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15.1.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXVI



Apesar da hora tardia a que se deitara, Luísa acordou cedo. Estava preocupada com o desconhecido. Será que ainda dormia? Tinha chegado tão exausto e ferido.
 Foi até à janela e correu a persiana. Lá fora a tempestade continuava. Se o vento já não soprava em rajadas tão intensas, a chuva continuava diluviana, e o caudal do rio tinha subido bastante. Felizmente embora a sua casa estivesse no vale, estava suficientemente afastada para não ser afetada. Abriu o armário e retirou umas calças de fazenda bege e uma camisola de gola alta branca. Com as peças na mão, abriu a gaveta da cómoda para retirar um conjunto de roupa interior, quando a porta do quarto se abriu, e o desconhecido falou:
- Desculpe... procuro a casa de banho…
- Segunda porta à esquerda.
Ele murmurou um obrigado e fechou a porta. Luísa foi até lá e correu o fecho interior. Deu graças porque o seu quarto tinha casa de banho e assim não precisaria esperar para tomar o seu duche.
Depois do banho e já vestida olhou-se ao espelho. Era uma mulher alta e magra, cabelos e olhos castanhos, testa alta, pele morena e boca pequena. Não era uma mulher bonita, sabia-o desde menina, mas isso não impediu que se tivesse apaixonado perdidamente por um cafajeste, que lhe ensinou a arte do amor.
Recordou Jorge Silveira, o único homem que amou na vida. Ela tinha terminado os estudos e fora de férias para casa de uma amiga em Albufeira. Era verão, tempo de calor, sol, praia e namoricos. Ela era uma jovem ingénua e sonhadora, ansiosa por conhecer e experimentar as delícias do amor.  A mãe morrera de cancro quando ela mal começara a andar e dois anos depois o pai casara-se de novo. A madrasta era uma boa pessoa, mas não era uma mulher muito carinhosa, ou talvez não o fosse só com ela, porque era a prova viva de que o marido, tinha amado outra mulher antes dela. Quando Luísa fizera dez anos a madrasta soube enfim que ia ser mãe. Ela lembrava-se da ansiedade com que esperou aquele bebé. Mas quando ele nasceu, a madrasta tornou-se ainda mais indiferente com ela, e o pai só tinha olhos para o menino que sempre desejara, e que a primeira mulher não lhe soubera dar. Luísa, podia ter odiado o irmão, que lhe usurpara o pouco carinho que até ali recebera, mas em vez disso, amou o irmão com toda a intensidade do seu pequeno e carente coração. Dedicava-lhe todo o tempo que não estava na escola, e foi ela que lhe ensinou as primeiras palavras.
Faminta de carinho, Luísa foi presa fácil das bonitas e enganadoras juras de amor de Jorge. Findas as férias, e como ambos viviam em Lisboa, o romance continuou e pelo Natal, Jorge chegara mesmo ao desplante de a pedir em casamento, esquecendo-se claro de lhe dizer, que tinha outra namorada e que até já tinha um filho de dois anos. Quando a outra moça a procurara desesperada, Luísa ficara sem chão, a vida deixara de lhe importar, perdera a vontade de viver. Fora nessa altura, que recebera uma carta de um advogado. A sua madrinha morrera Luísa nem sequer  a conhecera, mas que segundo a carta que o causídico lhe entregara, quando respondendo à sua convocatória, Luísa se apresentara no seu escritório, tinha sido grande amiga da sua mãe,  e deixara-lhe aquela casa e um bom dinheiro. O pai aconselhou-lhe a vender a casa, ela era uma menina da cidade, não se habituaria a viver naquele sítio tão isolado. Não o fez. Aquela era a grande oportunidade de se afastar, e esquecer uma vida em que nunca fora feliz. A única coisa que lhe doía, era separar-se de António, o irmão que amava de todo o coração, mas prometera que viria buscá-lo para passarem juntos as férias da Páscoa e parte das férias do Verão.


12 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Sabe qual é a melhor maneira de superar um desgosto amoroso?
Um novo amor.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Nunca se sabe o que o destino nos espera .
Vamos ter aqui um resto de historia ao mais alto nível .

JAFR

chica disse...

As coisas acontecendo e eu gostando de acompanhar! beijos, lindo dia! chica

João Santana Pinto disse...

Parece-me que se acabou de abrir uma janela...

Gostei muito do texto, do movimento e da presença dos personagens e de conhecer um pouco melhor as origens de Luísa e de a conseguir "visualizar".

Vamos, pois, aguardar pelo próximo capítulo...

Abraço e boa inspiração

Maria João Brito de Sousa disse...

Talvez Luísa venha a fazer parte de um novo sonho de um novo sonho de Gil Gaspar...


Forte abraço, amiga!

noname disse...

Quando o destino fala, tudo à volta baixa as orelhas. Vamos lá ver o que vem a seguir.

Bom dia, Elvira

Os olhares da Gracinha! disse...

Já li os capítulos que faltavam e estou a gostar!... Bons momentos de leitura a cada partilha... Bj

Edum@nes disse...

Lá diz o ditado. Depois da tempestade, vem a bonança. Que até poderá ser para ambos uma agradável surpresa?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Kique disse...

Seguindo com interesse a continuação desta belíssima historia
Bjs
Kique

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Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Maravilha este capítulo, com as lembranças dela, ficamos conhecendo seu perfil e imaginando um amor verdadeiro de fortes emoções para ela.
Beijos!

Emília Simões disse...

Bom dia Elvira,
Uma história linda, cheia de emoção.
Mais um belo capítulo.
Beijinhos,
Ailime

Gaja Maria disse...

A suosa para saber o resto da história
Abraço