cunhado rodou-o para o sítio onde ia começar a cavar. Tinha 1m de altura e 1,5m de diâmetro. Depois utilizando os mesmos moldes fez outro anel e enquanto ele secava, meteu-se dentro do primeiro e começou a cavar e a encher baldes de terra que a mulher e os cunhados se revezavam para vazar noutro sítio. Manuel ia cavando, e a borda de cimento que formava o poço ia descendo acompanhando o buraco. Quando a parte de cima ficou ao nível do chão, Manuel parou de cavar pôs sobre o primeiro o segundo anel que entretanto já secara. Depois uniu-os com cimento. E assim foi continuando, ora construindo um novo anel, ora cavando de novo. Entretanto montou um tripé com uma roldana, e uma corda para puxar os baldes de terra. Claro que este trabalho era feito à tarde, depois do dia de trabalho, e sobretudo ao fim de semana. Este processo foi repetido meticulosamente. A 4 metros começou a aparecer água. E para espanto daqueles que não acreditavam a água era ótima. Manuel ainda continuou a cavar mais 2 metros. Este último pedaço foi o mais difícil e trabalhoso, já que era necessário tirar não só a terra que ele ia cavando, mas também a água que ia enchendo o poço, para que pudesse continuar cavando. Foi montada uma nova roldana, e o cunhado foi também para dentro do poço. E iam escoando água num balde e a terra no outro.
Por esses dias morria em Princeton, vítima de um aneurisma Albert Einstein, o grande génio do séc. XX.
Sem saber sequer quem era Einstein, Manuel dedicava-se com empenho e vigor à construção do poço que terminou nos finais de Abril.
Mas nessa altura o Manuel deu-se conta de que precisaria fazer um tanque para armazenar a água.
Tinha ainda um saco de cimento mas precisava comprar alguns tijolos e uns tubos. O dinheiro escasseava, mas o tanque era essencial e se o fizesse pegado ao poço aproveitava a parede deste e economizava no material.
E foi assim que nos primeiros dias de Maio começou a construir o tanque deixando um buraco redondo junto ao fundo por onde meteu uns tubos de ferro comprados no ferro velho, que se estendiam pelo terreno levando a água aos carreiros por onde seguia até ao ponto mais distante do terreno que se dispôs a cultivar. Assim depois de encher o tanque a balde, com a ajuda de uma roldana, abria a água e a regra era mais rápida e mais fácil. Normalmente o cunhado ficava junto ao tanque, e abria ou fechava a água às ordens do Manuel. Para que não se gastasse mais do que o preciso para cada leira e não ficasse a terra demasiado encharcada. Além disso o tanque também servia para dar banho às crianças no Verão e também para a mulher lavar a roupa.
BOM DOMINGO
Etiquetas:
As minhas histórias,
histórias da vida real.,
historias reais
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
28 comentários:
Olá Elvira! Que legal mais esse texto!
Eu estou com uma dúvida, esses acontecimentos e as datas dos dados históricos são mesmo verdade? Você está pesquisando os acontecimentos e a história da sua familia?
Eu ainda não tinha me "levantado" da Cadeirinha de Arruar, e vejo,com alegria, o capítulo XXXII desta excelente narrativa, sobre um o Manuel e sua incrível saga.
Admirável homem, este Manuel!
A escavação do poço, me fez lembrar da cacimba (assim se chama, aqui no Ceará) da nossa casa, quando eu era menina. Quando demoravam as chuvas, vinha um operário cavar a nossa cacimba, que secava. Eu gostava de vê-lo cavando. Outro homem puxava um balde, na corda que passava por uma roldana, presa a uma trave sobre a tal cacimba.Tudo veio, à minha mente....
Um abraço, Elvira.
Habemos poço!!! O Manuel é o exemplo de como a vida pode ser vivida de duas maneiras: desistindo ou persistindo. E ele escolheu a segunda alternativa mostrando com o seu denodo que quando se quer alcançar um objectivo, que era o bem-estar da família, tem-se de fazer por isso.
Excelente referência a Einstein.
Bj e bom domingo.
Olinda
O Manuel é muito habilidoso e lendo o comentário do Andre, será que perdi alguma explicação? Está contando a história da sua família?
Bom fim de semana!!
Beijus,
Um exemplo de coragem e persistência ,um poço era algo de muito precioso em tempos passados Elvira.
Seus contos sempre me remetem a situações bem reais e eu gosto , apesar de nem sempre acompanhar devidamente.No entanto um episódio nao interfere se nao lemos o anterior, é perfeitamente compreensível .
Obrigada Elvira .
um abraço e bom domingo
Era assim. Na minh terra havia , pelo menos, um homem que fazia assim. Sei porque uma vez veio fazer um poço para os meus pais...
Muito bem, e muito real.
Mudaste o templae!!!Gosto....se bem que eu sou mais de árvores...lOL...Beijinhos
Isabel
A história do poço absorve todas as economias e todas as energias.
Foi uma construção igual àquela que o meu pais fez aqui no quintal.
Elvira
Que bela forma de começar o (meu) dia: lendo sobre alguém que persistiu e alcançou. Deixou-me feliz.
Também gostei da nova apresentação, com este fundo de água tranquilizante e a placidez da enseada que fotografou.
Beijos
Bom domingo prá ti minha querida !
Domingo é dia de visitar os amigos e desejar votos de felicidade...
Suas histórias da vida real faz teu blog a cada dia se tornar mais cultural...
bjsssssssssssssss
Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, mas não estou seguro sobre o primeiro.
Albert Einstein
Boa tarde Elvira!
Que belo homem o Manuel; trabalhador, humano, bom marido, pai exemplar!
Uma boa semana!
Abraços,
Mariangela
Pessoas que lutam por uma vida, beijo Lisette.
Uma mente brilhante, a do "nosso" Manuel.
Tudo de bom.
Excelente semana.
Querida Elvirinha:
O povo sábio diz: A necessidade aguça o engenho.
Foi o que o Grande Manuel, fez. Com arte, engenho, coragem e muito trabalho, resolveu o seu problema maior: a água.
Esse homem era um herói, uma força da natureza. Com muitos, como ele, este país, não teria chegado a "Esta apagada e vil tristeza".
Bendito ele seja sempre, amiga.
Que orgulho deve ter dele!
Abraço muito grande
Maria
Te mandei um email!
Boa semana!!
+ Beijus,
Um Manoel pra lá de completo.
Ótima semana pra você. Obrigada pela visita no jardim. bj
Luma Rosa , é com alegria que estou aquí comentando o teu post, sempre tem alguem com habilidades num grupo de visinhos que se dispõe a fazer algo de bom , e o manuel foi esta pessoa inventiva, gaças a ele todos tiveram água embora com paciemcia e labor,Uma semana de muita paz e um abraço cordial Celina.
e assim se abriu um poço de água, tão útil e importante.
abraço Elvira
A coincidência de uma ironia: um explicava o Universo nas costas de um envelope; outro transformava trabalho em sonho...
E, por aqui, continuo a saborear a leitura.
abraço.
Elvira, assim sao muitos pelo mundo. Pessoas com um conhecimento imenso mas que estao morrendo no anonimato.
Minha querida, posso imaginar a alegria e felicidade de vocês no dia de hoje e me alegro sobremaneira com vocês por este presente vindo de Deus.
Um grande abraco
Olá, Elvira!
Não sei se a referência a Einstein neste texto em grande parte dedicado ao talento e génio do Manel é apenas ocasional, mas cada um à sua maneira e à sua escala, bem poderiam ser comparados.Embora seja bem mais saboroso ler sobre as proezas do Manel...
Abraço amigo; boa semana.
Vitor
Olá, Elvira!
Gosto de pessoas assim, como o Manuel, determinadas, confiantes, trabalhadeiras, que colocam a mão na massa, e só arredam o pé, quando firmam seus intentos. Grande homem!
Beijos
Socorro Melo
Não basta sonhar, é preciso agir. Manuel, em sua simplicidade, só tem demonstrado sabedoria. Pessoas assim, independente do que acontece lá fora, no mundo, muito constroem. Bjs.
Mais uma vez me vi na minha aldeia onde abundavam poços desse tipo e os respectivos tanques. Na minha casa foi construido um menor onde a minha mãe lavava as roupas e também o faziam as vizinhas que não tinham a sorte de ter um poço em casa e muito menos um tanque. Vinham a minha casa com cantaros à cabeça pegar água para as refeições e depois vinham lavar as roupas. Havia depois um outro tanque enorme no quintal da minha casa que armazenava a água para regar . Este já foi construifo muito mais tarde, quando houve possibilidades de se colocar um motor eletrico que puxava a água do poço e enchia um depósito para o consumo da casa ( grandes luxos já!!!) e enchia também os dois tanques; no início, claro a água era tirada com um balde preso a uma corda. Tempos muito difíceis aqueles, Elvira. Muito obrigada pela partilha de mais este capítulo da vida do nosso corajoso Manuel ( nome do meu pai que também precisou de muito engenho para manter a família) Fica bem, amiga e até breve. Beijinhos
Emília
Nunca tinha pensado em como eram construídos os poços, fiquei com uma ideia... :)
E pronto, espero que tanto esforço seja recompensado!
Beijocas!
Interessantíssimas estas histórias da vida real, terei que dizer mais uma vez que adoro lê-las.
Bjs
Elvira,
Estou cada vez mais espantado com a saga do Manuel. E, sem me dar conta, comovo-me.
Beijo :)
Minha querida
Corrigindo-me: :))
'Habemus'
Bj
Olinda
Enviar um comentário