Apesar de nas ruas da cidade parecer estar tudo na mesma, Luanda vive dominada pelo medo. Como se estivesse sentada num barril de pólvora, a que só faltava alguém acender o rastilho.
E esse rastilho foi aceso na
noite de 10 de Julho de 1974, com dois trágicos acontecimentos. A morte de um
enfermeiro negro numa rixa, num bar, e a morte de um taxista branco no musseque
do Rangel.
Em poucos dias vários
musseques foram incendiados, deixando muita gente desalojada. E vários mortos. Por um lado os
extremistas brancos, que não queriam perder a posição ocupada até aí por uma
independência que receavam. Por outro os elementos da PIDE que tinham sido
integrados na nova força policial, conhecidos pelo seu fervor ultra colonialista e racista que incentivavam e promoviam os desacatos.
Como sempre nestas situações
quem mais sofre são os mais pobres. E nos musseques não havia apenas população
negra. Longe disso. Havia muito branco, gente pobre, que até aí vivera em sã
convivência com os negros, irmanados nas más condições de vida, e na luta por uma vida melhor.
Essa convivência era agora
impossível, não só pelo medo, como porque também eles ficaram sem tecto com os
incêndios. Assim começou o êxodo para a cidade, onde a vida ainda parecia quase
normal.
O Colégio Cristo-Rei, onde
Maria Paula trabalhava, era dirigido pelo Irmão Santini, que era o director da
Cáritas em Luanda. E o Colégio tinha à volta do edifício um grande espaço, com
um campo de futebol, escorregas e espaço para outras actividades dos alunos no recreio e nas aulas de ginástica ao ar livre, que foi oferecido
aos primeiros desalojados para montarem as suas tendas e viverem até que o
governo arranjasse uma solução, já que se recusavam a regressar aos musseques, perdidos os seus parcos haveres nos incêndios.
Os musseques passaram a ser patrulhados
por militares, e a situação foi acalmando, enquanto aos poucos, se começava a
deteriorar na cidade. Os militares sofreram humilhações por parte de alguns
brancos que não se coibiam de os mandar regressar ao Puto, dizendo que eles se encarregavam de acabar rapidamente
com a história de Independência.
O governador vê-se obrigado
a decretar recolher obrigatório, e aumentar o policiamento da cidade.
13 comentários:
Vou lendo, atento...
As movimentações em Luanda fui acompanhando através de familiares e amigos.
BFDS
Bom ir me inteirando desses acontecimentos ,Elvira.
Foram momentos difíceis ,principalmente para os mais pobres.
Vi um filme sobre Luanda por sinal muito triste ,tal como descreve,
Um abraço amiga
Fatos verídicos entremeados ao teu lindo conto!Vamos te seguindo! bjs, chica
Oi Elvira!
Uma triste história do povo de Luanda. Quantos queridos se foram...
Lindo conto Elvira.
Abraços!
Mariangela
Oi Elvira, eu vou morrer e espero não ver nenhuma guerra.
Quando aqui no houve a ditadura ela não chegou onde moro.
Beijos
Uma situação muito crítica, muito bem descrita, e com conhecimento de causa. Um bom apontamento histórico que ajudará a entender melhor o que se seguirá.
xx
Segue num relato de vidas que foram reais, guerra que deixou lembranças que são cicatrizes, ainda hoje, e por quantas mais gerações, ainda.
um bom fim de semana
bj amg
Independência só serviu para encher os cofres de Isabel dos Santos e de mais meia dúzia de familiares e amigos, os desgraçados estão a morrer subnutridos!
Olhe aqui para o seu lado direito, em "Figueira Minha", e ela aí está sorridente a comprar Portugal!
O meu abraço, bom fim de semana.
A intolerância gera intolerância e tudo se precipitou, logo que a autoridade se perdeu e as armas começaram a aparecer...
Abraço do Zé
OI ELVIRA!
NA CERTA MUITAS MARCAS FICARÃO.
MUITO BOM AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
A guerra só deixa dor e sofrimento.
Como o povo sofre.
Um abraço e ótimo fim de semana!
Geralmente nesse tipo de coisa, o pió sobra para os mais fracos.
Abraços,
Furtado.
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