Solidão
Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso
Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio
É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou
Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna
Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo
Mia Couto,
in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
9 comentários:
Muito linda poesia de Mia Couto! Adorei ler! beijos, tudo de bom,chica
Gosto muito pouco da escrita de Mia Couto tirando um ou outro poema como este que gosto bastante.
Beijos e um bom dia
Poema lindíssimo que elogio e muito gostei de ler
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Cumprimentos cordiais e poéticos
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Belíssimo poema!
Li o "Raiz de Orvalho" há décadas, mas já não tenho o livro comigo. Foi um dos muitos que emprestei a não sei quem e que nunca mais voltei a ver...
Saúde e um grande abraço, Elvira!
Fantástico poema!! Obrigada pela partilha!
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Pode a esperança ser o meu porto seguro...
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Beijo e uma excelente semana.
Não conhecia...
Beijinho, boa semana
Boa tarde Elvira,
Um poema maravilhoso de Mia Couto de quem aprecio imenso a poesia!
Beijinhos e continuação de boa semana com saúde.
Ailime
Mia Couto sabe que a solidão é um sentimento avassalador.
Adoro, tanto a sua prosa, quanto a poesia.
Gostei muito deste poema que nunca tinha lido antes.
Impressinou-me deveras. Na verdade, não são os locais que nos trazem a solidão, é ela que nos acompanha para a cidade ou para a aldeia mais pequenina. Carregamo-la connosco.
Forte abraço, Elvira.
Mia Couto devia de ser divulgado nas nossas escolas...
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