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3.5.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XXVIII


A mulher do Manuel esteve 45 dias no hospital. As crianças, incluindo o cunhado foram cuidadas pelo irmão João e pela mulher deste Palmira. Na verdade as crianças até gostaram daquele tempo. A casa dos tios era de pedra, tinha até luz eléctrica, e depois havia os primos e as outras crianças vizinhas para brincar. O Manuel ia sempre que possível ver a mulher. Fora-lhe feita uma histerectomia total com anexotomia bilateral. Já não tinha hemorragias, e a anemia estava quase curada. Mas o médico dissera que não podia voltar a ter filhos.
 Ele não se importava. O que ele queria era saúde para trabalhar e não faltar com o pão aos que tinha. O resto pouco lhe importava.
 Quando a mulher veio para casa, já não parecia a mesma. Ela estava triste. Sem instrução pensava que já não prestava como mulher, por ter a barriga “vazia” Na verdade muitos anos mais tarde ainda dizia que deixara de ser mulher com 27 anos…
 Estávamos no final de Junho, e a vida retomava o seu curso no velho barracão.
 Enquanto isso no Alentejo mais de vinte mil trabalhadores entravam em greve.
 Em Julho desse ano, um grupo de trinta intelectuais cubanos, liderados por Fidel Castro, nessa altura um jovem com 26 anos, tentaram assaltar o quartel Moncada a 30Km da capital.
 Ainda nesse mês o Armistício de Pan Mum Jon põe fim à guerra da Coreia.
 No final de Agosto, chegou o primeiro bacalhoeiro, e o José Varandas veio com a novidade de que a mulher estava outra vez “prenhe”.
 No barracão do Manuel a mulher estava fisicamente recuperada, e preparava-se para a nova safra que se iniciaria em breve.
 E em Espanha é assinada a concordata com a Santa Sé.
 Ao mesmo tempo que o primeiro bacalhau era descarregado do Hortênsia, François Mitterrand demite-se do governo, e no dia seguinte entra em vigor a Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
 Dias depois Nikita Khruchtchev sobe ao poder. Eram os últimos dias de Verão.
 Em Outubro Adenauer é reeleito chanceler da RFA.
 As eleições em Portugal chegam em Novembro, com a oposição, mobilizando personalidades, como Cunha Leal, e Mendes Cabeçadas, entre outros. Ainda em Novembro dá-se a explosão na fábrica de material de guerra, de Braço de Prata. Rescaldo 12 mortos e duzentos feridos.
 No Natal desse ano, os sogros do Manuel vieram passar a consoada com eles. Trouxeram uns chouriços, queijo e figos. Mimos a que as crianças não estavam habituadas mas que adoraram.
 E antes de o ano acabar, a União Indiana inicia o bloqueio naval a Goa.



Esta historia voltará dia 6.  Espero que continue a agradar-vos. Bom fim de semana

32 comentários:

lis disse...

Ainda bem que a operação da mulher de Manuel foi bem sucedida e pode voltar ao trabalho.
Se fosse nos dias atuais , certamente iria gostar de ter a barriga "vazia" rs filhos já bastavam os que tinham, pra quê mais?
Gosto sim Elvira de saber das historinhas que são bem reais aos meus olhos
e obrigada por retornar sobre o sugestivo nome "Sexta-Feira" .
um abraço

Andre Mansim disse...

Olá Elvira!

Nóssa é muito boa essa história do Manuel!
Realmente você faz uma narração leve e fácil da gente ler e compreender. Parabens!

Andre Mansim disse...

Vou te dar uma dica. Coloca os seus blogs amigos aqui do lado em ordem de atualização, assim conforme seus amigos forem atualizando eles vão aparecer no começo da lista. Pois essa forma de ordem alfabética não privilegia quem escreve sempre.

São disse...

essa afrustração de deixar de ser mulher - e já com tr~es crianças aos 27 anos e com uma vida complicadissima - pode agrdecer-se ao catolicismo ,para quem a Mulher se reduz -ainda hoje - ao papel de parideira e que tem em nenhuma conta a qualidade de vida das pessoas!!

Um abraço

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Veja como são as coisas, Elvira. O Manuel, como a grande maioria das pessoas que habitavam aquele pequeno mundo, envolto em seus problemas, jamais poderia supor toda aquela agitação que movia o caminhar do país em que vivia, e da história da humanidade.
Exatamente como hoje. Quantos "Manuéis", pressionados pelas circunstâncias da vida, jamais tomarão conhecimento do caminhar da civilização pelos tempos... E nem imaginam que estão contribuindo, com sua luta, com seu trabalho, para que esse caminhar venha a ser melhor, um dia...

Um abraço

Maria disse...

Querida Elvirinha:
Cada vez me sinto mais presa a esta história tão vivida e bem contada.
Deve-lhe custar, escrever algumas coisas. Ferem o seu coração de filha.
Mas é tão espontânea, tão verdadeira!
Beijinho
Maria

Socorro Melo disse...

Olá, Elvira!

Muito interessante! Gosto de História, e estou ansiosa para conhecer o desfecho, e ver como se saiu a família do Manuel.

Um abraço
Socorro Melo

Anónimo disse...

Olha outra escritora. Já pensou em escrever um livro? ;)

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Claro que continuamos a gostar! A meada está muito bem "enrolada", e é um prazer vê-la desfiar.
E no Domingo cá estamos; bom fim de semana.

Um abraço amigo.
Vitor

Mar Arável disse...

É sempre agradável

viajar por aqui

MPS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Sabe muito bem como prender-nos! E se Gravelina deixou de se sentir mulher, tenho a certeza de que passou a sentir-se mais mãe.

Beijos

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Continuo seguindo a história e adorando...e deixar de ser mulher por não ter útero, ainda nos dias de hoje há maridos que pensam isso.
Voltarei para continuar a ler.

Beijinho com carinho
Sonhadora

AC disse...

É sempre com emoção que leio um novo episódio dessa saga, Elvira. Ela diz-me muito.

Beijo :)

Emília Pinto disse...

Ainda me lembro de, na aldeia onde nasci pensarem que mulheres sem o útero tinham deixado de ser mulheres; até se entende um pouco, pois havia aquela ideia de que mulher tinha que procriar, até porque era pecado não o fazer. As coisas eram muito difíceis naqueles tempos, mas ter filhos era necessário, muitas vezes até para ajudarem no sustento da casa. Cedo
eram mandados para casa dos lavradores para cuidarem do gado e as meninas, ainda bem pequenas para ajudarem as patroas nos trabalhos da casa Quantas eu vi, sairem da escola e irem logo " servir" como se dizia naquele tempo; muitas iam servir ainda antes de terminarem a 4ª classe e os patrões ficavam encarregados de os mandarem à escola. Havia-os bons, mas havia também alguns muito cruéis. Virei para continuar a acompanhar esta saga tão interessante. Fica bem, Elvira e um bom fim de semana. Beijinhos.
Emília

Lilá(s) disse...

Claro que a história continua a agradar, adoro.
Bjs

Paulo Cesar PC disse...

Elvira, sua narrativa a cada capítulo, vai seduzindo seu leitor. Creia nisso minha amiga. Um beijo no seu coração.

http://odeclinardosonhos.blogspot.com disse...

Olá minha amiga!
Sabe qual a diferença entre ler a sua história e uma outra história qualquer?
É que esta narrada por você aviva-nos memórias de um tempo não muito distante e do qual a maior parte de nós fez parte integrante...
Muitos de nós naquela altura lidá-mos com Manuéis, ali mesmo na porta ao lado...
Para muitos esta é uma linda história do mundo da ficção, para nós era a realidade diária...
Beijo querida

jorge esteves disse...

Desta vez, porque andei um tanto afastado, dei-me ao tempo suficiente para acertar o passo a esta leitura que não perco!...
abraço.

Zé Povinho disse...

Infelizmente ainda hoje há mulheres (e homens) que pensam que o papel da mulher é apenas e só o de ser mãe.
Abraço do Zé

Teté disse...

Que disparate esse de deixar de ser mulher aos 27 anos: importante é que sobreviveu! E pelos vistos ainda teve longa vida pela frente, para ver os filhos crescer. Mas sim, é verdade que gente pouco culta tem esses preconceitos de se não se pode ter filhos, não se é mulher... ;)

Claro que a história continua a agradar! :)

Beijocas!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Contos com gente de verdade dentro e de tempos em que arduamente se lutava pelo sustento da família, sempre numerosa.

Bom fim de semana amiga.

Um abraço

MARILENE disse...

As mulheres que passavam por essa cirurgia pensavam, realmente, que haviam perdido sua condição de mulher, na vida conjugal. Ainda hoje, ela afeta muito, se quem se submeteu ao procedimento ainda não tem filhos. E pode até acabar com um casamento, já que é difícil conviver com alguém que não mais vê beleza na vida.
Quantos acontecimentos políticos estão a ilustrar sua narrativa!
Muito bom lê-la!

Bjs.

Edum@nes disse...

E assim a vida do Manuel, de sua mulher e filhos continuava.
Com o bloqueio naval a Goa, estaria-mos nos anos 1960/61.
Esta palavra "prenhe", terá alguma coisa a ver com o Alentejo?

Obrigado pela sua sempre amável visita.
Bom fim de semana.
Um abraço
Eduardo.

Branca disse...

Querida Elvira,

Sempre uma inspiração sem limites a sua para nos trazer histórias tão reais e sábiamente enquadradas nas épocas históricas em que se localizaram.

Beijinhos
Branca

Unknown disse...

Vidas difíceis num tempo que parece hoje repetir-se.
A situação mundial naquele tempo era uma constante da mudança que era urgente fazer nesse tempo.
Parece que hoje estamos perto desses tempos.

Anónimo disse...

É sempre bom, viajar, recordar e aprender, quando passo por este cantinho.

Bem haja.

Tudo de bom.

vendedor de ilusão disse...

Olá, vim lhe desejar um ótimo sábado, um excelente domingo e uma semana proveitosa, – cheia de paz e plena de realizações!
Abraços.

Edum@nes disse...

Boa tarde amiga Elvira, venho agradecer o seu esclarecimento respeitante, ao bloqueio de Goa. Fiz confusão com a evasão.
Quanto à palavra prenhe. No Alentejo muito usada. Algumas pessoas em vez de prenhe, dizem prenha.
Parir e não dar à luz (ter filhos)
A palavra parir, para algumas pessoas só se deve pronunciar referentes aos animais irracionais.
Referente aos racionais é mais chique dizer-se (dar à luz).

Bom fim de semana,
um abraço
Eduardo.

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Continua a agradar sim, e muito, esta saga incrível, de um extraordinário casal que sobreviveu à duras penas.
Além da história familiar, temos todo um contexto dos acontecimentos mundiais importantes da época.

Muito bom, elvira!
Volto, para o capítulo seguinte.
Bom final de semana.
Um beijo,
da lúcia

Evanir disse...

A amizade é a doce canção da vida é a poesia da eternidade.
O Amigo é a outra metade da gente.
O lado claro e melhor.
Sempre que encontramos um amigo, encontramos um pouco mais de nós mesmos.
O Amigo revela, desvenda, conforta.
É uma porta sempre aberta em qualquer situação.
Um lindo e abençoado final de semana .
Um Domingo na paz e na luz..
Beijos no coração com carinho.
Evanir..
Prazer enorme estar aqui no seu blog.

Kim disse...

Muito bem Elvira!
Como de costume, passo por aqui como se estivesse recuando na tempo, na vida, na aventura, na juventude.
Todos estes nomes me são familiares. Estou velho!
Um beijinho para ti