Seguidores

16.9.22

OS CAMINHOS DO DESTINO - PARTE XXIX

 


-Senta-te. Vou contar-te uma história. Outrora dois jovens, enamoraram-se e casaram. Ela era professora, ele publicitário. Ele era jovem e estava muito apaixonado. Ela tinha dois amores. Estava tão apaixonada por ele, como pela sua carreira. E a vida de professora não é fácil no nosso país. 
Durante anos foi colocada em escolas longe de casa, passava a semana toda fora, só vinha a casa aos fins-de-semana, ou de quinze em quinze dias. Ele sentia a solidão, desiludia-se, não era aquela a vida com que tinha sonhado. O amor arrefecia e começava a questionar-se. 

Não estava preparado para viver uma vida inteira assim. Então decidiu que era tempo de discutir a relação e decidir o futuro. Conversaram, ele não queria continuar a viver daquela maneira, impôs condições, e ela compreendeu as suas razões. Deixou o ensino oficial, e aceitou ser professora no ensino particular num colégio perto de casa. 
Pouco tempo depois ficou grávida. Teve uma menina. Durante quase dois anos esteve sem trabalhar, mas não era a mesma. Definhava dia a dia. Ela não sabia viver longe das aulas e do ensino. Penso que se tivesse de escolher entre a profissão e o casamento, optaria pela profissão. Procurou um infantário para deixar a filha e retornou à escola. 

Naquele fatídico dia de Dezembro, ela vinha de uma reunião por causa das notas, do primeiro período quando foi abalroada por um carro em alta velocidade, e contramão. Teve morte imediata. O marido ficou doido de dor e raiva. Procurou saber quem tinha provocado o acidente, jurou vingança. 
Soube que o condutor do outro carro morrera igualmente no local. Mas ele não ia sozinho. Ia uma mulher com ele.
 Cheio de ódio, o homem procurou essa mulher. Só pensava em vingança. Foi ao hospital, fez-se passar por irmão dela, conseguiu informações. Disseram-lhe que chegara em perigo de vida com uma hemorragia interna, que tinha perdido o bebé, que  fora submetida a uma cirurgia de urgência, estava em coma e com prognóstico reservado. 

Atendendo ao facto de ter dito que era irmão dela, deixaram-no vê-la por breves minutos. A visão do sofrimento daquela mulher, de rosto lívido, o cabelo espalhado na almofada, os cateteres, a sonda, a máquina de suporte de vida, toda aquela parafernália de tubos que a envolviam, aplacaram a raiva do homem. 

Saiu dali desorientado, sentindo-se um monstro. O que tinha pensado era uma insanidade. Aquela mulher perdera, além do marido, um filho, e podia até morrer. Pensou, que tamanho teria o seu sofrimento se perdesse a sua filha e a raiva que o consumira, transformou-se em compaixão. Decidiu esquecer a mulher, dedicar-se à filha, tocar a vida para a frente. 
 Porém nos dias que se seguiram, não conseguia apagar da memória a visão dela abandonada e exangue no leito do hospital. Por isso uns dias depois voltou lá.
 Calou-se por momentos. Ela olhava-o espantada. Não conseguia articular palavra.

8 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Como desconfiava, ele sabia.
Bfds

Tintinaine disse...

Agora, sem segredos, a história vai seguir um novo rumo.
Boa sexta-feira !!!

chica disse...

Os pingos indo para os seus lugares... Vamos ver! Lindo! beijos, ótimo fds! chica

noname disse...

Eu também fui ficando com a impressão que ele sabia quem ela era, mas fiquei surpreendida da forma como sabia, tinha imaginado um detective privado, algo por aí. Isso é que é ter imaginação Sra D. Elvira ahahahah

Beijinhos, e melhoras


Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste capitulo.
Um abraço e tenha um bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Teresa Isabel Silva disse...

Estou surpreendida com o caminhos que a história está a seguir!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

redonda disse...

Ele já sabia e como sabia.

Caderrno de San disse...

Se sabia não sabia que sabia, pois, à medida que avançamos, construímos a história, atando as pontas segundo a nossa imaginação e, Elvira, onisciente, é que nos mergulhará em novos incidentes...risos!
Um abraço,