Laura sabia que se na adolescência lhe tivessem dito que o amor à primeira vista existia e que ela
ia apaixonar-se perdidamente, mal pusesse os olhos no Joaquim, não teria
acreditado. Mais, ter-se-ia rido de quem lhe dissesse tal coisa, tal como se
rira da cigana, que por brincadeira visitara na barraquinha da feira, nas
festas da sua terra, quando ela lhe dissera, que dentro de três dias ia conhecer
o homem com quem se casaria. Rira-se e retirara a mão apesar da expressão tensa
da cigana, e do olhar de pena que lhe lançou.
Agora,
quando às vezes recordava aquele dia, pensava se a expressão da cigana,
significava que ela tinha visto na sua mão, o seu futuro de viúva na flor da
idade.
Também
era certo que nunca mais troçaria de quem pretendesse saber o significado das
linhas das mãos, pois tinha sido precisamente três dias depois, das palavras da
cigana, que conhecera o seu grande amor, Joaquim, no primeiro dia de aulas na
Universidade.
Mergulhada
nas suas recordações, não percebera que aquela música terminara, embora
Fernando continuasse a enlaçá-la como se pretendesse continuar a dançar com ela
a próxima música.
-
Será melhor que volte para a mesa, Fernando! – disse quando se apercebeu do
facto.
-
Porquê? Tens estado lá durante toda a festa. Porque não continuarmos mais um
pouco?
-As
crianças…
-Pelo
amor de Deus, Laura! Até quando vais desculpar-te com eles para continuares
enclausurada no casulo do teu sofrimento? - perguntou irritado.
Entretanto
a música tinha voltado a encher a sala, os casais ao seu redor já dançavam,
enquanto eles continuavam parados no meio da sala. Então ela forçou o
afastamento e ele retirou a mão da sua cintura e acompanhou-a à mesa.
Anoitecia,
e os noivos iriam em breve partir para a sua lua de mel. A noiva levantou o
ramo, fazendo sinal às jovens solteiras para que se juntassem, coisa que elas
fizeram com alvoroço. Então voltou-se de costas, levantou o ramo bem acima da
sua cabeça e jogou-o para o alto atrás de si. Ele subiu demais, passou por cima
dos braços esticados das jovens e foi cair no colo de Laura que se encontrava
sentada a conversar com Rita. Gritou assustada e ficou a olhar muito pálida
para o regaço sem se atrever a tocar-lhe como se em vez de um ramo fosse uma
serpente venenosa.
-
Parabéns, Laura. Se a tradição ainda for o que era, o próximo casamento será o
teu. Só espero que nessa altura não tenha um barrigão como agora, - disse Rita
sorrindo.
Com
as mãos a tremer, Laura pegou no ramo e largou-o em cima da mesa, como se ele
lhe queimasse os dedos, enquanto os noivos se aproximavam sorrindo.
-
Parabéns Mana, - disse Gonçalo. Oxalá se cumpra a tradição. Já é tempo de
abrires essa concha em que tens vivido e procurares ser feliz.
Com
os olhos rasos de água ela pegou em Miguel ao colo e disse:
-Nunca
mais me casarei. E desculpem-me, mas vou para casa. Amanhã é dia de aulas, as
crianças têm que se levantar cedo. Meninos despeçam-se dos tios e avós.
-As
crianças saíram correndo, seguidas da mãe, enquanto Matilde, que durante a lua
de mel dos pais ficaria em casa de Laura, por causa do avançado estado de
gravidez da sua madrinha Rita, beijava os pais, tios, avós e todos os outros
familiares presentes na festa.
Quando
se preparavam para partir, Fernando juntou-se-lhes dizendo:
-Venham!
Acompanho-vos a casa.
8 comentários:
A cigana fez-me recordar um episódio caricato.
Uma cigana que queria ler a sorte de um amigo e ele disse-lhe que não era necessário, que já sabia que ia ter uma namorada chamada Rafaela.
Ela respondeu irritada - "merd@ para ela!" :)))
Coimbra, logo à saída da Ponte de Santa Clara.
Bfds
Ainda não consegui apanhar o fio da meada!
Bom fim de semana!!!
Eu sim, já apanhei o fio à meada. Não fosse eu metaforicamente tecelã, além de poeta :)
Forte abraço, Elvira!
Estou adorando a trama...Lindo capítulo ! beijos, chica
Interesse!
Boa Tarde. Beijinhos
Oxalá que corra tudo bem!! :)
-
Sonhos vagos mergulhados na ilusão
Beijos e um excelente fim de semana.
Boa noite Elvira,
Uma bela história que decerto nos irá proporcionar bons momentos de leitura.
Um beijinho e bom fim de semana, com saúde.
Ailime
A parte da cigana vem trazer um momento bastante interessante ao enredo, um pormenor de grande qualidade, o ter ficado com o ramo num segundo momento, a continuação, num romance que parece que nos oferece o fator “destino”. Talvez por se tratar de uma “continuação”, este seu romance parece-me um pouco mais “emotivo” que os anteriores, ou seja, com uma carga dramática (não sei se é a palavra correta, mas é a que me surge no momento) diferente (talvez com o adiantar do enredo consiga explicar-me um pouco melhor).
Abraço, saúde e um fim de semana inspirado
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