Estação de S. Bento no Porto. Foto da net
Diogo chegou ao aeroporto de
Figo Maduro, em meados de Julho de 75. Depois da apresentação na base do
Alfeite, foi-lhe dado como aos restantes camaradas, (atenção que este termo, não
tem aqui conotações politicas, ligadas a qualquer sector partidário. Na Marinha, os “filhos da escola” sempre se
trataram assim) uma licença de sessenta dias.
Diogo dirigiu-se a Santa
Apolónia para apanhar o comboio Foguete para o Porto. Pelo caminho, notou que
havia na cidade grandes mudanças. Não na estrutura da cidade. O Terreiro do
Paço, com os respectivos ministérios, a estátua de D. José, o rio, a gare de
embarque para o Barreiro, os vendedores ambulantes, o caminho para Santa Apolónia, tudo estava no mesmo
sítio e mais ou menos igual. As pessoas. Essas sim, estavam diferentes, mais
abertas, sorriam com facilidade, olhavam-se nos olhos sem receio. Que diferença
de quando ele partira, quando as pessoas passavam apressadas, cabisbaixas,
temerosas até da própria sombra.
O comboio chegou ao Porto, e o jovem dirigiu-se à paragem da camioneta que o levaria até Amarante, concelho da pequena aldeia onde nascera, e onde viviam seus pais. Respirou fundo, uma sensação de felicidade invadindo o peito, e em pensamento
ergueu aos céus, um agradecimento, pelo regresso são e salvo.
Quando a camioneta parou no
largo da Igreja de S. Gonçalo, em Amarante, já o pai o esperava com a carroça,
para fazerem o resto da viagem.
Por alguns minutos, os dois
juntaram-se, num abraço forte, cheio de emoção. Quantas vezes, nos últimos
tempos, Diogo pensou que não voltaria a ver os pais. Que sequer regressaria?
Depois colocou a mala na parte
traseira de carroça, e subiu sentando-se à esquerda, e pegando nas rédeas. O pai subiu pelo
outro lado e iniciaram a viagem até à aldeia, conversando animadamente.
Sentia-se feliz. Era como se regressasse
à adolescência, quando acompanhava o pai a Amarante, para venderem os legumes
da quinta, e ele pedia ao pai, que o deixasse conduzir a carroça. Depois,
vieram os estudos, a Universidade, a Marinha e por último a comissão em Angola,
que nos últimos tempos se transformara numa descida aos Infernos.
Os quarenta minutos até casa
passaram quase sem dar por isso. E em casa esperava-o o abraço, e o choro de
alegria da mãe, a par de um jantar cujo aroma divinal se sentia a vários metros
de distância.Bom fim de semana
18 comentários:
Aqui, bem cedinho, consegui atualizar o que não havia lido! Gostei muito! Escreves muito bem, chio de detalhes sempre! Lindo fds! bjs,chica
Diogo de volta a Amarante e à casa dos pais. Tanto mudou em Portugal desde a sua partida, e aí está ele de volta para um novo recomeço.
Bom fim de semana, Elvira.
xx
Como é bom o regresso pra casa...
Como o Diogo deve estar saudoso de tudo e de todos.
Que ele tenha um feliz recomeço.
Um grande abraço Elvira!
Mariangela
O encontro de Maria Paula, com o Diogo, está prestes a acontecer penso eu. Embora tenham terminado o namora, mas nenhum dos bons momentos que juntos passaram se terá esquecido. Oxalá isso tenha acontecido e ainda hoje juntos continuem a ser muito felizes! Quanto à palavra camarada sou conhecedor do seu uso nas esferas militares, já antes do vinte e cinco de Abril de 1975. Por alguns ligada à política, pelo facto dos comunistas se tratarem por camaradas. Também sei qual o seu significado!
Tenha um bom fim de semana amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Oi Elvira.
Que clima vocês viveram, mas o mais doído é a separação das famílias.
Qualquer manifestação o coração fica bem pequenino.
Beijos
Aqui o Diogo regressa a casa, enquanto eu me preparo para escrever uma entrada sobre um jovem beirão que sai da sua aldeia natal, apanha diversos comboios até Santa-Margarida e daí embarca para Angola no transatlântico que dava pelo nome de Vera Cruz. Vai para a Guerra.
Mas voltando a esta sua entrada, eu não vivi o 25 de Abril, nem o que se passou a seguir, mas desde pequena soube a diferença entre o antes e o hoje, porque era um tema que se abordava na escola, pelo que não é difícil imaginar as pessoas sorridentes que o Diogo observou a caminho de Santa Apolónia, que por acaso até é a padroeira dos dentistas;-) (De acordo com a lenda, durante a sua tortura teve todos os seus dentes violentamente arrancados ou quebrados). Desculpe este parêntese.
Bjo amg e bom fs.
Mais uma página, que se devora... e há pormenores que não passam despercebidos...
O regresso à casa paterna. Para trás, momentos de vida inolvidáveis. Momentos que o marcaram para sempre.
Bj
Olinda
Brilhante é o Conto, estou apreciando cada vez mais...
Não podia deixar de vir aqui agrzdecer-te o carinho, Elvira. Já resondi à tua mensagem lá no Começar de novo. Li alguma coisa destes teus maravilhosos contos e este retrata uma epoca muito triste da nossa história que causou grande sofrimento a muitos portugueses. Muito obrigada por todo o carinho e desejo-te tudo de bom. Beijinhos
Emília
Olá, Elvira!
Atrasado,venho agradecer a visita e as palavras. E também deixar votos de que por aqui a inspiração nunca falte, assim como a saúde e boa disposição.
Bom fim de semana.
Um abraço
Vitor
~
~ ~ Excelente narrativa, Elvira!
~ Com uma dose sentimental contida,
na precisa e justa medida.
Um dom para o conto surpreendente!
~~~~~Abraço amigo.~~~~~
.
O choque do regresso amenizado pelo aconchego da família mais chegada... nem todos tiveram igual sorte.
Abraço do Zé
Olá, Elvira! Esse é um conto ou uma história que aconteceu de verdade?
Achei doce o final.. tem coisa melhor que um abraço à espera de quem chega pela estrada?
Lindo domingo!
Oi Elvira
Você deve estar nanando.kk
Obrigada pelo carinho.
Beijos
Pelo menos à Portugal o Diogo já retornou. Resta saber quando será o reencontro. Rsrs. Será que será?
Abraços,
Furtado.
Adorei ver o que farias com a cadeira. Ficaria sem dúvida, linda!!! bjs, ótima semana! chica
Estou gostando muito, de acompanhar essa história: pela história em si e pelas lembranças que me trazem.
Boa semana, Elvira. Meu abraço.
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