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25.6.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXIV

 

Novamente o silêncio. Como se Gonçalo precisasse recuperar a força necessária para continuar a desnudar a alma, despindo todo o sofrimento e angústia que a envolviam.

Lágrimas silenciosas rolavam pelas faces pálidas de Helena, e a sua mão como se tivesse vida própria, apertou a dele tentando dar-lhe ânimo. Ante aquela sofrida confissão, toda a raiva que ela guardara durante aqueles anos desapareceu deixando no seu lugar apenas o imenso amor que sempre existiu no seu coração e que durante anos, ela tentara em vão esconder por trás da muralha do ódio e  uma enorme compaixão pelo nítido sofrimento dele.  Pouco depois ele retomou a palavra.

-O cérebro é um órgão muito complexo. Danos físicos são fáceis de detetar, mas danos psicológicos são mais difíceis de avaliar. A minha neurologista diz que as palpitações e flashbacks que sofro são reais, mas a causa dos mesmos não é nada que ela possa identificar e tratar. Acredita que eles estão relacionados com a perda de memória. Devido ao facto do meu subconsciente ter bloqueado memórias do acidente, eu não fui capaz de processá-las e seguir em frente. 

O psiquiatra diz que talvez o traumatismo que sofri com a pancada na cabeça tenha apagado algum pedaço de memória e o psicólogo que talvez de forma inconsciente, o cérebro tenha bloqueado essa informação por medo de voltar a sofrer ao recordar. O certo é que no início de Setembro faz catorze anos e eu continuo desesperado tentando recuperar uma parte da minha vida que se perdeu nesse maldito acidente.

 Durante todo este tempo, sempre que me cruzava com uma mulher mais ou menos da minha idade, pensava se poderia ser aquela a quem amara ao ponto de querer casar-me, todavia não é nada fácil encontrar uma pessoa de quem não se sabe sequer o nome e nunca senti nada de especial, nem nenhuma mostrou reconhecer-me. Já tinha perdido a esperança, quando um dia fui à escola da minha sobrinha, para uma reunião de encarregados de educação. A minha irmã é viúva e além da Sara, que viu naquele dia, tem outro filho o Miguel ainda bebé, razão porque assumi a responsabilidade de ser o encarregado de educação da Sara, na escola, para evitar deslocações da minha irmã.

Quando a Helena chocou comigo, o meu corpo reagiu de forma estranha, e quando me olhou, vi surpresa e medo nos seus olhos. Quis perguntar se me conhecia, mas você fugiu e desde aí pensava em como encontra-la de novo. A minha sobrinha disse-me que não era professora naquela escola, e que só podia ser uma mãe, que ia para a reunião das onze.

 Não sabia como fazer para a encontrar  e desesperava-me quando atendi a Matilde no hospital. E quando vi a sua filha, levei um choque pelas semelhanças com a minha irmã e minha mãe. 

Acreditei que  tivesse chegado a hora de descobrir aquela parte desconhecida do meu passado, mas fiquei sem chão quando mais tarde fui ver a menina pedindo que me ouvisse e a Helena me expulsou do quarto. 

Desesperado falei com um psiquiatra, amigo de longa data que me disse que parecia que finalmente eu tinha encontrado a mulher da minha vida e provavelmente a menina seria minha filha. Aconselhou-me a fazer o teste de ADN, mas eu seria incapaz de o fazer às escondidas. Por isso decidi fazer mais uma tentativa para que me escutasse e coloquei o cartão dentro do livro que ofereci à Matilde.


 Diga-me por favor, - pediu olhando-a desesperado. É a Helena a mulher a quem amei? E a Matilde é minha filha?

 

19 comentários:

Fá menor disse...

Está a ser muito empolgante a leitura desta história. Parabéns!
A Elvira tem mesmo um dom!
Gosto muito.
Beijinhos.

Emília Pinto disse...

Ela não vai ter coragem de dizer que não é a mulher que ele procura, não é Elvira? O coitado já sofreu demais e merece começar a lembrar essa parte da sua vida. Penso que lhe falta essa confirmação para que a memória volte. Vamos lá, Elvira....não nos faças sofrer mais, ok? Um beijinho e um bom fim de semana, com SAÚDE
Emilia

chica disse...

Noooooooooossa! Que suspense.Quantos questionamentos! Tá lindo! beijos, tudo de bom,chica

Pedro Coimbra disse...

Vou citar o CR 7 - SIII :)))
Bfds

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Estamos todos a acreditar que ela não lhe vai mentir.

JR

Tintinaine disse...

E os leitores vão ficar todo o fim de semana a pensar na resposta que ela vai dar. E se a história acabar com um - Sim! E foram felizes para sempre?
Acho que não, é rápido demais e tira fulgor à novela.
Bom fim de semana!

" R y k @ r d o " disse...

Passando, lendo, admirando, acompanhando, elogiando e desejando um
.
Feliz fim-de-semana
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

noname disse...

Caraças, emocionei-me.

Bom dia, Elvira

Maria João Brito de Sousa disse...

FINALMENTE :)

FORTE ABRAÇO, AMIGA!

Cidália Ferreira disse...

Tão bonito este episodio. 🙏🌹
.
Sonhei ser o calafrio do momento ...
.
Beijos, e um excelente fim de semana..

Teresa Isabel Silva disse...

Está a ficar intenso!

Bjxxx
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Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Que bonito e quanta emoção neste episódio!
Comovente, mesmo!
Adorei.
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Edum@nes disse...

As verdades devem ser ditas. Mas ainda não foi desta vez que Helena disse a verdade que Gonçalo deseja ouvir!

Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.

teresadias disse...

Que maldade Elvira, podia ter escrito um pouco mais neste capítulo...
Volto na segunda-feira, em grande empolgamento.
Beijo, feliz fim-de-semana.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Janita disse...

Vai ser a Helena a terminar com todo o sofrimento de ambos.
E a Matide terá o pai que tanto deseja.

Não pude evitar a emoção. Terno e comovente este espisódio.
Grande dramaturga é a Elvira!
Parabéns.

Um grande abraço.

aluap disse...

Muito bom, Elvira!
Parabéns e bom fim de semana.

Rosemildo Sales Furtado disse...

A hora é essa. Por que não abrir o jogo e falar a verdade?

Abraços,

Furtado