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25.6.12

BÊNÇÃO DA 1ª PEDRA DA IGREJA DE SANTO ANDRÉ.

Decorreram nos últimos quatro dias as festas  em honra de Santo André, padroeiro desta vila com o mesmo nome.
Ontem, último dia das festas, realizou-se a cerimonia da bênção da 1ª Pedra da Igreja de Santo André, cuja obra vai avançar agora, e dá corpo ao sonho de toda uma população. 


Para os amigos que sempre visito, um pedido de desculpa pela ausência da última semana. Prometo que entre hoje e amanhã, vos visitarei a todos.


A história do Manuel regressará ainda esta semana.


Bom trabalho para quem está a trabalhar, e boas férias para os que as têm.

18.6.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XXXIX


 foto do Sputnik

 A greve dos salineiros começara á poucos dias quando no início de Agosto é publicado o despacho decretando que a Siderurgia Nacional se instalaria no Seixal. Isto dá início à maior crise política da margem sul, pois como já foi dito anteriormente, a população de Alcochete, tinha grandes esperanças de que fosse para lá. Sonhava-se com isso para tirar o concelho da miséria em que vivia confinado apenas ao trabalho de quase escravidão das salinas. Além do mais as Salinas ficavam paradas todo o Inverno e os homens não tinham onde ganhar o pão de cada dia. Vários políticos demitiram-se em bloco entre eles o presidente da câmara.
Na Seca, dizia-se que a instalação da Siderurgia do outro lado do rio ia empurrar este para o lado de cá. Manuel ficou apreensivo. O barracão ficava a menos de dez metros da água quando as marés eram grandes. Bom o barracão estava assente em pilares de cimento com 1 metro de altura. As águas não iriam nunca chegar ao barracão Mas e o quintal em frente que tanto lhe custara a romper por entre chorões e silvas? E as capoeiras com os animais, encostadinhas ao barracão mas assentes no chão? Além da falta que as coisas lhe iam fazer para uma melhor alimentação da família, não era nada agradável se quando descesse os degraus da escada de madeira ficasse com os pés de molho.
Por esses dias, os pescadores de Matosinhos formam uma comissão para lutar pelo descanso ao domingo e recusam-se a embarcar antes das 10 da noite nesses dias.
Por esses dias surge o reino de Marrocos com Mohamed V e no mesmo dia o franco francês desvaloriza 20por cento.
Antes do término de Agosto a Malásia torna-se independente.
E o mês termina sem que a greve dos salineiros chegue ao fim.
 A injustiça da repressão sobre os salineiros, foi tão grande que acabou por achar apoio em figuras importantes do Partido da União Nacional, que exerceram influência decisiva sobre o governo em Lisboa, obrigando Veiga de Macedo, o Ministro das Corporações na altura, equivalente ao atual ministro do trabalho, a impor aos grémios da Lavoura, representantes dos proprietários das salinas, um novo contrato coletivo para todos os salineiros do Tejo e Sado, com importantes melhorias salariais.
 Na Seca, o Manuel e todos os outros trabalhadores respiram de alívio. Afinal, a Safra poderia seguir o seu curso e o trabalho não iria faltar.
 Em Outubro as comemorações da implantação da República são aproveitadas para manifestações contra o regime. Ainda em Outubro Humberto Delgado visita Henrique Galvão, que continua detido em Peniche, este sugere que Delgado se candidate e contacta António Sérgio, que será o principal agente organizador de um apoio civil a Humberto Delgado. É também nesse mês que é lançado o Sputnik. Competição espacial. A competição vai também chegar ao espaço quando a URSS lança o primeiro satélite artificial, o Sputnik I, para, logo depois, ensaiar o disparo do primeiro míssil balístico intercontinental. E em Dezembro numa reunião de nacionalistas das colónias portuguesas, estudantes na Europa, forma-se em Paris o Movimento Anticolonial (MAC). Através de greves e concentrações, milhares de trabalhadores rurais de diversos locais Pias, Sousel, Casa Branca, Vidigueira, Glória, Évora, Serpa, Viana do Castelo, Ermidas, etc. conseguem aumentos salariais por ocasião das colheitas.

Para todos os que por aqui passam uma boa semana.

15.6.12

BLOGAGEM COLETIVA - AMOR AOS PEDAÇOS - QUESTIONAMENTO





 LUÍSA

O som estridente duma campainha sobressaltou a jovem arrancando-as das suas recordações. Pousou a caneta sobre o livro que tinha na sua frente, levantou-se, alisou a bata branca e depois de um breve olhar ao quadro, onde uma luz assinalava o quarto 9 dirigiu-se para lá.
Uma mulher precocemente envelhecida debatia-se na cama com imaginários inimigos, gritando e puxando a ligadura que a prendia à cama, para que na sua loucura não se magoasse.
Luísa tentou acalmar a mulher enquanto a fazia engolir um calmante. Movimentou a cama para deixar a doente mais confortável, e ajeitou-lhe a almofada. Aos poucos a mulher acalmou e Luísa voltou para a sala das enfermeiras.
O relógio aproximava-se das 3 da madrugada, a colega de turno, dormitava, e o hospital mergulhara de novo no silêncio.
Luísa passou a mão pela testa inquieta. E deixou que aflorassem à memórias as recordações que a atormentava.
 João fora o seu primeiro e único amor. Começaram a namorar nos bancos da escola, e cresceu a sonhar com aquele casamento. Sempre pensara que ele a amava do mesmo jeito. Mas sem saber como Luísa achou-se grávida. E desde aí João insistia para ela fazer um aborto. Recordou a última conversa na tarde do dia anterior.

“-  Mas Luísa, isso não pode ser minha querida. Não pudemos casar já. Acabei o curso agora. Nem sequer tenho trabalho. E tu acabaste de conseguir emprego. Mas ainda estás no período experimental. Se descobrem que vais ter um filho…
- Um filho que é teu, não esqueças. E porque é que não podemos casar já? Não podemos comprar tudo o que precisamos? De acordo. Compramos o indispensável.
-Mas Luísa nós somos tão novos. Um filho em princípio de vida vai ser uma prisão. Se tu quisesses…
- Não João não me venhas com propostas imorais. Não somos tão jovens que não tenhamos idade para tomar a responsabilidade dos nossos atos.
- Mas Luísa podíamos…
- Não, não e não. Já te disse que não posso nem quero fazer o que me pedes. Se não queres o teu filho, vai-te embora de vez. Eu arrostarei com as consequências da minha leviandade. Mas não me digas mais nada. O meu filho não pediu para nascer, mas tem esse direito.”

Luisa saíra batendo a porta da casa onde sonhara viver um dia, com a certeza de que estava acabado um capitulo da sua vida. Mas essa era a única certeza porque de resto tudo em si eram dúvidas.
  Se João a amava porque reagira assim quando ela descobrira que estava grávida? Porque lhe queria impor um aborto que ela não desejava? 
Como poderia João ser um ser tão imaturo e egoísta? E como é que ela nunca se apercebera disso? Sentia-se perdida. Ela nunca desejara aquela gravidez. Não sabia mesmo como fora possível pois sempre tomava a pilula. Mas alguma coisa anulara o efeito desta. Seria um sinal Divino para lhe mostrar o verdadeiro caracter do João? De uma coisa ela tinha a certeza. Nunca faria o aborto. Ainda que perdesse o namorado. E o emprego. Acabara de enterrar as suas mais caras ilusões. A sua decisão estava tomada, mas não podia deixar de se questionar. Claro que lá bem escondido num recanto do coração, morava a esperança de que João  reconsiderasse. E ela  poderia olhar para ele com o mesmo amor depois de tão grande desilusão? Até onde iria a sua capacidade de perdoar? E de apanhar os cacos e reconstruiu o encantamento que fora a sua vida até à descoberta da gravidez?
A noite decorrera na maior normalidade e Luisa acabou deixando o trabalho às 8 da manhã, completamente extenuada. Mas quando alcançou o portão e João surgiu na sua frente com um pedido de perdão no olhar, e umas minusculas botinhas de lã na mão, dissiparam-se todas as dúvidas, e o rosto abriu-se num sorriso radioso.








Este texto faz parte da minha participação na blogagem coletiva, promovida pelas amigas



11.6.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XXXVIII


 Foto do arquivo digital de  Alcochete



Por tudo o que acabo de dizer o Sal era na altura um bem precioso e bem pago. Aos exploradores da Salinas que não aos pobres salineiros. Estes recebiam de jorna diária 30 Escudos, ordenado que se mantinha inalterado há 6 anos. Mas durante esses mesmos 6 anos o moio de sal, que inicialmente custava 50 escudos, era agora de 800 escudos.  Sabendo-se que um moio tinha 840 litros, o preço do sal estava em pouco menos de 1 escudo o litro. Os salineiros trabalhavam de empreitada pois para ganharem o dia tinham que carregar sete moios de sal dos talhos para os muros.  Carregavam-no em canastras, e para cada moio precisavam carregar 15 canastras de 56litros. O que quer dizer que para ganharem o dia, tinham que carregar mais de 100 canastras. Mas isso não é tudo. Inicialmente os patrões começaram a exigir mais uma canastra de sal em cada moio por causa das quebras, depois duas, mais tarde três. E das 105 canastras diárias, o pobre do salineiro já ia em 126. Não é pois de admirar que andassem revoltados. E foi assim que no final de Julho de 1957, os salineiros entraram em greve após terem visto escrito no alcatrão da estrada uma mensagem que a isso os incitava. A caminho do trabalho deram a volta e meteram-se em casa.
Apanhados desprevenidos os patrões usaram de toda a sua influência e recorreram às autoridades.
Daí até que agentes à paisana aparecessem durante a noite, e levassem os salineiros para as “ritas” os famosos carros prisão e os transportassem para o Aljube foi um passo bem pequeno.

Em poucos dias tinham sido presos 35 trabalhadores. Outros conseguiram fugir, mas como não se podiam aproximar de casa, vagueavam pelos campos cheios de fome.
O padre Francisco Ferreira, prior de Alcochete na altura, fez-se a si próprio prisioneiro na sua igreja, levando dias e noites a fio sem por o pé na rua, para não cair nas mãos da PIDE, que achavam que ele teria incentivado os trabalhadores porque ele tentou ajudar as mulheres e filhos dos mesmos que se ficaram sem o seu ganha-pão e sem comida.
Mais tarde depois de passado o perigo de ele próprio ser preso, ia visitar os presos e levar-lhes algum conforto.
Os salineiros foram apodados de comunistas, mas na sua grande maioria, senão na totalidade não tinham qualquer cor politica.
A greve prolongou-se porque a maioria dos patrões não cediam e preferiam ir buscar trabalhadores a outros concelhos a pagar mais, do que negociar com os salineiros da zona.
Na Seca da Azinheira como em todas as outras a situação era altamente preocupante pois sem sal não se podia fazer a cura do bacalhau e se não se podia fazer a cura, toda aquela gente que tinha vindo do norte do País para a safra ficavam sem trabalho e sem meios de se sustentarem ou de regressarem à terra.


fonte principal na pesquisa para este capitulo
 http://www.aipd.pt/centro-de-documentacaoxmalcochete-na-historiaxm/historia/145-a-greve-do-sal-de-1957

Esta história volta dia 17 já que no dia 15 será dia de mais uma blogagem coletiva 


A todos uma excelente semana

7.6.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XXXVII


 Foto de Dias Reis
Para iludir o regime e comemorar o 1º de Maio sem que fossem todos presos, tipógrafos no Porto e jornalistas em Lisboa organizam piqueniques de confraternização. Enquanto isso, agricultores de figo e da vinha reclamam do Governo medidas urgentes quanto ao preço dos produtos agrícolas e o arranque da vinha americana.
Na Seca falava-se dum novo navio bacalhoeiro que estava a ser construído em Aveiro nos estaleiros de São Jacinto e que dizia-se era maior e ia trazer muito mais bacalhau e por consequência mais trabalho para aqueles que dependiam dele para a sua sobrevivência.
 Junho termina com a condenação o julgamento dos 52 jovens pertencentes ao M.U.D. E no final do mês seguinte é a vez dos dirigentes do Movimento Nacional Democrático. Em Julho é libertado das prisões da PIDE, Agostinho Neto que haveria de vir a ser o primeiro presidente de Angola, após a descolonização.
Desde Abril que se fala com insistência na construção de uma Siderurgia a Champallimaud na zona. Diz-se que será no Seixal ou em Alcochete. Manuel tem duas cunhadas a trabalhar na Pescal, Seca de Alcochete e dizem que por lá a população anda muito animada e quase com a certeza de que irá ser lá a construção da dita Siderurgia. Dizem que já em 1912 o avô do actual empresário tinha um projecto para uma Siderurgia em Alcochete. Por outro lado a zona era muito pobre. O trabalho existente era nas salinas. Na verdade desde o Samouco a Vaza-Sacos, existiam mais de vinte salinas. O trabalho do salineiro era duro e muito mal pago. Assim a esperança de poderem trabalhar noutra coisa era sonho antigo.  A comercialização do sal era um negócio rentável. Não foi por acaso que
grande parte das Secas de bacalhau se situavam perto de zonas de sal.
Os barcos saiam para a pesca carregados de sal e na volta toda a preparação e cura do fiel amigo era feito com sal. E não só. Naquela época quase não havia frigoríficos em Portugal. E os que havia eram câmaras frigoríficas industriais. As pessoas tinham arcas salgadeiras que serviam para conservar as carnes. 



BOM FIM DE SEMANA     ESTA HISTÓRIA VOLTA  DIA 11.

3.6.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XXXVI



Janeiro de 57 trás o chamamento de um dos cunhados do Manuel para a tropa.  O outro arranjara trabalho numa vacaria na quinta do Himalaia e só vinha dormir a casa. Os filhos do Manuel, já andavam os três na escola da Telha.  A mais velha com 10 anos cuidava dos dois mais novos.   Nesse inicio de 57, o António foi para a tropa para a Trafaria. Uns meses antes fora às sortes, e como ficara apurado o Manuel achou que era altura de o levar à  “desobriga”. Caramba o rapaz não havia de ir para a tropa antes de ser homem. Então um dia levou-o a Lisboa, a uma casa que conhecia bem dos seus tempos de solteiro e entregou-o aos cuidados duma experiente “menina”.  A “dama do pente verde” escolhida pelo próprio jovem, quando a dona da tal casa, posta ao corrente do que o Manuel pretendia,  chamou à sua presença algumas jovens.
Era o tempo em que os estudantes se manifestavam em massa , contra a interdição das Associações dos estudantes, obrigando o governo a anular o decreto lei.
Em Fevereiro  na sede da PIDE  no Porto, é torturado até à morte Joaquim Lemos de Oliveira, trabalhador de Fafe e militante do PCP.
No dia seguinte chega a Portugal a rainha Isabel para uma visita de 4 dias. Na altura o exercito português não tinha lá grandes condições. Os soldados usavam botas demasiado grandes, as fardas tinham que as levar à costureira para um monte de arranjos, etc. De modo que aproveitando a visita da rainha alguém mais "engenhoso" pôs a circular a seguinte anedota. "Na parada em honra à rainha, Salazar querendo impressionar sua alteza, espetou a ponta da sua espada na bota de um soldado que se manteve firme e hirto sem pestanejar. No final da visita, a Rainha pediu para falar com o soldado e quando o teve na sua frente quis saber como ele se aguentara na parada, pois devia estar com enorme dor no pé. Resposta do militar. Saiba V. Excia, que sou soldado português. Calço o 39, deram-me o 43" Na seca os dias corriam na mesma rotina de outros anos e a safra estava quase a acabar. Os pesqueiros preparavam o stock de sal e de mantimentos para a partida que se faria nos primeiros dias de Março.  E em Lisboa a azáfama era grande para o começo regular das emissões de televisão que iriam começar também nos primeiros dias de Março. Manuel ouvira falar duma caixinha mágica que iria mostrar as pessoas dentro dela.  A ele que nem um rádio tinha, fazia-lhe grande confusão e nem acreditava muito nisso. Ver para crer costumava dizer.
A primeira notícia que ele ouviu em Março, nada tinha a ver com a TV. Contou-lha o cunhado Zé Varandas que a ouvira a um trabalhador da CUF. Manuel da Silva Júnior, um trabalhador de Viana do Castelo, fora torturado até à morte pela PIDE. Salazar mantinha o país preso pelo medo imposto por esta polícia ao mesmo tempo em que se fazia correr o boato de que Portugal iria passar de novo a monarquia quando ele abandonasse o poder. 
Por essa altura começam a ser julgados no Porto, 52 elementos da Unidade Democrática Juvenil, enquanto 72 advogados de Lisboa Porto e Coimbra protestam contra a prática da tortura pela PIDE e reclamam do Ministério a abertura de um inquérito.

A todos desejo um excelente Domingo.
Esta história volta dia 7.
 

1.6.12

DIA 1 DE JUNHO - DIA DA CRIANÇA




 MARIANA
 

Porquê sendo tu tão pequenina
És o maior de todos os meus amores
Talvez que ao ver-te me torne menina
Como mais uma flor entre flores.

És qual boneca de porcelana fina
que inocente o mundo vês de mil cores
e eu quisera que sempre o visses menina
mesmo quando mulher já tu fores.


Que os teus olhos de estranha doçura
onde brilha um universo de ternura
nunca tenham uma expressão magoada.

Que nunca, nunca os lábios teus
ao elevarem uma prece a Deus
Digam que da vida estás cansada

 Elvira


Para a minha neta, neste dia mundial da criança, e através dela para todas as crianças que são o sonho e as esperanças  de um mundo melhor.