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13.7.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XLVIII




Calou-se por uns segundos, como se passados todos aqueles anos, as recordações continuassem a ser muito dolorosas.
Ela sentiu vontade de se levantar, e de o abraçar fortemente, para mitigar aquela dor. Mas quando se aprestava para o fazer, ele retomou a palavra.
-Há coisas de que um homem não consegue falar, porque a dor lhe trespassa  o coração e a vergonha lhe rasga as entranhas.
Calou-se de novo por alguns segundos, passou a mão pelo cabelo e retomou a palavra.
 E então contou  como após o divórcio, se sentia motivo de troça de todo o bairro, de como isso destruíra a confiança em si próprio e nas mulheres, e dos cinco anos que passou em Luanda, trabalhando que nem um doido, tentando não só esquecer o passado, mas também juntar o máximo de dinheiro que lhe permitisse montar a sua empresa. 
Falou-lhe do seu primeiro carro que tinha de conduzir de dia, enquanto terminava o curso que abandonara quando casara. Falou dos pais, do irmão, da morte dos progenitores, enfim de tudo o que acontecera com ele até ao momento em que recebera no escritório a carta dela.
Mergulhado no mar tenebroso das lembranças, não deu pela aproximação da mulher, senão quando os braços dela o enlaçaram pelas costas e lhe disse:
- Perdoa, não queria fazer-te sofrer.
Voltou-se e segurando-lhe o rosto entre as mãos, disse:
- Não há nada para perdoar, Isabel. Tens razão, sempre a tiveste. Não podemos querer, que alguém retribua o nosso amor, se não deixamos que essa pessoa o descubra e nós próprios fazemos tudo para não acreditar nele .
- O que queres dizer com isso? - perguntou trémula.
-Vem, vamos sentar-nos e esclarecer tudo o que há para esclarecer de uma vez - disse pegando-lhe na mão e reconduzindo-a ao sofá.
Sentaram-se ambos lado a lado, mas não abraçados. Ricardo não queria perder a cabeça, antes de ter mostrado tudo o que lhe ia na alma, para que nunca mais houvesse uma dúvida a separá-los.
- Impus a mim mesmo duas regras de ouro. Nunca mais fazer sexo com ninguém sem proteção, e nunca mais entregar o coração a mulher alguma. Aproveitaria da vida as oportunidades que ela me desse e era tudo. Por isso eu nunca poderia ter-me envolvido com a Susana. Ela estava na idade em que eu fora enganado, e sei melhor que ninguém a marca que um desengano nessa idade pode deixar.
Quando fiz o teste do ADN, e descobri que a Matilde era minha sobrinha, decidi que ela tinha que ser minha. De um modo que não sei explicar, amei-a imediatamente. Era como se aquela outra criança que tanto amei e nem cheguei a conhecer, viesse agora para os meus braços. Porém eu não queria tirar-ta, e tu não te separarias dela. Estava num impasse quando o Artur me aconselhou a pedir-te em casamento. Hesitei. Tinha medo do que esse casamento me podia trazer. Tentei manter o coração à margem e guiar-me apenas pelo desejo que despertaste em mim. Mas ainda assim prometi a mim mesmo que tudo faria para que a nossa relação fosse agradável. Mas tu não ajudaste muito. Não aceitavas nada do que te oferecia, e aos poucos ias-te afastando de mim. Do modo que amavas a Matilde, sempre pensei que querias ter filhos e esperava que um dia me viesses dizer que estavas grávida.
 Eu não sabia que tomavas a pílula, e fazíamos amor praticamente todos os dias, mas nunca engravidaste. Comecei a pensar que era estéril, e mais dia, menos dia, ias descobri-lo. Cheguei a pensar que já o sabias e era por isso que ias perdendo a alegria e a naturalidade. E foi nessa altura que me dei conta de como te amava e de que ficaria destruído se te perdesse.