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17.4.15

MARIA PAULA - PARTE XVII



Estação de S. Bento no Porto. Foto da net

Diogo chegou ao aeroporto de Figo Maduro, em meados de Julho de 75. Depois da apresentação na base do Alfeite, foi-lhe dado como aos restantes camaradas, (atenção que este termo, não tem aqui conotações politicas, ligadas a qualquer sector partidário. Na  Marinha, os “filhos da escola” sempre se trataram assim) uma licença de sessenta dias.
Diogo dirigiu-se a Santa Apolónia para apanhar o comboio Foguete para o Porto. Pelo caminho, notou que havia na cidade grandes mudanças. Não na estrutura da cidade. O Terreiro do Paço, com os respectivos ministérios, a estátua de D. José, o rio, a gare de embarque para o Barreiro,  os vendedores ambulantes, o caminho para Santa Apolónia, tudo estava no mesmo sítio e mais ou menos igual. As pessoas. Essas sim, estavam diferentes, mais abertas, sorriam com facilidade, olhavam-se nos olhos sem receio. Que diferença de quando ele partira, quando as pessoas passavam apressadas, cabisbaixas, temerosas até da própria sombra.
O comboio chegou ao Porto, e o jovem dirigiu-se à paragem da camioneta que o levaria até Amarante, concelho da pequena aldeia onde nascera, e onde viviam seus pais. Respirou fundo, uma sensação de felicidade invadindo o peito, e em pensamento ergueu aos céus, um agradecimento, pelo regresso são e salvo.
Quando a camioneta parou no largo da Igreja de S. Gonçalo, em Amarante, já o pai o esperava com a carroça, para fazerem o resto da viagem.
Por alguns minutos, os dois juntaram-se, num abraço forte, cheio de emoção. Quantas vezes, nos últimos tempos, Diogo pensou que não voltaria a ver os pais. Que sequer regressaria?
Depois colocou a mala na parte traseira de carroça, e subiu sentando-se à esquerda, e pegando nas rédeas. O pai subiu pelo outro lado e iniciaram a viagem até à aldeia, conversando animadamente. Sentia-se feliz.  Era como se regressasse à adolescência, quando acompanhava o pai a Amarante, para venderem os legumes da quinta, e ele pedia ao pai, que o deixasse conduzir a carroça. Depois, vieram os estudos, a Universidade, a Marinha e por último a comissão em Angola, que nos últimos tempos se transformara numa descida aos Infernos.
Os quarenta minutos até casa passaram quase sem dar por isso. E em casa esperava-o o abraço, e o choro de alegria da mãe, a par de um jantar cujo aroma divinal se sentia a vários metros de distância.

Bom fim de semana

18 comentários:

chica disse...

Aqui, bem cedinho, consegui atualizar o que não havia lido! Gostei muito! Escreves muito bem, chio de detalhes sempre! Lindo fds! bjs,chica

Laura Santos disse...

Diogo de volta a Amarante e à casa dos pais. Tanto mudou em Portugal desde a sua partida, e aí está ele de volta para um novo recomeço.
Bom fim de semana, Elvira.
xx

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Como é bom o regresso pra casa...
Como o Diogo deve estar saudoso de tudo e de todos.
Que ele tenha um feliz recomeço.
Um grande abraço Elvira!
Mariangela

Edum@nes disse...

O encontro de Maria Paula, com o Diogo, está prestes a acontecer penso eu. Embora tenham terminado o namora, mas nenhum dos bons momentos que juntos passaram se terá esquecido. Oxalá isso tenha acontecido e ainda hoje juntos continuem a ser muito felizes! Quanto à palavra camarada sou conhecedor do seu uso nas esferas militares, já antes do vinte e cinco de Abril de 1975. Por alguns ligada à política, pelo facto dos comunistas se tratarem por camaradas. Também sei qual o seu significado!
Tenha um bom fim de semana amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Lua Singular disse...

Oi Elvira.
Que clima vocês viveram, mas o mais doído é a separação das famílias.
Qualquer manifestação o coração fica bem pequenino.
Beijos

aluap disse...

Aqui o Diogo regressa a casa, enquanto eu me preparo para escrever uma entrada sobre um jovem beirão que sai da sua aldeia natal, apanha diversos comboios até Santa-Margarida e daí embarca para Angola no transatlântico que dava pelo nome de Vera Cruz. Vai para a Guerra.
Mas voltando a esta sua entrada, eu não vivi o 25 de Abril, nem o que se passou a seguir, mas desde pequena soube a diferença entre o antes e o hoje, porque era um tema que se abordava na escola, pelo que não é difícil imaginar as pessoas sorridentes que o Diogo observou a caminho de Santa Apolónia, que por acaso até é a padroeira dos dentistas;-) (De acordo com a lenda, durante a sua tortura teve todos os seus dentes violentamente arrancados ou quebrados). Desculpe este parêntese.
Bjo amg e bom fs.

Rogério G.V. Pereira disse...

Mais uma página, que se devora... e há pormenores que não passam despercebidos...

Olinda Melo disse...


O regresso à casa paterna. Para trás, momentos de vida inolvidáveis. Momentos que o marcaram para sempre.

Bj

Olinda

vendedor de ilusão disse...

Brilhante é o Conto, estou apreciando cada vez mais...

Emília Pinto disse...

Não podia deixar de vir aqui agrzdecer-te o carinho, Elvira. Já resondi à tua mensagem lá no Começar de novo. Li alguma coisa destes teus maravilhosos contos e este retrata uma epoca muito triste da nossa história que causou grande sofrimento a muitos portugueses. Muito obrigada por todo o carinho e desejo-te tudo de bom. Beijinhos
Emília

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Atrasado,venho agradecer a visita e as palavras. E também deixar votos de que por aqui a inspiração nunca falte, assim como a saúde e boa disposição.
Bom fim de semana.

Um abraço
Vitor

Majo disse...

~
~ ~ Excelente narrativa, Elvira!

~ Com uma dose sentimental contida,
na precisa e justa medida.

Um dom para o conto surpreendente!

~~~~~Abraço amigo.~~~~~
.

Zé Povinho disse...

O choque do regresso amenizado pelo aconchego da família mais chegada... nem todos tiveram igual sorte.
Abraço do Zé

Vane M. disse...

Olá, Elvira! Esse é um conto ou uma história que aconteceu de verdade?
Achei doce o final.. tem coisa melhor que um abraço à espera de quem chega pela estrada?
Lindo domingo!

Lua Singular disse...

Oi Elvira
Você deve estar nanando.kk
Obrigada pelo carinho.
Beijos

Rosemildo Sales Furtado disse...

Pelo menos à Portugal o Diogo já retornou. Resta saber quando será o reencontro. Rsrs. Será que será?

Abraços,

Furtado.

chica disse...

Adorei ver o que farias com a cadeira. Ficaria sem dúvida, linda!!! bjs, ótima semana! chica

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Estou gostando muito, de acompanhar essa história: pela história em si e pelas lembranças que me trazem.
Boa semana, Elvira. Meu abraço.