Igreja de Santa Cruz no Barreiro. A estátua em frente é do Padre Abílio. Homenagem do povo a quem ele amou, e protegeu, construindo casas e dando comida e roupas aos mais necessitados.
Meus pais casaram nesta mesma igreja em 1946 ano em que nesta história se casou a Rosa. Na foto do casamento deles me inspirei para o vestido de noiva da Rosa. Podem ver a foto no fim do post.
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No Domingo, depois da missa, falaram com o padre para marcar o casamento. Naquela época, no Barreiro, era o Padre Abílio que estava na Igreja de Sta. Cruz onde eles acabaram por casar.
Este, depois de ter ouvido a
confissão dos dois, fez questão de tratar de tudo rapidamente e sem qualquer
custo. Casaram três semanas depois, o tempo necessário para os proclamas na
terra dos noivos.
João tinha alugado uma casita num
pátio perto da entrada da Seca. Era pequena, apenas um quarto e uma cozinha,
uma pequena arrecadação e um galinheiro nas traseiras. Não tinha luz elétrica,
nem água canalizada. Mas, no centro do pátio, havia um poço com uma espécie de
tripé por cima, com uma roldana, onde passava uma corda que tinha numa das
pontas um balde. Era desse modo que eles se abasteciam de água. Não tinha casa
de banho. As necessidades faziam numa espécie de pote em argila, que era
despejada todas as manhãs na “pipa”, A “pipa” era uma camioneta cisterna,
propriedade da Câmara, que todas as manhãs percorria os pátios para recolher os
detritos. Num canto do pátio, havia um pequeno cubículo onde se improvisara um
duche comunitário, já que servia para todos os moradores do mesmo, que era
composto por oito casas. O duche era a ponta de um regador, presa num tubo que
saia de um bidão que alguém instalara lá em cima. Estava sempre cheio de água.
Cada vez que alguém tomava banho, quando acabava, ia ao poço buscar água para
voltar a encher o bidão. De Verão, o bidão apanhava sol todo o dia e o banho
era quente. De Inverno, a água gelava e os moradores tomavam banho num alguidar grande de zinco, com água aquecida nos fogões a lenha ou petróleo que cada um tinha em casa. Naquelas três semanas, até ao
casamento, compraram uma cama, uma mesa e dois bancos. A madrinha de casamento,
deu-lhes dois lençóis e o padrinho, um fogão a petróleo para fazer a comida.
A cunhada deu-lhe meia dúzia de pratos e dos futuros vizinhos recebeu um tacho,
uma panela, uma sertã, um candeeiro a petróleo e uma manta de trapos.
Rosa fora trabalhar para a Seca do Bacalhau e
lá encontrou gente da sua aldeia e de certa maneira sentiu-se mais segura. Era
gente que trabalhava muito, ganhava pouco e ainda tinha que poupar para a
viagem de regresso à aldeia, quando a safra acabava, e também para os meses que
ficavam lá na aldeia, sem saber onde arranjar dinheiro para comer. Mesmo assim,
juntaram-se e compraram o vestido de noiva da Rosa. Era uma saia azul e um
casaquinho da mesma cor e uma blusa branca. A cunhada deu-lhe os sapatos. Não
eram novos, tinha sido a madrinha dela que lhos dera no casamento. Mas como
estavam apertados só os usara nesse dia. Eram pretos, com um vivo largo branco
a toda a volta.
Quando no dia do casamento, se viu
ao espelho, Rosa achou-se uma rainha. E lá foi para a igreja, na carroça do ti’
Abel com o futuro marido, porque essa história do noivo não ver a noiva antes
do casamento, não era para gente pobre. Pelo menos nessa época.
Continua
Foto de casamento de meus pais.
Continua
Foto de casamento de meus pais.
24 comentários:
Gente que trabalhava muito e ganhava pouco. Ainda hoje continua e já tantos anos se passam. Que a Rosa tenha sido muito feliz, com o João lá na sua humilde casinha, sem casa de banho, sem luz eléctrica, sem água canalizada, mas que o mais importante na vida não tenha faltado. O AMOR VERDADEIRO!
E para você amiga Elvira desejo uma boa noite, um abraço.
Eduardo
Também me casei aí e parece que nada resultou: eu divorciei-me depois de traída e o padre deixou de ser sacerdote ...
beijinhos, amiga
Gostei de ver as fotos e os preparativos para o casório da Rosa. Todos colaborando..Vamos ver depois o que lhe chega mais! Estou gostando! bjs,chica
Sérias dificuldades nessa aldeia _ só trabalho sem o mínimo conforto_ coitados!
_será que o casamento resistirá a toda essa luta?
Esta sendo bonita a preparação _ o vestido da noiva a carruagem ... rs
Vamos aguardando Elvira( depois me explica o que é 'sertã',um dos presentes.
beijinhos
Muitos pobres são felizes com quase nada. Acreditam no amor e lutam pela vida como se cada dia fosse o único ou o último das suas vidas.
Nunca deixam de ter dificuldades e o dinheiro é uma sombra que passa por eles mas nunca fica.
Oi, Elvira!
No desenrolar da história de Rosa, sabemos também um pouco de você. Muito bacana você compartilhar a foto dos seus pais. Achei o máximo!
:)
Beijus,
Vou continuar a acompanhar.
Boa semana
Leio atentamente esta história (como todas as outras) e viajo no tempo, naquele tempo... em que a miséria, a fome, o trabalho duro, a falta de condições, a exploração... enfim, a vida real desses tempos tão diferente dos tempos de hoje.
Não sei é como ainda há alguns saudosistas defensores do «antigamente é que era bom».
Gosto das histórias da minha amiga, que tão bem retratam outros tempos e que fazem parte da História do nosso País.
Também estive quase quase para casar por essas bandas :))))))))
Tudo de bom.
:)
;)
Amiga Elvira, deixou passar este meu comentário, no "Figueira Minha", dia 1-11-2014!
Viagem adiada para a próxima quinta feira, se a TAP estiver operacional, irei por uns dias, eu tinha-vos dito: Se algo de mau acontecer, faça uma viagem para esquecer, foi o que decidi fazer, a partir do dia 11, a música será outra!
Vou ver se encontro, sua Majestade, Alberto João, se não encontrar também não perco grande coisa!
Divirtam-se e tenham muita saúde!
Os meus abrabeijos.
Obrigado amiga! As suas palavras me deixaram mais tranquilo, foi-me diagnosticado a semana passada, já estou a fazer os tratamentos adequados, irei começar a Radioterapia quando regressar da Madeira, até à próxima terça feira vou esquecer, depois é para aguentar, vencer e cara alegre!
Em frente é o caminho!
Aqui deixo o meu abraço.
Bom dia, a historia continua e vai entrar na felicidade, será que esta vai ser continua? Adorei ver a fotos dos seus pais, a expressão sincera, a roupa usada na época e a cor da foto é uma encanto, adoro apreciar fotos assim.
AG
Oi, Elvira!
Eu acredito que essas restrições que os jovens casais passam no início da vida em comum é que são "a prova" do verdadeiro amor.
Adorei seu relato, parecia que estava vendo um belo filme realista, mas romântico na sua essência. Parabéns a você por ter nascido de uma união tão forte, tão verdadeira. Lindas as fotos!
Obrigada pela visita e um grande beijo!
Um belo testemunho de como eram os casamentos pobres daquela altura.
Vamos a ver como correrá a vida de casados.
Gostei de ver a foto do casamento dos seus pais. Parece-me que a Elvira é muito parecida com a a sua mãe...:-)
xx
Eu quero um final bem bonito pra ela, apesar de todas as dificuldades ela ta vencendo \o/
bjokas =)
Apesar das dificuldades, torço para que ela seja muito feliz!
Linda lembrança de seus pais Elvira.
Abraços!
Mariangela
Vida difícil a desses tempos...
Felizmente vê-se solidariedade o que conforta o coração. E Rosa sente-se feliz.
Bj
Olinda
Logo de manhã cedo vim cá ver a história da Rosa e pensei já ter comentado. Agora à noite resolvi ler a opinião dos nossos amigos e vi que afinal não tinha comentado. É que às terças vou para a loja social onde faço voluntariado e antes de saír, 9,30 a curiosidade foi grande e vim cá, mas para não me atrasar não comentei. Imagina...lá ia eu faltar aos preparativos do casamento da Rosa. Ainda bem que tudo está a correr normalmente e com a solidariedade de todos que, embora tenham pouco sabem repartir. O trabalho não será o problema para a felicidade da Rosa; se houver algum será por outro motivo. A ver vamos, querida Elvira. Sexta cá estarei. Um beijinho e fica bem
Emília
Olá, Elvira!
Outros tempos, outro hábitos, e também uma vida bem difícil...que também era a única conhecida para tanta e tanta gente...
E vamos lá ver como vai correr a história da Rosa e do João, agora que já houve casório.
Um abraço
Vitor
OI ELVIRA!
CHEGOU O CASAMENTO VEREMOS O QUE VEM POR AI.
GOSTEI DE VER, DESCREVES A ROUPA DA NOIVA E ILUSTRAS COM A FOTO NA QUAL COMO NÃO É COLORIDA NÃO SE PODE IDENTIFICAR AS CORES, MAS OS SAPATOS SIM, ACHEI LINDO COLOCARES NA HISTÓRIA, SENDO OS QUE TUA MÃE USOU NO CASAMENTO DE TEUS PAIS.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Sigo esta história com muito
interesse. Conheço a Igreja
aqui referida e sei o que foi
viver em circunstâncias das aqui
descritas. Ainda deve haver sítios
do nosso país onde tal sucede.
Bj.
Irene Alves
Relatas como poucos a vida dura e cruel destes tempos.Muito interessante. Aguardo novos episódios. Beijinhos
sigo com atenção a história e confesso que tens muito talento para a narração.
aguardo o resto da trama.
gostava que acabasse bem.
:)
Antes a xente era feliz con pouca cousa.
O importante é ter ilusión.
Os casamentos pobres não diferem muito quanto à geografia. Gostei muito, Elvira.
Beijos*
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