— Regressar?!
E a Luz que vínhamos a seguir? — protestou o mais novo, para quem era doloroso,
depois de tantos trabalhos e canseiras, não levar a cabo o que se tinha
proposto. — Desistimos assim da Luz que nos guiou até aqui? Desistimos, agora,
quando estávamos já perto?
— Compreendo
o que sentes, irmão, também já fui novo… Mas há a criança. Como poderemos
abandoná-la?
— Sim… há a
criança — e também o mais novo, que tanto se tinha esforçado por alimentá-la,
se inclinou e sorriu para vê-la dormir.
— A Luz que
vínhamos a seguir — ponderou ainda o mais velho — não poderá ser ocultada e
dela teremos notícia. Lembremo-nos de que a Luz ilumina e nem mesmo as trevas
podem escondê-la para sempre. O nosso caminho é o do regresso e será longo,
pois teremos de nos revezar com a criança nos braços, embora seja já uma bênção
termos a graça de um alimento que ainda sobrará para um gole de sede nosso. Descansemos,
agora, enquanto dorme.
— Tens com
certeza razão — concordou o mais novo, que também não se sentia capaz de
recusar a criança, presente da noite santa e, quem sabe, daquela misteriosa
Luz.
O braseiro
consumia-se, lento, perfumado pelo açúcar dos figos assados nas brasas. A
ovelha deitara-se junto da criança, aninhando-a na sua lã, também ela
apaziguada, como se tivesse recuperado a sua cria. Uma paz despetalava-se no
silêncio da noite e caía sobre a gruta.
Esta foi a
história. Não adoraram o Messias, salvador, o que devia chegar para que a paz e
a justiça florissem até ao fim das luas, o que teria compaixão do fraco e do
pobre e havia de lançar a sua bênção sobre todas as raças, povos e línguas. O
anjo do Senhor não lhes apareceu, nem foram envolvidos na sua claridade. Não
ouviram cantar: «Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa
vontade».
Mas tinham
vivido o Amor, essência daquela doutrina que ainda não tinha sido pregada e
ninguém registara ainda. No mais íntimo dos seus corações tinham sentido aquela
verdade: «O que fizerdes ao mais pequeno e ao mais ínfimo a Mim o fareis». E
naquela noite, em que os animais falaram, as flores abriram o esplendor das
suas pétalas nas trevas como se as entregassem à luz do meio-dia, e as pedras puderam
deslocar-se para se dessedentarem nos regatos mais próximos, adormeceram com a
criança aconchegada entre eles.
Longe, a
estrela fazia descer a sua cascata de fogo sobre Belém de Judá.
Luísa Dacosta
Natal com Aleluia
Porto, Ed. ASA, 2002
Adaptação
6 comentários:
Uma versão alternativa e muito bonita.
Thanks for sharing
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Vamos a meio da primeira semana do ano, ainda faltam 360 dias para o fim, um longo caminho. O que nos acontecerá durante essa caminhada só Deus sabe!
Bom dia!
Mais um conto muito bonito!! :))
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Sentimentos escondidos na palavras
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Bom Ano. Beijos.
Que lindo, Elvira! Um conto que bem pode ser aquele que conhecemos, não é verdade? Aqui, só faltam a Maria e o José que bem poderiam ter ido procurar alimentos. Nunca se sabe!!! Só sei que adorei! Espero que estejas bem e que, neste ano, os teus problemas de saúde se resolvam. Beijinhos
Emilia
Boa noite Elvira,
Continuando a ler esta bela história que me tem agradado imenso.
Um beijinho,
Ailime
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