A Gravelina e o Manuel no dia do seu casamento.
A iniciar o mês de Fevereiro de 1946, chegam a Lisboa 110 detidos do Tarrafal, amnistiados em Outubro do ano anterior. No terrível campo de Cabo Verde, ficavam ainda 52 presos políticos.
Salazar discursa sobre o acto eleitoral a 23 e a 27 do mesmo mês, os mineiros de S. Pedro da Cova entram em greve.
Na Europa é proclamada a república da Hungria, e na Argentina, Péron
assume o poder.
Em Abril, pouco antes do aniversário do Manuel surge o MUD Juvenil, com Mário Soares, Salgado Zenha, Octávio Pato, José Borrego, Maria Fernanda Silva, Júlio Pomar, Mário Sacramento, Rui Grácio, António Abreu, Nuno Fidelino Figueiredo. Participam estudantes e operários. Durante o mês de Maio continuam as manifestações contra o governo. No mês seguinte é criado por republicanos o Movimento de Libertação Nacional, e na Lousã o PCP realiza o seu IV congresso, o segundo na clandestinidade.
Em Julho sai na Time um artigo contra Salazar e o seu governo, intitulado “Portugal: até que ponto o melhor é mau?”. Graças a este artigo, a venda da revista esteve proibida durante seis anos
O mês de Agosto chega com o veto da URSS à entrada de Portugal na ONU.
A 19 de Setembro Churchill, discursa na Universidade de Zurique e propõe uns Estados Unidos da Europa.
Na Azinheira, o Manuel achava que o tempo tinha parado. Faltavam menos de dois meses para o casamento e ele só pensava nesse dia. O bote e os remos não tinham descanso um só dia, e todos os dias faziam a travessia entre a Seca da Azinheira e a Seca do Seixal.
Por isso Manuel nem soube que a 11 de Outubro, se deu a Revolta da Mealhada. Revolta organizada por um grupo de oficiais milicianos a partir do Porto. A coluna marcha até à Mealhada onde é detida e os seus chefes presos. Nem que a 16 do mesmo mês eram executados em Nuremberga, alguns dos principais chefes nazis.
Por fim, Novembro chegou e com ele o tão ansiado dia do casamento. A 9 de Novembro na igreja de Santa Cruz no Barreiro, o Padre Abílio Mendes casava o Manuel com a sua amada Gravelina.
Foi seu padrinho o seu irmão João, e a cunhada Palmira, mulher do irmão.
A partir desse dia, a mulher passou a trabalhar na Seca da Azinheira, e o bote e os remos foram dispensados. Sem casa, ele vivia na malta dos homens e a mulher na das mulheres.
Apaixonado pelo futebol, não passou despercebido ao Manuel, a estreia em Famalicão a 24 desse mês dos “Cinco Violinos” um quinteto de jogadores do Sporting, que despertou a admiração de todos os aficionados do futebol.
Em Dezembro de 1946, as Nações Unidas criam a UNICEF
Para prestar ajuda de emergência, às crianças que sobreviviam entre a fome e a doença, que a guerra espalhara pela Europa
A todos um bom fim de semana. Eu e esta história voltamos dia 26.
15 comentários:
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...a saga de Manuel... Fico extasiada ao perceber como você guarda (ou pesquisa) a vida dessa família!
Beijos de luz e o meu carinho!!!
Zélia
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Boa noite Elvira!
Que história interessante, fico na expectativa da sua continuação.
Um abraço!
Mariangela
A vida do Manuel é dura mas eles continuavam a lutar pela sobrevivência e certamente longe de todos os movimentos políticos na Europa e no mundo.
Recordo aqui na Aldeia quando falavam das guerras e da fome lá longe...e todos numa santa ignorância apertavam a barriga sentindo-se muito felizes por terem direito a uma malga de caldo...
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a minha achega:
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Tarrafal - Campo da Morte !
in - Candido de Oliveira.
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O local é simplesmente pavoroso. Tarrafal – misérrima povoação de pescadores, fica situado próxima e ao lado de uma de uma apertada ravina de ásperos e escalvados flancos elevados e de abruptos declives … 3 raquíticas árvores é a única vegetação que aí se encontra. O sol batendo todo o dia neste pedregoso e árido terreno sem que seja possível furtar à aderência de seus raios, converterá, certamente, a existência dos desterrados que para ali forem mandados, numa torturante vida de desfalecimento físico e moral. … mas há mais … a imperfeita descrição (…) fica muito aquém da realidade deste projectado “inferno”, digno da divina comédia dantesca!...
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saudações, deixo !
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Ainda falei com um dos cinco violinos em Sesimbra...
Bom fim de semana, linda
...e eu Elvira, corro também o risco de me repetir ao maravilhar-me com tão belo e completo trabalho de uma história que merecia um filme.
Gostei imenso da linda fotografia. Autenticidade é o que aqui se respira!
Abraço amigo, amiga
E assim se fez a História dum Povo.
E assim, com as necessárias atualizações, se vai continuar a viver!
A sociedade está organizada de tal forma que entramos num circuito vicioso e de lá não saímos, por muitas voltas que demos à situação.
Terá de ser esta a nossa sina?!
Bom fim de semana
Elvira querida,
Também eu temo me repetir,tal qual a Manu, pois tuas histórias me prendem e encantam,com esta belíssima associação aos fatos da história,que não se limita à Portugal...tua pesquisa perfeita é um verdadeira aula.
Bjsssss,
Leninha
Elvirinha querida:
A Manuel casou com a sua amada. Tiveram meninos e suponho, que uma delas, se chamaria Elvira.
Porquê? só se fala assim, daqueles que mais amámos.
Se acertei, parabéns por esse pai valente e lutador.
Beijinho
Maria
Amiga:
Enganei-me no artigo. Onde se lê A, leia-se O.
Beijo
Maria
Mais um belo capítulo, pelos fatos narrados e por ter sido "coroado" com o enlace de Manuel e Gravelina.
Bom domingo, elvira!
Querida ELvira,
Vou aprendendo...contigo.
beijinhos
Verdinha
Oi, seu blog é lindo, parabéns... que tal dar uma passadinha no meu http://intensevery.blogspot.com.br/
mais um belo pedaço de história.
abraço Elvira
A história está cada vez mais interessante, fico na expectativa da sua continuação.
Bjs
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