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21.4.15

MARIA PAULA - PARTE XIX


foto da net

Durante uns dias, Diogo, andou pela aldeia. Foi visitar o padrinho, encontrou-se com os pais de alguns amigos, que o saudaram com a cordialidade com que todos se tratam nas aldeias. Encontrou a ti’Carlota, talvez a mais velha mulher da aldeia. Diogo não sabia quantos anos teria a mulher, mas decerto era exemplo de longevidade. Desde que tinha memória, sempre se lembrava dela, toda vestida de preto, - era viúva - e já bem entrada nos anos. Encontrou-se também com algumas crianças, quase adolescentes que deviam vir da escola. Naquela manhã, cruzou-se com o ti’António do Moinho. O homem abraçou-o com grande emoção.
- Já me tinham dito que havias regressado. Agradece a Deus por estares vivo rapaz. O meu Carlos ficou lá em Moçambique. Morreu em Omar, há seis meses, a menos de um mês de acabar a comissão. Maldita guerra.
Diogo sentiu como se lhe tivessem dado um murro no estômago. Apesar de Carlos, não ter sido um companheiro de brincadeiras, - o jovem, era sete anos mais novo do que ele, -  conhecia-o desde que nascera. Era irmão do Luís, o seu grande amigo de infância. Emocionado, sem palavras que pudessem confortar o coração ferido daquele pai, apertou-o num longo e comovido abraço. Depois perguntou:
- E o Luís?
- Fugiu para França, pouco antes de ser alistado, tem um bom salário e até já está a pensar em casar. Se o irmão tivesse feito o mesmo, hoje estaria vivo. Mas ele nunca quis, apesar dos conselhos do irmão. É como dizem, cada um já nasce com o destino marcado.
- Talvez Sr. António, - respondeu Diogo que não acreditava, nessa coisa de que tudo o que nos acontece é por culpa do destino.
- Quando escrever ao Luís, diga-lhe que gostaria de o ver, quando vier a Portugal.
Fica descansado, rapaz – respondeu o outro, apertando-lhe o ombro em jeito de despedida.
Diogo, virou a esquina da única rua, verdadeiramente digna desse nome, na aldeia e dirigiu-se à margem do rio, atravessando o extenso milheiral, pertença do seu padrinho, o homem mais abastado da aldeia. Quantas vezes em criança, ia para ali no Verão, com os outros miúdos da aldeia. Uma constante preocupação para os mais velhos, sempre com medo que algum deles, por lá se afogasse. 




13 comentários:

Edum@nes disse...

Maldita guerra, aquela e todas as guerras que são apenas dos interesses de quem as provoca. Comandam-nas à distância em segurança. No fim são considerados heróis por quem lá não andou a sofrer. Ainda hoje me interrogo a mim mesmo, quem é que foi que beneficiou com a guerra colonial, ou se preferirem guerra do ultramar?

Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Rosemildo Sales Furtado disse...

O resultado de uma guerra é sempre o pior para aqueles dela realmente participam, não para quem somente ordena.

Abraços,

Furtado.

Laura Santos disse...

Na guerra todos perdem, ninguém fica a ganhar, e o pior mesmo é quando nela se perde a vida. Felizes os que conseguiram fugir para França!
Agora que Diogo já fez o "reconhecimento" da aldeia, o que se passará a seguir...?
Gosto muito da maneira como escreve, Elvira!
xx

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
A guerra é um ato político, onde os que mandam se escondem atrás das suas próprias ignorâncias e matam os jovens que não são seus filhos.
Maldição
Beijos

lis disse...

Será que enocntrará Maria Paula a esperá-lo?
se me lembro bem a última notícia que li dela estava a distribuir sorrisos no trabalho... rs
Muito bom saber mais a respeito de uma época que já vai distante e que muito pouco se sabe através de leituras muitas vezes camufladas.
Um abraço Elvira

Silenciosamente ouvindo... disse...

Continuação da história. Os males
da guerra, os reencontros, o voltar
aos sítios do passado.
Desejando que a amiga se encontree bem.
Bj.
Irene Alves

Janita disse...

Que belo espaço aqui tem, Elvira!
Parabéns!

As fotos são belíssimas e vejo que a Elvira é uma excelente contadora de histórias.
Fiquei deveras encantada e voltarei com prazer!

Um abraço!

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Toda guerra é um atraso de vida para para as pessoas que nelas são envolvidas, trazendo consequências incalculáveis...Esse relato dá bem a dimensão dos conflitos. Parabéns, Elvira, é muito importante essa partilha.
Um abraço!

chica disse...

Tantas tristes situações...Mas o conto é belo e nos prende! bjs, chica

Rogério G.V. Pereira disse...

Sigo a saga...
com bom andamento e bem contada

lourdes disse...

Já ia atrazada....hoje li 4 episódios d'uma virada!
Acabou a guerra, mas quem por ela passou e sobreviveu, ficou com a vida estragada.
Vamos ver agora se o Diogo reencontra a sua Maria Paula.
Bjs.

Pedro Coimbra disse...

Redescobrir uma vida entretanto interrompida.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Que tristeza as consequências da guerra, mas tomara que Diogo se ajeita e seja feliz!
Linda história!
Beijos,
Mariangela