Foto de um grupo de retornados. Em 74, em poucos meses, meio milhão de portugueses regressaram das colonias. Chegavam de barco ou de avião, na sua maioria de "mãos vazias". Fugiam da guerra deixando para trás tudo o que tinham. Esta foto não é minha, (até porque nessa altura eu estava em Luanda) Foi retirada da net
XVI
Para Rosa tudo era novo e diferente, ela não entendia muito bem o que se passava no País mas o que ela notava é que o povo estava mais alegre, mais feliz
XVI
Para Rosa tudo era novo e diferente, ela não entendia muito bem o que se passava no País mas o que ela notava é que o povo estava mais alegre, mais feliz
Por outro
lado, João recuperara o emprego, o filho conseguira trabalho na Siderurgia
Nacional, a filha mais nova fora trabalhar para a Timex, até o filho doente, estava melhor agora, graças a uma bomba que o médico já tinha receitado à muito, mas que ela nunca conseguira dinheiro para comprar. A sua vida estava
muito melhor, ela podia enfim descansar um pouco, deixando o trabalho a dias e
ficando em casa a cuidar do marido e dos filhos solteiros. Podia também cuidar
dos netos, deixando as filhas mais descansadas e mais libertas de
despesas. Porém, sobre ela pairava, como uma sombra, o medo pelo filho ainda lá
longe. Principalmente porque não havendo a P.I.D.E, nem censura, tudo o que se
passava em África chegava a Portugal. Rosa sabia que o governo, estava a negociar
a independência, mas todos os dias chegavam a Portugal “os retornados” que
falavam do medo que sentiam, da guerrilha entre os movimentos de independência,
e alguns residentes pró colonialistas. falava-se de mortes, do
recolher obrigatório, da incapacidade dos militares impedirem os indígenas que
os saqueavam. E o seu filho continuava lá em Angola. Por outro lado, os
políticos pareciam não se entender, os governos provisórios sucediam-se, e Rosa
tinha muito medo que tudo voltasse ao mesmo, ou como diziam alguns, que a
seguir à ditadura fascista, se seguiria uma ditadura comunista. O marido
dizia-lhe, que isso sim seria um sonho, mas Rosa, que era uma mulher sem
instrução, e tudo o que aprendera na vida, ficara-lhe gravado na memória pelo sofrimento, achava
que ditadura nunca seria coisa boa, fosse ela fascista ou comunista. E lembrava-se do
que a avó sempre dizia quando ela era pequena e nem bem sabia o sentido das
palavras. “Atrás de mim virá, quem bom me fará” Tinha medo. Muito medo de ainda
vir a achar que os anos para trás, é que tinham sido bons. Naquele verão, mais de um ano após a revolução, o país parecia caminhar para uma guerra civil, e ela tinha medo do que o futuro lhe podia ainda reservar. Medo que só perdeu, quando em Novembro de 75,
pode enfim abraçar o filho que regressara são e salvo, após a Independência de
Angola. E quase no final desse mesmo mês, a viragem histórica do país, que afastou o espectro da guerra civil.
Agora sim, Rosa era uma mulher feliz.
Fim
Maria Elvira Carvalho
Bom, agora o pedido do costume, aos que acompanharam a história da Rosa. Gostaram da história? Não gostaram? Não se acanhem. É com as vossas criticas que posso melhorar para o próximo.
Maria Elvira Carvalho
Bom, agora o pedido do costume, aos que acompanharam a história da Rosa. Gostaram da história? Não gostaram? Não se acanhem. É com as vossas criticas que posso melhorar para o próximo.
28 comentários:
Gostei muito,Elvira. Tivemos a oportunidade de ver os percalços da vida de Rosa e não só dela: do povo todo! Enfim, um bom final e ficamos com pena que acabou esse conto tão bonito e tão bem escrito! bjs, tudo de bom,chica
como disse no comentário anterior, li agora os dois últimos posts e gostei.
acho que tens muito jeito, embora também acho que esta é uma historia que podia ter sido real e não apenas de ficção.
parabéns.
:)
Leio em ti o prazer e o empenho pela escrita. Conheço a Rosa de que falas, a história contada e recontada com analogias. O final revela uma nova etapa que poderás desenvolver sobre o filho que a Rosa abraçou e os eventuais netos da Rosa, passados que foram os anos entre 1975 e 2014. Concluo referindo que o medo da mudança é muitas vezes percursor de um futuro sem futuro.
Rosa sofreu demais, mas não tem sofrimento que perdure a vida inteira.
bjokas =)
Eu gostei da história, Elvira. Uma história bem contada, com reviravoltas que também tiveram a ver com os acontecimentos da altura, bem situada por isso no espaço e no tempo.
E o final acabou por ser positivo , o que para uma mulher com o sofrimento da Rosa, foi bonito que assim fosse.
xx
Terminou bem, ainda bem, sem ditaduras, nem fascista, nem comunistas. As ditaduras são inimigas do povo. Daquele povo que trabalho para o grande capitalismo explorador desse mesmo povo, cujas as leis são a seu favor. Ainda hoje há quem sofra das feridas não saradas da ditadura Salazarista.
Também sou retornado, vindo de Nova Lisboa - Angola, país que recordo com saudade, cheguei ao aeroporto de Lisboa, com a minha mulher, duas filha, a minha sogra, Deus a tenha lá em paz, e duas cunhadas irmãs de minha mulher, no dia 14 de Setembro de 1975. Ao contrário de algumas pessoas não tenho razão de queixe, ninguém lá me tratou mal, nem eu tratei mal ninguém. Quando para lá fui, em Maio de 1968. Levei uma mala. Quando retornei trouxe muito mais!
Vivamos nós, viva Portugal, viva a liberdade, abaixo a ditaduras!
Boa terça-feira, um abraço amiga Elvira.
Eduardo.
Parabéns, Elvira e muito obrigada pelos belos momentos passados a acompanhar os infortúnios da Rosa, infortúnios que conheço bem, pois vivi nessa época e tive o meu irmão e o agora marido na Guiné ao mesmo tempo.Gostei muito e, como prova, gostaria de te dar uma sugestão que já foi dada antes, por que não continuas a vida de Rosa, através de um dos filhos? Bem...o que importa é que nos proporciones mais contos, certo? Beijinhos e até breve.
Emília
...e ainda andam por aí Rosas destas, ora felizes, ora tristes, com a ingenuidade e o medo à flor da pele...
Se gostei? Vou perguntar à... Rosa
:))
Gran historia, Elvira. Muy humana, con destellos de gran ternura y cambios impensables de capítulo en capítulo.
Gostei muito.
Até porque foi um pouco como "Conta-me como foi".
Fez reviver um período conturbado da nossa História recente que não deve ser esquecido.
No bom e no (muito) mau.
Enfim a Rosa encontrou a felicidade...
Cumps
Gostei muito da história da Rosa, vivi esses tempos, esta história poderia ser verídica, todos vivemos a LIBERDADE com alegria, uma liberdade que transportou com ela grandes corruptos, sem um pingo de amor à pátria, se a história continuasse, contaria naturalmente a continuidade do sofrimento dos filhos da Rosa, para poderem viver no seu país!
Com aquele abraço.
acaba muito bem esta história, que também é de Liberdade...
abraço Elvira
Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.
Gostei muito da Rosa.
Beijo*
Olá, Elvira!
Tudo está bem quando acaba bem, e finalmente a Rosa encontrou um pouco de felicidade na vida.Como tanta outra gente à altura, receosos de que por cá tudo pudesse acabar mal...
E a história, como sempre, está muito bem contada.Como se diz lá na minha terra,a Elvira percebe da poda...
Abraço
Vitor
Aqui costumam dizer:
-Rosa foi uma mulher de armas e não se deu por vencida.
Tempos em que a felicidade atingiu muitos e em que muitos viram a sua vida de muitos anos desfeita. A Rosa estava entre os primeiros, eu estive entre os outros, mas com força e muita vontade foi um recomeçar...
Abraço do Zé
Um final feliz, com a vida a organizar-se e a família ao pé. Mudanças operadas no país e a fé em dias melhores.
Parabéns, Elvira, por esta história que abrange grande parte da sociedade.
Bjs
Olinda
Boa tarde, Gostei muito da Historia que foi real para milhares de pessoas, quando acaba uma guerra com interesses económicos para meia dúzia de famílias e empresas privilegiadas, todos ficam felizes, a rosa não fugiu à regra.
tenho acompanhado todas as boas historia que tem partilhado, consegue envolver, como se fizesse parte dela os leitores.
AG
Ah Elvira eu li com tanto gosto e adorei!
Uma linguagem correta bonita e cheia de emoções,
Espero outros contos , sou sua fã.
grande abraço
Voltei pra dizer que teu PEDACINHO ficou lindo! bjs, chica
Eu gostei imenso. A amiga através
desta história percorreu um bocado
os acontecimentos do nosso país,
através da personagem principal.
Acompanhei estes últimos 40 anos
de Portugal com alegria e tristeza. Sei o que é viver com
inúmeras dificuldades - os meus
pais - não eram ricos, e portanto
sei o que é a vida de um operário.
A amiga escreve bem e descreve
muito bem com ligação bem articulada.Portanto venha a próxima.
Desejo-lhe um bom fim de semana.
Bj.
Irene Alves
Eu gosto muito do seu jeito de situar seus contos na história de Portugal e do mundo! Sinto que vc gosta de um período histórico, vivido mais intensamente pelo seu pai. Isso é muito legal.
A gente pode até ver as imagens e imaginar as situações da época.
Muito bom, mais uma vez, muito bom!
E agora sim, gostei deste final bem feliz!
Bjs
OI ELVIRA!
EU AO MENOS ADOREI.
ACHEI A HISTORIA DE ROSA, MUITO REAL E ACHO QUE O FINAL LHE FEZ JUS,APÓS TANTO SOFRIMENTO UM POUCO DE PAZ PARA SEU CORAÇÃO.
PARABÉNS ELVIRA, TEUS CONTOS SEMPRE ME ENCANTAM.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Ainda bem que Rosa chegou a ser feliz!
Parabéns pelo conto.
Boa semana, beijinhos
Depois de uma vida tão conturbada, a Rosa bem que merecia uma velhice sossegada... a minha mãe chegou em 1976, uma de tantos milhares de retornados, sem nada a que pudesse chamar de seu, excepto as filhas, uma dela bebé recém-nascida (eu).
Obrigada por ter partilhado a estória da Rosa.
Um beijinho, uma doce semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Gostei e muito e deste final feliz que a Rosa tão mereceu.
Um abraço cara amiga e parabéns pela lindo conto.
Enviar um comentário