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6.12.23

O NATAL DAQUELE ANO

 



O Francisco frequentava o terceiro ano de escolaridade

 com muito bom aproveitamento. Era um miúdo admirável!

Já vivera razoavelmente mas, atualmente, sofria as 

consequências da quase indigência do pai por, no início 

daquele ano, ter perdido o emprego. Era um bom  

trabalhador, mas a oficina fechara.

Andava o miudinho muito triste e amargurado porque a 

fome, o frio e a tristeza eram o pão-nosso de cada dia 

naquela casa.Como habitualmente, ao aproximarem-se as

férias do Natal, a professora mandou que os alunos fizessem

uma redação sobre essa quadra festiva.

O Francisco debruça-se sobre o papel e, numa letra mais 

adulta que infantil, intitula a sua composição de APELO e 

escreve:

«Menino Jesus: não acredito no que tenho ouvido dizer a 

teu respeito, ou seja, que só dás a quem já tem, e nada dás

 a quem nada tem! Explico-te porquê: eu sei que são os pais

 a darem essas prendas e não tu, que tens mais que 

fazer; se fosses tu, de certeza que davas a todos e, se 

calhar, em primeiro lugar aos mais pobres.

Sim, eu tenho certeza que davas a todos e, se calhar, em 

primeiro lugar aos mais pobres. Sim, eu tenho a certeza que

 seria assim, pois nunca te esqueces que também nasceste 

pobre e pobre morreste.

Não venho pedir nada para mim. Quero lembrar-me que 

o meu pai está há um ano sem trabalho e precisa de 

ganhar dinheiro para nos sustentar. Por isso, não te 

esqueças de lhe arranjar um emprego. 

Eu sei que Natal quer dizer nascimento e, olha, nós também 

nascemos e, com certeza, não foi para que morrêssemos já, 

sem dar testemunho sobre a terra. Se assim fosse, como é 

que poderíamos dar os parabéns pelo teu aniversário?! Já 

agora podes ficar a saber que eu nasci no mesmo dia: nasci 

no Natal»

Pouco antes de as férias começarem, a professora chamou 

o Francisco e disse-lhe que tinha arranjado trabalho para o 

seu pai e, que já poderia começar a trabalhar no princípio 

de Janeiro do próximo ano. Foi tal a alegria dele que 

chorou copiosamente e, então, passou a andar tão 

contente, que os pais não sabiam que dizer. No entanto ele 

não disse porque é que andava assim.

Na véspera de Natal todos se deitaram cedo, pois a 

consoada consistiria em sopa e pão, por o dono da 

mercearia, atendendo ao dia que era, ter condescendido 

em acrescentar ao rol do livro da dívidas.

O Francisco não adormeceu logo. Depois de ter verificado 

que toda a gente estava a dormir, foi colocar o seu 

sapatinho à porta do quarto dos pais, com um bilhete dentro.

No dia de Natal, a mãe, que era sempre a primeira a 

levantar-se, ao sair do quarto tropeçou no sapato do filho. 

Baixou-se, pegou nele, e leu o bilhete: "Pai, a partir de 

Janeiro vai ter trabalho. Foi a minha professora que lho 

arranjou, por causa da minha redação ao Menino Jesus. É 

a nossa prenda de Natal".

Com as lágrimas nos olhos, de contentamento já se vê, 

aquele casal entrou, pé ante pé, no quarto do filho. Ao vê-

lo profundamente adormecido e a sorrir, ambos disseram: 

eis aqui o nosso Menino Jesus!



Fonte AQUI

6 comentários:

Citu disse...

Tierna historia. Me alegro que el niño consiguiera su deseo y su padre tuviera un nuevo trabajo. Te mando un beso

Pedro Coimbra disse...

A melhor prenda no sapatinho, o carinho dos filhos.
Quem tem isso, tem tudo.

Olinda Melo disse...

Adorei esta história de Natal, cara Elvira.
Lúcida e envolvente.
Boa saúde lhe desejo.
Abraço
Olinda

Fatyly disse...

Subscrevo as palavras do Pedro Coimbra.
Beijocas e um bom dia

Tintinaine disse...

Belo conto a lembrar a miséria que por aí vai. Há muita gente a precisar de ajuda e pouca com vontade de ajudar!

Emília Pinto disse...

Que conto emocionante, querida Elvira. O menino tem toda a razão...se fosse o Menino Jesus a dar as prendas daria, principalmente, aos que são pobres. Incutindo essa ideia às crianças, estamos a fazê-los acreditar que o Deus Menino é muito injusto, dá muito a uns e nada a tantos. Beijinhos e estou muito contente por ter-te de volta
Emilia 🌲 ⭐