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17.12.23

A ESTRELA DE PRATA

 


A estrela de prata

Numa árvore que eu cá sei – que nós sabemos – estão uma estrela de prata e uma bola de cristal.
— O que fazemos aqui? — perguntou a estrela.
— Estamos a enfeitar — respondeu a bola.
— O que é enfeitar? — perguntou a estrela.
— É fazer vista, ornamentar, alindar… — respondeu a bola de cristal.
Passou-se um tempo e a estrela perguntou de novo:
— Porque estamos a enfeitar?
— Porque esta árvore não é como as outras. Os frutos dela são raros. Aparecem um dia, luzem o seu quê, conforme sabem ou podem, e depois são colhidos e guardados, até para o ano.
A bola de cristal tinha muita experiência de outros Natais, ao passo que a estrela era nova, de prata fresca, e não sabia quase nada. Mas tinha ouvido falar que havia estrelas cadentes, estrelas que caem do céu e no céu desaparecem, num sopro de luz.
— Não serei uma dessas? — perguntou à bola.
— Talvez sejas, talvez não sejas… Mas não experimentes.
Passou-se um tempo mais, e a estrela guardou para si aquela ideia, uma ideia pequenina. “Não experimentes”, dissera-lhe a bola. E se experimentasse? Foi o que fez.
Caiu, num susto, mas como era leve, inocente e frágil, uma corrente de ar, vinda de uma porta aberta, algures, levou-a consigo.
Levou-a consigo e fê-la poisar, sem estrago, no fofo musgo.
— Olha, é a estrela da gruta — disse alguém que estava a armar o presépio.
E estrela do presépio ficou.
Donde estava, onde a puseram, via o presépio, os pastores, os reis magos, as lavadeiras com a trouxa à cabeça, as leiteiras com a bilha à cinta, os vagabundos, o moleiro, o azeiteiro e todo o povo do presépio e mais as pessoas de carne e osso, que vinham admirar aquela lindeza, sorrir para o Menino Jesus e olhar para a estrela, suspensa do alto da gruta.
Estrela de oito pontas que era, a apontar em todas as direcções, nem ela sabia para onde, brilhou imenso.
Brilhou o mais que pôde.
Para o ano, a estrela de prata já tem muito que contar à bola de cristal.

António Torrado

http://www.historiadodia.pt
Adaptação

7 comentários:

Citu disse...

Es una tierna historia. Te mando un beso.

Cesar disse...

Bela e inspiradora história, que captura o verdadeiro sentido sagrado dessa celebração.
Uma boa semana de natal.

Tintinaine disse...

Estrela atrevida, não se contentou com o seu lugar e foi à vida. Há muita gente assim!!!

Rogério V. Pereira disse...

Nestas noites de breu, diz a essa jovem estrela que se junte à minha constelação!
É que, juntos, brilhamos mais...

Abraço luminoso

Janita disse...

Também, numa árvore que eu cá sei, e onde brilhou uma estrela prateada, no Natal passado, este ano foi passear e apanhar ar, dando lugar a um laçarote vermelho, veja só a coincidência.

Sejam mais simples ou mais elaborados, todos os Contos de António Torrado, têm muito encanto e beleza. Eu adoro-os!

Um abraço e tudo de bom!

Olinda Melo disse...


Estrela que tentou a sorte e teve sorte.
Com todos a olhar para ela como não brilhar
ainda mais?
Belas histórias de encantar. É o que faz a
magia do Natal.
Abraço
Olinda

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Gostei muito desta bela história de Natal.
Um beijinho e saúde.
Ailime