Boa tarde, amigos, gente do meu chão.
Fui hoje a nova consulta e pela primeira vez desde Fevereiro, a minha córnea teve melhoras significativas. O Professor disse mesmo que melhorou mais durante o mês de Julho do que de Fevereiro a Julho, pelo que decidiu que continue o tratamento durante este mês. Volto à consulta no dia 27 de Agosto e aí já me deve marcar a data para a nova cirurgia.
O marido Graças a Deus está a recuperar bem, embora ainda mostre alguma debilidade, a visão ainda não esteja totalmente bem, e tenha alguma dificuldade em pronunciar algumas palavras. Mas é um guerreiro e tenho fé de que vai ficar bom. E hoje acompanhou-me à consulta.
Muito obrigada a todos pelo apoio que me têm dispensado. Que Deus vos abençoe.
Abriu a porta, mas se esperava surpreender a mulher que estava sentada atrás da secretária enganou-se. Ela levantou o olhar mas não demonstrou nenhuma surpresa. Era como se já estivesse à sua espera. Bem dadas as circunstâncias, talvez fosse previsível que ele a procurasse, mas havia alguma coisa que não batia certo.
Lembrou do olhar da sua secretária. Era isso. Ela fora avisada da sua visita.
- Precisamos conversar.
- De trabalho? – Perguntou tentando manter-se o mais calma possível.
- Também. Mas não só.
- Só de trabalho. O resto não te interessa.
- Porque julgas que não me interessa?
- Deixaste-o bem explícito há muito tempo Rui. Ah! Desculpa, se me enganei no nome. É que tinhas-me dito que era o teu nome. Não sabia que até nisso mentias.
- O meu nome é Rui Mário. Só mais tarde abandonei o Rui…
- Devia ter imaginado algo assim. Afinal és perito em abandonos.
- Não penses que não me arrependi, Tê.
Parecia sincero, mas ela não acreditava nele. Nunca mais acreditaria nele.
- E foi por isso que voltaste, que me procuraste por todo este tempo, até me teres encontrado? – Perguntou irónica.
-Se te dissesse que tinha voltado, para te procurar desesperado, estava a mentir, e não gosto de mentiras. Mas se te disser que nunca te esqueci, e que muitas vezes sonhei voltar a ter-te a meu lado, juro que é verdade, Tê.
- Não me chames Tê. Não to autorizo. E por favor se não tens nenhum assunto de trabalho, podes sair.
- Muito bem. Trataremos dos nossos assuntos, outro dia, noutro local.
- Não haverá outro dia, como não há nossos assuntos.
Estava verdadeiramente irritada.
- Sempre ficaste linda quando te irritas, quase tanto como… - murmurou ele com uma entoação que penetrou nas recordações dela, como um estilete. Depois, como se não se tivesse dado conta da emoção que tinha provocado, continuou. – Falemos então de trabalho. Há quanto tempo estás na empresa?
- Há quase seis anos, - respondeu, ainda inquieta pelas recordações que lhe assaltaram o espírito
- Então suponho que conheces praticamente todos os empregados, mesmo os que foram admitidos antes de tu cá estares.
- Sim
- E utilizas para admissão de pessoal o método?
- Gestão por competências.
- Muito bem. Posso ver os mapas?
- Claro
- Levantou-se. Vestia uma saia justa, azul escura que lhe moldava cada curva do corpo. Uma blusa de seda azul-bebé que lhe realçava os seios arredondados.
O homem semicerrou os olhos. Como fora possível ter tido aquela mulher e abandoná-la? Porque deixara que a ambição comandasse a sua vida?
Ela tirou uma pasta da estante. Abriu-a sobre a secretária, e durante o resto da tarde, examinaram mapas e mensurações por competências de vários funcionários, a começar pelas chefes de secção, com quem se tinha reunido nessa manhã.