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13.10.22

LENDAS DE PORTUGAL - A MOURA DE ALGOSO

 





A Moura de Algoso

 

Algoso é uma pequena aldeia perdida nas serranias transmontanas. Diz uma lenda, que ainda  subsiste, que no tempo dos Mouros existia nos arredores um bruxo famoso, conhecedor de mezinhas milagrosas e sabedor do passado e do futuro. Vivia num casebre um pouco afastado da povoação, mas nem a pobreza da sua casa, nem a distância, obstavam a que ali acorressem quantos acreditavam nas suas capacidades mágicas ou videntes.


Na verdade, todos ali acudiam em busca de cura para os seus males, pedindo filtros de amor ou indagando sobre o que lhes reservaria o futuro. Em certos dias era uma autêntica romaria. E com tudo isto o bruxo criou fama e proveito de homem rico, apesar de continuar a viver no pobre casebre tentando fazer-se passar por miserável. 

Entretanto, os cristãos iam avançando na reconquista de território ainda sobre a dependência dos Mouros e estavam a aproximar-se rapidamente de Algoso. Sabendo disto o bruxo, calculou que a ocupação cristã não viesse a ser muito demorada e decidiu esconder os seus tesouros, para recuperá-los mais tarde, quando pudesse voltar ao seu oficio.


Assim pensando, escolheu o que podia carregar consigo, e o restante meteu-o num cofre de marfim chapeado a cobre. Feito isto, e como precisava de encontrar um bom esconderijo para a sua fortuna, partiu com o cofre debaixo do braço em demanda do melhor local.

 Depois de muito procurar, achou que o melhor sitio era debaixo da fonte de S. João, debaixo das raízes de um enorme e belo chorão que derramava a sua sombra nas águas. Pegou numa enxada e cavou um buraco apropriado ao tamanho do cofre. Meteu-o lá dentro, tapou-o com terra e disfarçou a obra com folhagem e gravetos. 


Terminado o trabalho, levantou-se e olhou em volta. Espantado, viu uma mourinha que, descuidada, descia uma vereda da serra cantando uma velha canção. Convencido que a moura o vira esconder o cofre e estava agora a disfarçando o caso, o bruxo encaminhou-se para ela, olhou-a com uma estranha fixidez, fez uns sinais misteriosos e, recitando certa oração antiga, lançou sobre a menina um encantamento, de tal modo que ela desapareceu no mesmo instante.

 Casquinhando, esfregou as mãos, pegou nos seus haveres e desandou rapidamente para a floresta, donde nunca mais voltou. A lenda da moura de Algoso foi passando de geração em geração. A fonte de S. João de resto, continuava ali, lembrando a todos a desdita da mourinha encantada pelo bruxo e desafiando a coragem de quem sonhasse desencantá-la. 


Uma noite, muito próxima da de S. João, um rapaz de Algoso que se apaixonara pela história sonhou que via a moura na fonte. Mal acordou, decidiu tentar ver na madrugada de S. João se a lenda era verdadeira. Além disso, como corria se alguém visse a moura nas suas horas felizes lhe podia fazer três pedidos que seriam atendidos, o rapaz achou que, apesar do medo, era vantajoso fazer aquela tentativa. Na véspera de S. João, encaminhou-se para a fonte ainda antes de anoitecer por completo. Procurou um local para se esconder, de onde visse sem ser visto, e esperou pela meia noite sem fazer ruído algum. O velho chorão da fonte, já centenário, continuava lançando sobre a água os seus ramos lacrimejantes.


Do outro lado, havia agora um belíssimo roseiral, donde provinha um perfume intenso quando todas as rosas abriam. Chegou a meia noite. De repente o rapaz ouviu uma restolhada vinda das bandas do roseiral. Era uma enorme serpente que, rastejando, se dirigia para a fonte. Aí chegada, mergulhou três vezes. Qual não foi o espanto do moço quando viu aparecer sobre as águas uma menina: a moura da fonte e... mais bela do que tradição contava.

 A moura saltou com leveza da rocha para o solo e, sentando-se na borda da fonte, começou a cantar uma suave canção que o marulhar da água acompanhava, enquanto ela ia passando um pente pelos seus cabelos loiros. Subitamente, uma corça apareceu vinda da floresta e, sem mostrar qualquer receio, aproximou-se da moura, que a afagou com ternura. A corça, num gesto de agradecimento, lambeu-lhe as babuchas de damasco azul. Era realmente um espetáculo de beleza que o rapaz jamais esperava encontrar. 


E, acocorado no seu canto, esqueceu os três pedidos que queria fazer, esqueceu tudo, esqueceu-se até de si mesmo, até que, bruscamente, a moura parou de se pentear, debruçou-se no tanque e desatou num pranto irreprimível. Chorava, talvez, a dor da sua solidão sem fim. Condoído, o rapaz fez um movimento para a consolar, esquecido do que não fosse aquela ânsia de ternura que dele se apoderara. Ao erguer-se, porém, fez estalar sob o corpo os ramos da sebe em que se escondera. A corça embrenhou-se rapidamente no mato e a moura desapareceu subitamente, evolando-se numa névoa  sobre a águas da fonte de S. João de Algoso.


Retirados do livro "Lendas Portuguesas" autor Fernando Frazão



AMIGOS já estamos no Barreiro mas esta semana estamos em exames médicos, que vão terminar na Sexta feira com uma endoscopia. Para a semana se Deus quiser já terei tempo para vos visitar, já que a Margarida entrou hoje para a pré-primária. E os olhos também estão um pouco melhores e ainda estou a meio do tratamento, pelo que tenho esperança de melhoras razoáveis.

11 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Todas as lendas
deviam ser contadas
às crianças...

Mas espera que a Margarida cresça...

Dá-lhe um beijinho meu
(outro para ti)

Pedro Coimbra disse...

Mais uma moura encantada.
E ainda não é de Leiria.

Tintinaine disse...

Não gostei dessa lenda!
Mas gostei das notícias da saúde!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Continuação de uma boa recuperação.

JR

Fatyly disse...

Mais uma lenda fascinante que desconhecia.
As tuas melhoras é o meu desejo.

Beijos e um bom dia

chica disse...

Bela lenda e desejo que todos os exames tenham bons resultados! Que tenham voltado descansados das férias! beijos, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei e não conhecia.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Maria João Brito de Sousa disse...

Mais outra bela lenda que não conhecia.

Ainda bem que os seus olhos estão um pouco melhores, amiga! :)

Forte abraço!

Caderrno de San disse...

Um belo fio narrativo, ainda que sem um final feliz, o ouvinte ou leitor se deixa seduzir pelo fio para não perdÊ-LO.
Um abraço,

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um lenda muito bela que gostei de conhecer.
Fico contente em saber que se sente melhor dos seus olhos.
Que assim continue e que os exames corram bem.
Beijinhos e saúde para os dois.
Ailim

Paula Saraiva disse...

Gostei bastante, não conhecia.
Beijinhos