A Moura Encantada de Salir
A terra Algarvia já era quase toda portuguesa. Faltava Loulé e pouco mais. E ali nas terras fronteiriças ao Castelo de então imponente Castalar, D. Paio Peres Correia, o incansável conquistador do Gharb, esperava apenas a chegada D’El-rei D. Afonso III para atacar um dos últimos abrigos dos Mouros . Do alto das ameias, o alcaide do Castelo, Aben-Fabilla, olhava para o exército forte e disciplinado que se espalhava pela planície em frente e que ele sabia não poder vencer. Para mais, sentia que a confusão começava a estabelecer-se em seu redor. Não havia possibilidades de resistência. Quanto muito, possibilidade de fugir. E, mesmo assim, seria necessário não perder tempo… Aben-Fabilla percebeu que a batalha estava perdida, ainda antes de começar. Alguns dos seus homens tinham já começado a debanda. Que esperava ele então? Decidiu-se. Voltou costa s ao mar alto de guerreiros e voltou aos seus aposentos. Assim que o viu, sua filha, que era também o seu grande amor, correu para ele. - Que faremos meu pai? Aben-Fabilla baixou a cabeça. Vencido. Desanimado. - Parece bem grande a provação que nos espera, minha filha! Decerto é desejo de Alá que percamos este Castelo e toda esta terra! - Acha que não os podemos vencer? Ele limitou-se a abanar tristemente a cabeça. E a limparem os olhos doridos de não quererem chorar. Depois respirou fundo e disse: -Só nos resta fugir! - Filha! Corre aos teus aposentos, junta as tuas jóias e vai-te reunir às outras mulheres que já estão a sair em direção ao monte. É a nossa única possibilidade de salvação. Lá nos encontraremos depois. E não a olhou mais. Se a tivesse olhado, ficaria com medo… Mas, o alcaide só pensava em esconder a sua fortuna, enterrando-a antes de abandonar o Castelo. Um dia voltaria para recuperar esse tesouro que agora não podia levar consigo… Entretanto á em baixo, na planície, notava-se um movimento estranho… os cristãos tinham descoberto a fuga dos Mouros e D.Paio Peres Correia dera ordens para atacar sem demoras. A escalada do Castelo começou imediatamente, no meio do alarido e confusão. Subia com os cristãos o clamor da vitória! Mas quando transpuseram as ameias do Castelo, uma grande surpresa os aguardava. Conforme nos conta a lenda: não viram um único Mouro! Apenas havia uma linda Moura, ajoelhada, orando fervorosamente, como alheada de tudo e de todos. Era a filha de Aben-Fabilla. A única pessoa que ficara no Castelo, esquecida dos que fugiram em grande alvoroço. O Jovem e corajoso D. Gonçalo Peres, um dos homens mais corajosos das hostes _Senhora! Que fazeis aqui? -Estava orando, Senhor. -Senhora, escutai-me… Castalar é nossa. Todos os seus companheiros fugiram. Entredentes, a Moura murmurou, numa mistura de desolação e raiva: - Salir! Salir! Foi essa a ordem que lhes deram…é tudo o que sabem dizer. -É o que vós tendes a fazer também, senhora! Sair… ou Salir, como vós dizeis. Não percas tempo… sereis capturada ou morta, se vos apanharem! Compreendes? Cabeça erguida, rosto imperturbável. Uma única resposta: - Prefiro morrer… a Salir! Então, o jovem cavaleiro enervou-se. -És ainda muito nova para morrer. Muito Nova e muito Bela. Foge também! Sai por essa porta que dá para o Monte…por essa porta por onde saíram os outros… Mas depressa, senhora, depressa!... Dentro em breve, meus companheiros estarão aqui! E poderão pensar que fiquei encantado por ti… -Encantado? A pergunta soou como um desafio. E ela ergueu os braços. Numa atitude de prece, ou talvez de vitória. Conta a lenda que nesse preciso momento, transtornado pela falta da filha que não encontrava em parte alguma, o velho Aben-Fabilla subiu ao ponto mais alto do monte e ditou umas palavras misteriosas- e tudo se consumou no mesmo instante… Entretanto, no Castelo, a Moura olhava D. Gonçalo Peres dizendo-lhe que não era ele que estava encantado, mas sim ela… Ao dizer isto, a Moura ficou hirta quem nem uma estátua. Logo a seguir chegavam os companheiros do soldado português… - Que bela estátua!- gracejou um deles – até parece viva! -E não estará mesmo viva? - perguntou outro, em ar de brincadeira. Foi a Vez de D. Gonçalo Peres reagir: - Calai-vos! Não vêem que ela é de pedra? A sua voz porém, tremia. Os outros entreolharam-se admirados. – Nunca vi nada semelhante na minha vida! Confessou um deles. – Deve ser uma das tais Mouras encantadas! – disse outro. D. Gonçalo voltou-se para eles e disse: - Deixemo-la em paz! É uma castelã de pedra… temos de revistar o resto do Castelo…Vamos! D. Paio Peres Correia escutava satisfeito os ecos da vitória. Castalar estava em poder dos portugueses. Agora restava apenas Loulé. Depois, o Algarve ficará definitivamente cristão. Quando os portugueses voltaram novamente ao local onde estava a Moura, já lá não encontraram nada…Diz a lenda que esta Moura encantada ainda hoje pena, nos restos do muro do velho Alcácer e guardada por um enorme leão. E nas noites de tempo agreste ouve-se murmurar entre as árvores o som tristíssimo do lamento da última filha do Alcaide Mouro de Salir.
8 comentários:
Passando pra deixar um beijo e desejos de tudo de bom, lindo dia! chica
Mulher bonita tem que ser moura? Pobres das loiras!
Haja alegria!
Bom dia
Mais uma lenda interessante sobre a história de Portugal.
JR
Que bonita, esta lenda da Moura Encantada de Salir!
Saúde e um grande abraço, Elvira!
Boa tarde Elvira,
Uma lenda muito bonita!
Gostei imenso.
Um beijinho e saúde.
Ailime
Conheço uma lenda idêntica... Mas a bem da verdade existem várias lendas com mouras encantadas!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Bela lenda, como todas as do nosso país tão rico em tradições.
Um abraço e continuação de boa semana.
Todas as suas lendas são autênticos ensinamentos! Obrigada
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Voltei ao lugar, onde o passado foi uma vida
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Beijo.
Boa noite...
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