Maio de 55 foi um mês complicado em Portugal, com as greves dos pescadores (de Matosinhos a Portimão) e dos operários fabris das grandes fábricas do Barreiro. Enquanto isso lá fora chega ao fim o regime de ocupação da RFA, e esta ganha o estatuto de estado Soberano e pede adesão à Nato. URSS, a Albânia, a Bulgária, a Checoslováquia, a Hungria, a Polónia e a Roménia, unem-se no Pacto de Varsóvia.
Em Junho na Conferência de Messina, chega-se a acordo para a criação de um Mercado Comum. E a América garante à RFA ajuda para a criação de um exército próprio.
O mês de Julho trás a remodelação governamental e Marcelo Caetano assume o cargo de ministro da presidência. Pinto Barbosa nas Finanças, Raul Ventura no Ultramar e Leite Pinto na Educação. Foi a primeira vez que Manuel ouviu falar do Marcelo Caetano.
Em Genebra, encontram-se Eisenhower, Bulganine, Eden e Faure.
Ainda em Julho morre Calouste Gulbenkian. Azeredo Perdigão é o testamenteiro, e leva para a Fundação Franz Paul de Almeida Langhans que fora secretário pessoal de Salazar.
A 5 de Agosto, dá-se a assinatura do Acordo Monetário Europeu que, a partir de 1959, substituirá a União Europeia de Pagamentos. E dias depois Nehru corta as relações diplomáticas com Portugal. A frase “Nós não estamos dispostos a tolerar a presença dos portugueses em Goa, ainda que os goeses queiram que eles aí permaneçam” causou mau estar em Lisboa. No dia 20 do mesmo mês a União Indiana encerra o seu consulado em Goa.
No dia 27 no Rio de Janeiro era constituída uma Confederação Anticomunista Interamericana participada por vinte países.
Em Setembro começaram a chegar os bacalhoeiros e a vida na Seca voltou a ganhar animação. Desta vez porém alguns companheiros começaram a falar de prisões, e de outros que não sabiam onde tinham ido parar. Falavam em sussurro e olhando-se de soslaio, desconfiando uns dos outros. O Manuel ficou triste. E teve medo. Medo dos desabafos que às vezes tinha e do que isso poderia causar de dano para os seus. Apertou os punhos amordaçou as palavras e deixou de se queixar.
Em Moscovo Adenauer estabelece relações diplomáticas com a URSS.
Enquanto isso, na Argentina um golpe militar depôs Juan Domingo Perón, presidente do país. Ele só voltaria a governar o país depois de um exílio de 17 anos na Espanha.
E o mês de Setembro termina com a morte de James Dean, ídolo do cinema e a personificação da rebeldia para muitas gerações de adolescentes, num acidente fatal, com apenas 24 anos ao volante do seu Porsche prateado.
Juscelino Kubitshek é eleito presidente do Brasil em Outubro. A URSS repatria os últimos prisioneiros de guerra alemães. Enquanto isso no Alentejo os trabalhadores rurais lutam contra o desemprego. E em Luanda é fundado o Partido Comunista Angolano. O padre Joaquim Rocha Pinto de Andrade é a figura mais preponderante do partido. Cria escolas clandestinas, e bibliotecas móveis, nos bairros periféricos de Luanda, Catete e Malange.
A entrada de Portugal na ONU é votada em Dezembro desse ano. E o comité de ministros do Conselho da Europa adopta a bandeira azul com doze estrelas amarelas como emblema da Europa.
Esta história estará de regresso dia 27.
Tudo de bom para vós e até lá.
24 comentários:
Muito bom esse flashback histórico. Até se acenderam umas luzinhas que já estavam há imenso tempo apagadas. :)
Quantos fatos relembrados, até parece quando a gente ia fazer exames no final do ano, e tínhamos que "recapitular a matéria"...
Não conhecia a frase de Nehru, sobre os portugueses em Goa.
Virei dia 27, já não posso perder, é muito interessante.
um abraço,
da Lúcia
Hahahahahaha, que legal Elvira! Tá aí mais uma aula de uma escrita quase jornalística! Essa sua saga de Manuel realmente é muito original e bem feita! Parabens minha amiga!
Muito bom relembrar esses fatos acontecidos na história.
abraços de um bom dia!
Mariangela
Enquanto a História vai dando saltos em frente o Manuel acrescenta o medo à sua triste sorte.
Cumps
Elvirinha amiga:
Esta história está cada vez mais interessante. Lembro-me do principio dos problemas em Goa. Meu pai detestava gatos. Quando a minha mãe levou um lá para casa, o pai exigiu, que o gato se chamasse Nehru, em sinal de desprezo. Pobre gato!
Venha mais, querida.
Beijinhos
Maria
Elvira
O medo, mais do que aprender-se, intui-se. É Manuel quem no-lo prova.
Beijos
Ser preciso a libertação
A Europa andar a nadar
Livrar-nos da corrupção
Contra ela temos que lutar!
Falam os barrigudos
Para nossa boca calar
Brincam aos entrudos
O que eles comem a gente é que pagar!
Esta pouca vergonha
Terá de acabar
De politica estranha
Democracia não funcionar?
Boa quarta-feira para você, amiga Elvira,
um abraço
Eduardo.
Assim como assim, o Manuel fez o mesmo que muitos outros: calou as justas reclamações, para não pôr em risco a sua família! E, tal como eles, começou a desconfiar das próprias sombras, que surgiam até em lugares insuspeitos... ;)
Beijocas!
1955 foi um ano complicado em diversas partes do mundo e até no universo. Eu nasci em novembro desse ano e minha mãe fez um diário da gestação destacando fatos importantes. Já adulta, fiz meu mapa astral e a astróloga começou a explanação dizendo que no período do meu nascimento havia um conflito cósmico! Que coisa, né? Obrigada pela visita! Hoje, lá no blog, uma sopa desintoxicante! Bjks Tetê - Avaliando a Vida
Minha amiga Elvira,
Obrigada pela sua preocupação e carinho.
Todos os problemas que o texto, expressamente dúbio, deixa adivinhar, são felizmente superáveis.
Abraço
Ná
Voltarei aos comentários mal possa.
Uma mini conferência onde os principais pontos cardeais estão tão claros que diria estar perante uma tese! Maravilha, Evira este seu poder de síntese verdadeiramente fantástico. Hoje relembrei fatos já esquecidos :Obrigada mesmo!
Abraço!
E o Manuel lutava pela vida incessante, enquanto que em Nagar Aveli, os indianos proibiam os portugueses de visitar o seu enclave.
Oi Elvira, como recordo esses tempos. Numa manifestação em Setúbal por causa desse acontecimento, meu pai zangou-se comigo. Nas suas costas usei o seu "Cucciolo" e provoquei-lho uma avaria.
O meu abraço
Querida Elvira, mesmo não acompanhando essa narrativa com a frequência que gostaria, pois os compromissos profissionais tem me impedido disto, não posso deixar de está aqui, ainda que seja para ler o que o tempo me concede. Um beijo nesse seu rico coração minha querida.
Nossa, Elvira..., como ficou bonito o seu blog!... Parabéns!
Olá, Elvira!
De tudo o que li, o que mais retenho é a figura de "quase lenda" de James Dean: esse rebelde sem causa, que fazia acelerar o coração das meninas e causava inveja aos jovens...
Quanto ao resto, tudo muito bem contado e enquadrado, como sempre.
Até ao próximo; um abraço e bom fim de semana.
Vitor
Nesta postagem, você caminhou pela história. Quantos acontecimentos já afastamos da memória! Gosto de vê-los mencionados em seus textos, pois fazem parte de nossas vidas.
Bjs.
Querida Elvira
O mundo em ebulição.
Perfilam-se dois blocos representados pela Nato e Pacto de Varsóvia. A guerra fria: Estados Unidos e União Soviética disputando a hegemonia política, económica e militar do mundo...
E o Manuel na sua labuta...é importante continuar a seguir os seus passos.
Bj
Olinda
Elvira, gostei principalmente da aula de história querida, não lembrava mais de nada que estudei, o teu blog é cultura amiga, um abraço fraterno da amiga. Obrigada pela visita e comentário. Um abraço fratero. Celina
Hola amiga!
Sensacional!
Posso dizer que aprendi muito e estarei sempre por aqui.
Bjs.
ELVIRA
Vim porque è Sexta-Feira...
deixo poesia e o convite: passa no meu blog de dedais...
Consenso
Consenso é palavra bonita
Que muita gente pergunta
O que dizer?
Pois consenso é muitas vezes
Apenas uma palavra de dicionário
Consenso - certeza
Consenso - equilíbrio
Consenso - anuência
Consenso - Tanta coisa...
Mas no dia a dia
Não sinto nenhum consenso,
ao nosso redor...
E é pena...
Pois consenso...
É apenas o pouco ou nada.
Ter ideias e partilhá-las
E respeitar as do outro lado
E nas duas partes
Surge o consenso!
Que afinal...
É tão fácil de conseguir!...
É só preciso... querer!...
LILI LARANJO
E assim vamos revivendo a História.
Parece que foi ontem!
Beijinho para si!
Era preciso ter muita coragem para fazer uma greve em 1955...
Elvira, querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Por vezes faz bem retroceder no tempo e, assim, poder comprovar os logros alcançados e muitas deixar-nos invadir ante a impotência de não ter progredido nada. Excelente trabalho, aliás como sempre.
Um grande abraço, querida amiga
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