Seguidores

Mostrar mensagens com a etiqueta pesquisa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pesquisa. Mostrar todas as mensagens

17.8.20

CILADAS DA VIDA - PARTE XX


No regresso ao seu gabinete, ao passar pela secretária da sua assistente, João reparou no olhar curioso que ela lhe lançou, e sorriu pensando no quanto Gloria estaria desejando saber quem era a visita e porque estivera tanto tempo com ele. Porém ia deixá-la curiosa mais uns minutos, não por malvadez, mas porque queria ler o cartão que Teresa lhe deixara, e ver no computador se existia a tal padaria-pastelaria “Flor da Avenida”.
Feito isso,  guardou o cartão na carteira, e só então chamou Olga.
-Já avisaste o Afonso, para abandonar a pesquisa? – perguntou assim que ela entrou no gabinete.
-Já. Ele mostrou-se atónito, mas disse que amanhã falava contigo, hoje, como já está perto da hora de saída, não valia a pena vir cá. Confesso que eu também estou surpresa. Estavas tão decidido há dias. Que se passa, fizeste novos exames e já sabes que não tens que te preocupar, ou a tua decisão tem alguma coisa a ver, com a visita daquela mulher, que não conhecias e com quem passaste mais de uma hora?
O empresário esboçou um sorriso.
- Estava a ver que a curiosidade te engasgava antes de perguntares. Senta-te. Aguardou que se sentasse em frente da secretária, e continuou.
-Teresa Sobral é a mulher que procurávamos. Ela também foi informada pelo Centro Clínico do erro, e não sei porquê, mas talvez porque receassem que se eu fosse para tribunal, ela se veria metida em apuros, revelaram-lhe o meu nome.
- E ela procurou-te por…
Olga não se atreveu a concluir a frase. João era um homem muito rico, e uma mulher ambiciosa podia utilizar o seu filho para ficar bem na vida. Porém, ela não conhecia Teresa e não queria fazer maus juízos.
-Procurou-me para me pedir que não avançasse com nenhuma ação sobre o caso e a deixasse em paz durante três meses, dizendo que é nestes primeiros três meses que mais abortos espontâneos acontecem e não queria perder a criança, por se sentir demasiado pressionada.
- Nisso tem razão. E o que vais fazer, entretanto? Vais pedir ao Emílio para investigá-la?
-Não. Ela disse-me quem é, onde vive, o que faz. Inclusive a razão porque procurou a Procriação Medicamente Assistida em vez de querer uma gravidez natural. Combinamos que depois destes três meses vamos encontrar-nos e decidir o  futuro, em função da criança, que como ela diz é filha dos dois.
- E confias nela? Achas que te vai deixar fazer parte da vida da criança, conviver com ela?
- Sabes como sou desconfiado e como gosto de me precaver em todas as situações da minha vida. Todavia confio nela, sim. Observei-a durante todo o tempo que aqui esteve e nem uma única vez a sua linguagem corporal me disse, que o que ela me estava a dizer era mentira.
- Bom e então, como pensas resolver o assunto? Vais contentar-te em ver o teu filho uma ou duas vezes por semana?
- A falar verdade, ainda não pensei nisso. Ainda estou a digerir a situação. E pronto saciei a tua curiosidade?
-Pois, para ser sincera, ainda não. Podias ser simpático e contar-me porque recorreu ela à PMA e não engravidou como toda a gente. É jovem, bonita...
-Não está em nenhuma relação e parece não as desejar.
- “Deus os fez, Deus os juntou”, como dizia a minha mãe.
- O que queres dizer com isso? - perguntou o empresário
- Que é outra desiludida da vida, como tu, - respondeu Olga levantando-se. Bom são sete horas. Está na minha hora de saída.
Se não precisas de mais nada, vou sair. Até amanhã.
-Até amanhã Olga.





A nossa gratidão pelas vossas carinhosas mensagens pelo nosso aniversário.
Bem Hajam!


31.7.20

CILADAS DA VIDA - PARTE XIII




-E em mim, tens confiança? – perguntou Inês.
- Que pergunta é essa? Sabes que confio em ti como em mim mesma. Estás interessada no lugar? Não querias ter um segundo filho em breve?
- Decidimos que só tentaremos uma nova gravidez dentro de dois anos. E estou farta de estar em casa. Podia por o Martim na creche e ocupar o lugar. Daqui por dois anos, o teu bebé, estará com mais de um ano e poderás voltar a assumir a gerência.
- Por mim encantada, mas o Gustavo estará de acordo?
- Tenho a certeza que sim. Já tinha comentado com ele sobre a hipótese meter o Martim na creche e procurar uma agência de trabalho. Não se trata de necessidade, monetária.  Nem sequer estou a pensar numa carreira laboral pelo menos, até ter um segundo filho com uns dois anos. Mas estou há três anos em casa. Como uma máquina sempre a repetir as mesmas tarefas, sem ver nem falar com ninguém a não ser o marido e filho. Um leva grande parte do dia a dormir, o outro está todo o dia fora.
- Então se os dois estão de acordo, o lugar é teu podes começar quando quiseres. Penso que precisarás de algum tempo para procurar uma creche, mas eu preciso que ocupes o lugar o mais breve possível.
-Não te preocupes, já fiz essa pesquisa, e até já fiz a inscrição. Vai começar no princípio do mês, faltam dez dias, mas até lá posso deixá-lo com a minha mãe. Ela vai adorar. Posso começar amanhã mesmo, se tu puderes ir lá amanhã, para me pores a par de tudo.
- Sendo assim, tenho esse problema resolvido. Amanhã faremos o contrato.
Nesse momento, o choro de Martim invadiu a sala através do intercomunicador e Inês pôs-se em pé e dirigiu-se ao quarto do filho seguida pela amiga. No resto da manhã entretida com o bebé, quase que Teresa esqueceu, o grave problema que a afligia. Se Gustavo se admirou de a ver em sua casa quando chegou para almoçar, depois do desejo que a amiga manifestara no dia anterior para voltar à pastelaria, não o manifestou. Cumprimentou-a, beijou a esposa, que acabara de dar a papa ao filho e fez uma festa ao menino, que reagiu mostrando um sorriso de apenas quatro dentes.
- Deixa-o comigo. Eu adormeço-o, - disse Teresa tirando o bebé dos braços da mãe e dirigindo-se com ele para o quarto. Pretendia com isso dar tempo à amiga para contar ao marido, não só que se passava com ela, mas também a sua proposta de emprego.
Cansado das brincadeiras anteriores ao almoço, Martim não levou muito tempo a adormecer. A jovem saiu do quarto fechando a porta com cuidado, e dirigiu-se à cozinha, onde encontrou os amigos à sua espera para darem início ao almoço.
-A Inês já me contou o que se passa contigo, vamos almoçar e no fim analisaremos o caso. Entretanto também me disse que a contrataste como gerente da pastelaria. Tens a certeza que é uma boa ideia?
- Bom, eu não sei como vai ser a minha gravidez. Pode ser calma e não me dar muitos problemas, mas se for semelhante à dela, vão haver muitos dias em que mal me vou aguentar de pé. Por outro lado, com todo este problema, não sei se teria cabeça para tratar de negócios. Sei que a Inês não tem experiência, mal deixou a Universidade, começou a tratar do casamento, e engravidou poucos meses depois, mas é inteligente, de confiança e está lá o pai. Quando fiquei com o negócio eu sabia tanto do assunto como uma criança. Foi o Mário quem me ensinou, e tem sido o meu braço direito ao longo destes anos. Ele ajudará a filha.  A não ser, que não estejas de acordo, não quero de modo algum, criar problemas na vossa relação.
- Bom, é verdade que já tínhamos inscrito o Martim numa creche e que ela pretendia trabalhar uns dois anos antes de termos outro filho. É a sua vontade e eu nunca me oporia aos seus desejos, se isso a faz feliz. A felicidade dela é a minha felicidade.