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11.9.15

A HISTÓRIA DE UM PAR DE BOTAS... DO ESTADO. PARTE IV


                                                foto minha

                                                      IV

O nosso Manuel foi falar com o Capitão, gerente da Seca, para tentar resolver o seu problema. Como ele trabalhava o ano inteiro e a mulher estava prenhe, ele queria uma casa para viver com ela. O pior é que as casas estavam todas habitadas. Só estava vaga a barraca do Pinheiro Manso.
Ele e a mulher não se importavam de ir viver para lá se o gerente autorizasse. E ele autorizou.
No fim de Março, eles mudaram-se para essa “casa”. Era uma barraca de madeira, com uma espécie de sala, com uma bancada,num canto, e dois quartos. Não tinha electricidade, não tinha água, mas tinha o telhado forrado, o que a tornava mais confortável no Inverno.
Manuel era um homem muito habilidoso. Com uma fita métrica, um martelo, escopro e polaina, cola, que ele fazia, misturando farinha com água, pregos e madeira, ele era capaz de fazer maravilhas. Mas onde ir arranjar a madeira?
Todos os anos, quando os navios chegavam, os botes eram trazidos para terra, para que fossem reparados. Eram trocadas as tábuas que estavam em mau estado, substituídas por novas, e calafetados, para que não apresentassem perigo quando voltassem ao mar. À porta da oficina, amontoavam-se as tábuas velhas, e pequenos pedaços de novas. Manuel conseguiu autorização para utilizar essas tábuas, e com elas fez um armário, para a loiça, uma arca para guardar as roupas, o berço para o filho que estava a caminho, e uma mesa. No ferro velho comprou uma cama e duas cadeiras de ferro, que lixou e  pintou de novo. Comprou ainda um fogão, a petróleo, e o resultado foi  que a casita estava “mobilada”, e pronta a habitar.



                  Fogão a petróleo, mais ou menos igual ao do Manuel
                                                     foto da net


O filho do Manuel chegaria no final de Setembro. Porém no início desse mês, uma daquelas tempestades de Verão, abateu-se sobre a seca.
Na noite do dia dois para três, a trovoada rugia estrondosa como se estivesse por cima das suas cabeças. Ele abraçava a mulher que tremia de medo, e tentava esconder dela o seu próprio pavor, quando um enorme relâmpago fez da noite, dia, e o trovão os ensurdeceu. A mulher, aterrorizada de medo, sentia a criança “aos saltos” e ambos sentiram o cheiro a queimado. Pouco depois a trovoada afastou-se mas eles não mais dormiram. A mulher começou com contracções antes de tempo. Talvez por causa do medo, o certo é que a criança se aprestava para vir ao mundo. Quando pelas sete da manhã, Manuel abriu a porta da “casa” encontrou na sua frente, metade do pinheiro caído, cortado, de alto-a-baixo, pelo raio que o ferira. Tremendo, a pensar no perigo que correram, ele chamou a mulher. Ela no entanto não se levantou e apenas lhe pediu que fosse chamar a parteira. Às 11,20 desse dia, a mulher do Manuel dava à luz, o primeiro dos três filhos, que viria a ter, antes de uma infecção, pós parto que quase a matou e a deixou impossibilitada de ter mais filhos.
No final desse ano, o gerente disse ao Manuel, que ia precisar da barraquita, para a nova porteira. Disse-lhe ainda que ele teria que mudar para o barracão junto ao rio, onde já viviam três casais. Porém o barracão era grande, tinha um quarto vago, e ele e a família podia usufruir dele.

                                               

20 comentários:

Pérola disse...

Histórias que emocionam e muito.

Beijinhos

chica disse...

Um novo problema]Uma nova casa? Estou gostando da trama! bjs, chica

Edum@nes disse...

De barraca em barraca,
era assim naquele tempo
trabalho, miséria e desgraça
aumentavam o descontentamento!

Hoje não é tanto assim,
mas há quem tenha vontade
a tudo o que é bom por fim
com severas medidas de austeridade.

A estas horas estão eles frente a frente,
para ver qual dos dois consegue enganar os eleitores
para mim nenhum deles serve para governar rica gente
o meu voto não vão ter, porque dele não são merecedores!

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Tempos difíceis, sofridos...
Mas certamente vencidos bravamente com muita luta, e o principal, amor e fé, que com certeza não faltaram!
Aguardando a próxima!
Abração,
Mariangela

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Passei antes por aqui, para a leitura, e senti fez falta de me inteirar do capítulo anterior. Agora sim, estou a par, até aqui, dessa narrativa ímpar, tão bem detalhada, por uma personagem, herdeira de uma tão digna história! Parabéns, Elvira...
...aguardo a próxima, meu abraço!

Rosemildo Sales Furtado disse...

Não importa se na barraquita ou no barracão. O importante é o que sentem no coração. Continuo gostando da história.

Grato pela visita e pelo gentil comentário deixado no nosso Literatura & Companhia Ilimitada.

Abraços,

Furtado.

PS. Estou acompanhando e comentando desde o início da história.

Pedro Coimbra disse...

Vou continuar a seguir as desventuras do Manuel.
Estou a gostar muito.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, diz um ditado português, "quanto mais pulgas tem o cão mais se agarram" é o caso da família Manuel.
AG

Unknown disse...

Boa noite
Vidas feitas de dor que os tornou mais fortes e amigos.

Majo disse...

~~~
~ Está lindo o conto...

~ Muitas dificuldades,
mas muito amor e ternura.

~ Grande abraço amigo. ~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Janita disse...

É no infortúnio que o verdadeiro amor prevalece e se fortalece.

Um abraço

Isa Sá disse...

É nos momentos de aflição que se vê o verdadeiro amor.

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

esteban lob disse...

Nueva atrayente historia, apreciada Elvira.

aluap disse...

Suponho que a primeira dos três filhos foi uma menina.

Um abraço de amizade.

Rogério G.V. Pereira disse...

Eis uma coisa que invejo
não ter tido por leito
um berço feito de tábuas
de barco

Quantas marés não conheceria num só sonho?

(excelente conto! Se o fogão é "Hipólito" talvez ainda tenha espalhadores para ele...)

Emília Pinto disse...

Estava eu a iniciar a história desde o primeiro capitulo, quando li o teu agradecimento aos amigos que "participaram" da festa do teu aniversário. Deixei a leitura de lado e apressei-me a vir aqui dar-te os parabéns. É claro que não posso esperar que ainda haja bolo, mas também sei que "é feio ir a uma festa só para comer", portanto, amiga, vamos ao que interessa, Desculpa a minha ausência e atraso em dar-te os parabéns. Mereces toda a felicidade do mundo e é isso o que desejo que a vida te proprcione. Sei que ninguém é feliz sem que os que estão à volta o sejam também e pt os meus votos são extensivos aos teus familiares. Saúde, amiga, é o bem mais precioso que temos e por isso espero que estejas bem e que ela nunca te falte. Nao sei, mas depois daquela tempestade e trovões, penso que o bebé quenasceu foste tu, não? Bem.... vou continuar a leitura, certo ? Um bom fim de semana e até breve. Parabéns!!!!
Beijinhos e a minha sincera amizade
Emilia

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira
Acho que já acertei meus comentários, depois olhe abaixo.
Tempos difíceis aqueles!
Mas tudo irá dar certo na história, espero.
Beijos
Dorli Ramos

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
CONTINUO LENDO E ADORANDO.
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Socorro Melo disse...


Olá, Elvira!

Acabei de ler as quatro partes que faltava, e li novamente a parte cinco. E o que mais me emociona é saber que trata-se de história verídica. O Manuel é um guerreiro. É bonito ver a bravura e o dinamismo de se construir a vida em meio a tantas dificuldades. Mas, e as botas? Estou curiosa, kkk

Abraço fraterno
Socorro Melo

Berço do Mundo disse...

Sigo empolgada para o próximo capítulo desta história emocionante...
Ruthia d'O Berço do Mundo

P.S. Espero que a sua lista de blogs tenha voltado ao normal, às vezes as tecnologias pregam-nos umas partidas