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12.12.23

NATAL NO EQUADOR




 Juanito, é assim que todos o tratam. Vive na periferia de Quito, a capital do Equador. Embora só tenha dez anos, trabalha como engraxador de sapatos e, com o dinheiro que ganha, ajuda a família.

Estamos na véspera de Natal. Pela manhã, Juanito vai de autocarro para o centro da cidade, a caixa de madeira com o material para limpar os sapatos bem presa debaixo do braço. Espera que o negócio lhe corra bem, pois precisa de comprar uns doces de açúcar para hoje à noite.

Juanito vagueia devagar pelas ruas, olha para os sapatos das pessoas e fala-lhes amavelmente. Entretanto, vai oferecendo também os seus serviços nos cafés. O dia está a correr de feição. Juanito limpa muitos sapatos e recebe boas gorjetas. Antes de subir para o autocarro, escolhe cuidadosamente uns doces para aquela noite e segue depois, feliz, para o mercado onde a mãe e a irmã Dolores vendem produtos. Hoje terminaram mais cedo e levam para casa as coisas que ficaram por vender. Enquanto a mãe embala algumas trouxas, Dolores trata da irmã mais nova, prendendo-a com o pano às suas costas.

Mal acabaram de arrumar tudo, ouvem buzinar na rua. É a carrinha que vai levá-los até junto do pai. Na caixa aberta já estão mais pessoas que também não têm outra forma de viajar. O carro sai da cidade em direção ao campo. Pelo caminho, encontram uma pequena manada de lamas enfeitadas com mantas às cores para a festa de Natal. Ao pescoço têm uns sininhos engraçados que tocam alegremente. De vez em quando, o carro para e alguns passageiros saem.

Uma mulher pergunta à mãe para onde vai.

— O meu marido agora tem um emprego — conta a mãe, com orgulho. — É empregado numa loja, perto do monumento onde fica a linha do equador. De certeza que amanhã, como é feriado, vão receber muitas pessoas e nós vamos passar o Natal com ele.

Escurece quase de repente, sem transição. Percorreram quase vinte quilómetros quando o carro para. O pai vem ao encontro deles com uma lanterna e conduz a família para uma loja pequena. É ali que irão dormir. Em seguida, leva os filhos mais velhos à rua, aponta para uma linha traçada no chão e explica:

— Esta é a linha do equador que divide a terra na metade a norte e na metade a sul — E ilumina o monumento. — E esta pedra está aqui para lembrar-nos que o nome do nosso país, Equador, vem da Linha do Equador.

Juanito coloca-se em cima da linha com uma perna na metade norte e a outra na metade sul. O pai ri-se e diz-lhe:

— É exatamente assim que os turistas tiram aqui as fotografias.

Quando regressam à loja, a mãe já tratou do bebé e distribuiu pelo chão as esteiras para dormirem. Está a conversar com uma mulher e dois homens que também lá vão passar a noite sozinhos. Todos juntos irão festejar a ceia da noite de Natal.

Enquanto a mãe tira da trouxa as salsichas, o arroz e o milho, Juanito dá uma vista de olhos pela loja. Há escaparates com postais, pequenas lembranças em pedra e madeira, artigos de couro, lindas mantas tecidas, ponchos e muito mais. Só quando o cheiro da comida lhe chega ao nariz é que repara que está cheio de fome. E junta-se aos outros.

A sala ao lado está iluminada com velas e tem um pequeno presépio. É ao lado dele que Juanito coloca os doces que comprou. Sorri com orgulho ao oferecê-los a todos com largos gestos. Tem agora tempo de observar melhor o presépio. A servir de pano de fundo está uma pintura de Belém. À frente, o Menino Jesus deitado numa caminha de areia. Em volta, espetados na areia, uns raminhos fazem de árvores e um pedaço de espelho, ao lado, faz de lago. As figurinhas são crianças com os trajes nacionais, um burro, pastores, Maria, José e o Menino Jesus. São todos feitos com massa salgada cozida e pintados com cores.

Depois de comer, os homens tocam canções de Natal nas flautas e as mulheres e as crianças acompanham-nos, cantando. Juanito também tenta tocar na flauta do pai. Que bem que toca!

O homem mais velho sai e regressa com uma segunda flauta que entrega a Juanito, dizendo-lhe:

— Toma, ofereço-ta.

Juanito agradece, alegre com a surpresa, e começa imediatamente a procurar os sons. A noite tornou-se fria. Antes de se deitarem nas esteiras, as crianças embrulham-se bem nos seus ponchos. No escuro, Juanito procura a flauta com as mãos e diz em voz baixa:

— Foi uma bela noite de Natal!



Rena Sack

Weihnachten in aller Welt: Mit 24 Geschichten durch den Advent.

Lahr: Kaufmann Verlag 2008

(Tradução e adaptação)


11 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de Paz, querida amiga Elvira!
Um conto emocionante e reflexivo.
Enquanto uns com confortáveis camas perfumadas e bem forradas, mesas cheias e presentes variados... alguns dormem felizes com tão pouco e uma família ao lado que basta.
Gosto muito de ler seus contos natalinos postados. A maioria são inéditos para mim.
Tenha novos dias abençoados!
Beijinhos com carinho fraterno

Citu disse...

Uy me encantó esa historia de mi país. Te mando un beso.

Pedro Coimbra disse...

A Mariana já me mostrou a prenda de Natal que me comprou.

Tintinaine disse...

Há muitos pobres pelo mundo fora que são felizes com o pouco que têm!

chica disse...

Lindo e tocante conto! beijos, chica

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Mais um grande conto de Natal !

JR

António disse...

Gostei, muito mesmo!
Abraço

Emília Pinto disse...

Uma noite de Natal feliz, com tão pouco ? Por que não somos todos assim? Quanto mais temos, mais queremos e esse é o mal do mundo, querida Elvira Espero que estejam bem de saúde para, assim, terem um Bom Natal
Beijinhos, Amiga!
Emilia

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo conto de Natal.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

teresadias disse...

Muito lindo este conto de Natal, Elvira.
Recordei o momento mágico em que fotografei o marco da linha do Equador, no Ilhéu das Rolas - São Tomé e Príncipe. E claro, cumpri o ritual para a fotografia, um pé de cada lado da linha, como o Juanito do conto.
Beijo, boa semana.
(vou ler mais contos)

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Lindíssimo conto de Natal.
As noites de Natal mais simples são
as mais puras.
Beijinhos e saúde.
Ailime