Quando voltou, duas horas mais tarde, a tia Rosa já tinha chegado, com o seu inseparável Tomé, um gato que quase não se mexia de tão gordo que estava. A mãe já estava com o almoço pronto para pôr na mesa. Depois de beijar a tia, comentou:
- Gordinho o bichano, tia.
- Que queres, ficou assim depois de castrado. Já me tinham dito, mas o malandro não parava em casa antes da operação.
- Coitado...
– Vamos almoçar que se faz tarde – interrompeu a mãe com a terrina da sopa na mão.
O almoço foi servido com as duas mulheres sempre tagarelando. Absorto nos seus pensamentos, Pedro isolou-se da conversa e foi com sobressalto que sentiu a mão da tia no seu braço, seguida da pergunta:
- Não me estás a ouvir, rapaz?
– Desculpe tia, estava a pensar nas férias...
– Então vê se me arranjas por lá namorada, que eu bem sei o desgosto que a minha irmã sente de nunca mais te resolveres a criar o teu ninho. Sabes que és um caso raro na nossa família? Nunca ninguém esteve solteiro até à tua idade.
- Ora tia, quando chegar a hora, eu penso nisso...
– Quando chegar a hora? Mas rapaz estás quase com trinta anos.
Incomodado com o rumo da conversa, Pedro levantou-se dando o almoço por terminado.
- Vês o que fizeste, mulher? - A voz da mãe fez-se ouvir em tom de reprovação. - Por tua causa não comeu o suficiente.
- Ora essa! Mas eu não disse nada demais. Não me digas que o teu filho fez votos de castidade. Ora se ele não é padre...
– Nada disso, minha mãe. Não quis comer mais para não me dar o sono a conduzir. Pelo caminho paro em qualquer lado e como mais alguma coisa. Vou pôr as malas no carro. A distância é grande, e a mãe sabe que não gosto de velocidades.
E dizendo isto voltou costas às duas mulheres, que continuaram a conversar. Tratou de meter a bagagem no carro e voltou para se despedir. Abraçou primeiro a tia, fazendo-lhe recomendações em relação à mãe, e por fim abraçou esta, apertando-a com força junto ao peito.
- Que se passa, filho? Sinto-te estranho desde ontem. Parece que me escondes alguma coisa.
- Nada mãe, é que é a primeira vez que vou de férias sem a sua companhia – enquanto tentava tranquilizar a mãe, não pôde deixar de pensar que coração de mãe sempre adivinha o que lhe querem esconder.
Arrancou e sem olhar para trás ergueu a mão num adeus. Sabia que as duas mulheres iriam estar ali acenando até o carro desaparecer na curva da estrada.
15 comentários:
Passando para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Comovente e muito belo
o seu conto, Elvira.
Abraço afetuoso.
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Emocionante despedida! Lindo desenrolar...bjs,chica
Bom dia, e venha o próximo episódio que este já era!
E o "sexto sentido" das mães a funcionar.
Um abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
A ver ...
Beijo
E a despedia traz sempre melancolia...bj
A tia Rosa,com o gatinho castrado.Fizeram-lhe a cura milagrosa.Nunca mais vai rebita o rabo?
Coisas da vida, que na vida acontecem, Pedro abraçou sua mãe com um abraço de despedida, de cuja as saudades nunca se esquecem. Quando os filhos estão longe de sua mãe. O Pedro a abraçou, sua mãe sentiu de que algo de anormal está apoquentando o filho. Porque coração de mãe adivinha o que os filhos lhe tentam esconder! Pode ser que ele encontre uma namorada como a tia Rosa lhe recomendou, e que ela seja o remédio para a sua cura!
Boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Corrijo: A palavra "VAI" está a mais, por isso não deve ser lida!
Boa noite Elvira,
Emocionante relato que até tenho o coração apertado,))!!
Muitíssimo bem escrito mantendo tudo em aberto!
Beijinhos,
Ailime
Todas as despedidas são tristes...
Hoje, todas as despedidas são suspeitas...
Despedida sempre é doída, ainda mais nessa história.
A mãe sempre sabe quando algo não vai bem com o filho, ou quando ele esconde algo grave.
Aguardo o próximo capitulo.
Beijos e bom fim de semana Elvira!
As mães sentem sempre que os filhos lhe escondem algo.
É assim, é química.
Bfds
Oi Elvira
Triste despedida
Beijos
Minicontista
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