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12.10.22

LENDAS DE PORTUGAL - A PARTEIRA DE IRANA

 






A parteira de Irana

Antes da Ortiga existir havia no local uma povoação mourisca a que chamavam Irana, que terá sido, provavelmente, aquele aglomerado que, mais tarde, veio dar lugar à Freguesia da Ortiga.

Diz a lenda que, mesmo depois de terem desaparecido os últimos sinais de vida das famílias ou clãs mouriscas de Irana, ainda ali existiam indícios da permanência oculta de mouros que viviam em grutas e noutras estranhas moradas.

Entre as primeiras mulheres que vieram viver para essa nova povoação cristã que veio a chamar-se Ortiga, havia uma que se dedicava a assistir aos partos que dariam continuidade ao crescimento populacional.

Uma noite, esta mulher foi procurada por um mouro desconhecido que lhe pediu insistentemente para assistir à sua companheira, prestes a parir.

Como a parteira temesse fazer aquele serviço por ser noite e ainda por cima para um desconhecido, pediu a seu marido para a acompanhar.

Então foram os três à morada onde se daria o parto.

O desconhecido, que era afinal um habitante da antiga Irana, conduziu-os através dos olivais do chamado Campo da Ortiga, parou junto de um zambujeiro e disse:

— Aqui, à minha voz, se abrirá a porta que conduz à minha morada, mas só é permitida a entrada a mim e à mulher que a hora grave da minha adorada moura reclama. E juro por Alah e por Maomé que ao marido desta mulher nada de mau advirá e peço que fique descansado junto deste zambujeiro, esperando, porque dará por bem o seu sacrifício.

Então, o mouro proferiu umas palavras mágicas, a porta abriu-se e ele entrou acompanhado da parteira.

Passado bastante tempo, já o marido da parteira começava a inquietar-se, abre-se subitamente a porta do zambujeiro e surge do escuro alçapão a sua mulher que trás no regaço do avenal uma porção de escumalha negra, que era a recompensa recebida pelo seu bondoso trabalho.

Ambos muito desiludidos com tal paga, foram deixando pelo caminho grande parte do estranho prémio e, quando chegaram a casa, o marido deitou a restante escumalha no fogo da forja onde fazia trabalho de ferreiro.

E qual não foi o seu espanto quando verificou que a escumalha ao fundir-se transformava-se num líquido reluzente e doirado. Era ouro!

Afinal, a negra escumalha, aparentando pouco valor, escondia uma verdadeira riqueza.

Infelizes com a sua imprudente atitude, marido e mulher resolveram voltar atrás tentando encontrar a escumalha que haviam abandonado pelo caminho, mas nada encontraram e, chegados ao olival, já nem sequer sabiam apontar ao certo o zambujeiro que dava passagem à estranha habitação daqueles mouros benfeitores.

Mas, passados longos anos, ainda havia na Ortiga alguns idosos que se diziam capazes de identificar o zambujeiro da lenda.

FONTE:

ORTIGA CONCELHO DE MAÇÃO NO TEMPO E NO ESPAÇO, Leonel Raimundo Mourato, pag.177

6 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Completa novidade para mim.

Tintinaine disse...

Os mouros ainda andam por aí!

Maria João Brito de Sousa disse...

Outra bela lenda que desconhecia.

Um abraço, minha amiga!

Rosemildo Sales Furtado disse...

Eis que finalmente consegui comentar neste teu espaço. Acredito não haverá mais problemas e, assim, poderei continuar a leitura das próximas lendas. Bela escolha Elvira. Parabéns!

Abraços,

Furtado

Cidália Ferreira disse...

Uma autentica aprendizagem .)
-
Entre os muros, a solidão, e o desejo
.
Beijos, e uma boa noite!

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Nem calcula como estou orgulhosa em ver a minha terra aqui enaltecida pelas belíssimas palavras do Sr. Leonel Mourato que conheci bem e era amigo dos meus pais. Faleceu há relativamente pouco tempo.
Mais uma lenda da qual nunca tinha ouvido falar e adorei.
Obrigada, Elvira, por tê-la partilhado.
(Tenho um livro deste senhor, mas é sobre outra temática).
Beijinhos e saúde.
Ailime