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27.3.15

MARIA PAULA - PARTE XI



Apesar de nas ruas da cidade parecer estar tudo na mesma, Luanda vive dominada pelo medo. Como se estivesse sentada num barril de pólvora, a que só faltava alguém acender o rastilho.
E esse rastilho foi aceso na noite de 10 de Julho de 1974, com dois trágicos acontecimentos. A morte de um enfermeiro negro numa rixa, num bar, e a morte de um taxista branco no musseque do Rangel.
Em poucos dias vários musseques foram incendiados, deixando muita gente desalojada. E vários mortos. Por um lado os extremistas brancos, que não queriam perder a posição ocupada até aí por uma independência que receavam. Por outro os elementos da PIDE que tinham sido integrados na nova força policial, conhecidos pelo seu fervor ultra colonialista e racista que incentivavam e promoviam os desacatos. 
Como sempre nestas situações quem mais sofre são os mais pobres. E nos musseques não havia apenas população negra. Longe disso. Havia muito branco, gente pobre, que até aí vivera em sã convivência com os negros, irmanados nas más condições de vida, e na luta por uma vida melhor.
Essa convivência era agora impossível, não só pelo medo, como porque também eles ficaram sem tecto com os incêndios. Assim começou o êxodo para a cidade, onde a vida ainda parecia quase normal.
O Colégio Cristo-Rei, onde Maria Paula trabalhava, era dirigido pelo Irmão Santini, que era o director da Cáritas em Luanda. E o Colégio tinha à volta do edifício um grande espaço, com um campo de futebol, escorregas e espaço para outras actividades dos alunos no recreio e nas aulas de ginástica ao ar livre, que foi oferecido aos primeiros desalojados para montarem as suas tendas e viverem até que o governo arranjasse uma solução, já que se recusavam a regressar aos musseques, perdidos os seus parcos haveres nos incêndios.
Os musseques passaram a ser patrulhados por militares, e a situação foi acalmando, enquanto aos poucos, se começava a deteriorar na cidade. Os militares sofreram humilhações por parte de alguns brancos que não se coibiam de os mandar regressar ao Puto, dizendo que eles se encarregavam de acabar  rapidamente com a história de Independência.
O governador vê-se obrigado a decretar recolher obrigatório, e aumentar o policiamento da cidade.



13 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Vou lendo, atento...

Pedro Coimbra disse...

As movimentações em Luanda fui acompanhando através de familiares e amigos.
BFDS

lis disse...

Bom ir me inteirando desses acontecimentos ,Elvira.
Foram momentos difíceis ,principalmente para os mais pobres.
Vi um filme sobre Luanda por sinal muito triste ,tal como descreve,
Um abraço amiga

chica disse...

Fatos verídicos entremeados ao teu lindo conto!Vamos te seguindo! bjs, chica

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira!
Uma triste história do povo de Luanda. Quantos queridos se foram...
Lindo conto Elvira.
Abraços!
Mariangela

Lua Singular disse...

Oi Elvira, eu vou morrer e espero não ver nenhuma guerra.
Quando aqui no houve a ditadura ela não chegou onde moro.
Beijos

Laura Santos disse...

Uma situação muito crítica, muito bem descrita, e com conhecimento de causa. Um bom apontamento histórico que ajudará a entender melhor o que se seguirá.
xx

Unknown disse...

Segue num relato de vidas que foram reais, guerra que deixou lembranças que são cicatrizes, ainda hoje, e por quantas mais gerações, ainda.

um bom fim de semana
bj amg

António Querido disse...

Independência só serviu para encher os cofres de Isabel dos Santos e de mais meia dúzia de familiares e amigos, os desgraçados estão a morrer subnutridos!
Olhe aqui para o seu lado direito, em "Figueira Minha", e ela aí está sorridente a comprar Portugal!
O meu abraço, bom fim de semana.

Zé Povinho disse...

A intolerância gera intolerância e tudo se precipitou, logo que a autoridade se perdeu e as armas começaram a aparecer...
Abraço do Zé

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
NA CERTA MUITAS MARCAS FICARÃO.
MUITO BOM AMIGA.
ABRÇS

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Smareis disse...

A guerra só deixa dor e sofrimento.
Como o povo sofre.
Um abraço e ótimo fim de semana!

Rosemildo Sales Furtado disse...

Geralmente nesse tipo de coisa, o pió sobra para os mais fracos.

Abraços,

Furtado.