Chegaram de mansinho, como quem não
tem pressa, e, de súbito, um segurou-lhe os braços e o outro meteu-lhe a mão
entre o corpete e apalpou-lhe um seio. Aterrorizada, lutava para se
desenvencilhar e quanto mais lutava, mais eles riam. Atiraram-na ao chão,
levantaram-lhe a saia e rasgaram-lhe as cuecas. Ela continuava a gritar e a
estrebuchar, mas de nada lhe valeu. De repente, sentiu-se esmagada sob o peso
do corpo masculino e a dor fê-la gritar ao sentir o seu corpo rasgado pelo
alarve desejo do homem. A dor, a raiva, a humilhação foi tanta que a pobre
quase desmaiou. Mas não teve essa sorte. E teve de suportar não só a dor
física, como o resfolegar do homem e o bafo quente do segundo homem que se
apossou dela mal o primeiro a deixou. Rosa sentia-se morta, nem força tinha já
para protestar. Nem disse nada quando os dois a ameaçaram, que davam cabo dela, se contasse a
alguém o que lhe tinham feito, antes de abalarem rindo em direção à aldeia. Ao
Domingo, o Zé Rato, sempre ia tocar a sua concertina para o adro da igreja,
onde se fazia um bailarico, e foi para lá que eles se dirigiram.
Rosa, não sabia, por quanto tempo ficara
ali descomposta, deitada sobre a relva. Teriam passado alguns minutos, que lhe
pareceram horas, quando a custo se levantou, o corpo e a alma destruídos.
Agarrou no que restava das cuecas, e limpou-se como pôde. Depois ajoelhou e com
as mãos cavou um buraco, onde as enterrou.
Levantou-se, pegou no bordão e
começou a tocar as ovelhas para o curral. Não chorava. O seu desespero era como
fogo que lhe devorava as entranhas.
Assustou-se a avó, com a sua entrada
em casa. Primeiro, porque costumava chegar mais tarde, segundo porque o seu
aspeto era por demais estranho. Trazia o cabelo e as roupas desalinhadas, e os
olhos orlados por grandes círculos roxos, encontravam-se vidrados. Pela experiência, que lhe davam os muitos anos de vida, a avó soube imediatamente o que tinha
acontecido à sua menina. Pôs uma panela de água ao lume, foi buscar o alguidar
de zinco, despejou-lhe um cântaro de água fria. Enquanto a água não fervia, foi
buscar uma combinação da neta e um lençol velhinho mas limpo. Depois, com as
mãos trementes, tirou-lhe o vestido e não pode deixar de reparar nas manchas
sanguinolentas nas coxas, nem nas manchas roxas num dos seios. Despejou o tacho
da água a ferver no alguidar, já mais de meio de água fria, experimentou a
temperatura e agarrando na mão da neta disse:
- Vem. Não podemos lavar a alma, mas
o corpo sim. Vais sentir-te um pouco melhor.
Ajudou-a a meter-se no alguidar e
deu-lhe banho como se ela fosse uma criança. Depois, com imenso carinho, enrolou-a no lençol, enxugou-a e enfiou-lhe a combinação de estopa grosseira. E ajudou-a a, a
deitar-se na cama.
Rosa não chorara nem dissera uma única palavra desde que chegara a casa e a velha senhora começava a assustar-se.
Continua na próxima terça.
As minhas desculpas pela dureza do capítulo.
Bom fim de semana
As minhas desculpas pela dureza do capítulo.
Bom fim de semana
28 comentários:
Duro sim mas, bonito!
Bjs
Meu Deus...Coitada da Rosa...Nem um bicho merece passar por momento tão terrível!
Fico no aguardo Elvira, para a continuação dessa bonita e triste história.
Abraços de uma boa noite!
Mariangela
É doído demais quando lemos casos como esses Elvira e ainda hoje acontece,por mais que não queiramos acreditar.
Uma selvageria !É a força bruta que a maioria das mulheres não consegue vencer.São vencidas, caladas e muitas vezes ainda sentem-se culpadas.
Está no ponto certo,nada a desculpar.
Muito bem descrito, forte _ com toda a emoção feminina que sabe bem imprimir.
Parabéns,
abraços
Ai! Que dor!
Doeu até minha alma, se fosse com minha filha eu capava os dois sem dó e piedade.
Desculpe, mas eu faria mesmo.
Beijos no coração
Lua Singular
Estou sem palavras como essa jovem.
Um silêncio que me rasga de dor.
muito dorido...e triste, muito triste.
o que me mais me incomoda é que pode ser ficção, e eu acho que não é.
:(
Agora em casa, consegui ler com calma os capítulos anteriores para bem poder acompanhar. Lindo conto e duro, sim, mas a doçura do gesto da avó, linda!!! Um banho reconfortante depois de tudo acontecido!1 bjs, lindo fds! chicva
Pelos espinhos da roseira não picados,
as pétalas da Rosa machucaram
pousados, nela, dois abutres esfaimados
nela e onde quiseram à vontade picaram!
Desprendida da mãe roseira uma rosa,
ainda em botão, no campo desprotegida
amiga Elvira, essa sua bem escrita prosa
da Rosa menina violada, história comovida!
Desejo-lhe um bom fim de semana amiga Elvira, um abraço.
Eduardo
Infelizmente são cenas verdadeiras, em que quase sempre o sexo feminino é a personagem principal, vítimas de verdadeiros monstros à solta!
O mais grave é que as leis não permitem acabar com eles e ainda mais grave é que depois das investigações se descobre que são amigos, ou ligados à família.
Tenha um bom fim de semana!
Cheguei atrasada, mas isso não impediu que lesse tudo. Não esperava que acontecesse isso à Rosa, mas tenho esperanças de que supere e encontre a paz e a felicidade. É um capítulo duro, de facto, mas real; infelizmente acontecem muitos desses casos e na maior parte deles não existe uma avó carinhosa que tente a todo o custo diminuir o sofrimento causado. Voltarei para saber da Rosa. Um bom fim de semana, Elvira. Um beijinhos e até breve.
Emília
Uma historia dura e triste mas super bem escrita, logo, nao precisa se desculpar, Elvira. Pois é uma honra poder contemplar o seu grande talento!
Espero que tudo termine bem com Rosa!
Um abraço!
A violação é uma coisa muito nojenta e os seus autores são seres desprezíveis.
Um capítulo bem realista.
Tem um bom fim de semana, querida amiga
Beijo.
Vigorosa narrativa, Elvira. Um fragmento de uma realidade cruel que ainda abate famílias. Uma ficção tão verossímil que a dor da neta e avó nos pegam em cheio. Parabéns!
Puxa... A Rosa tá sofrendo, mas a avó vai cuidar dela.
Belo terceiro capítulo.
Da ficção para a realidade... do nosso País, em nome de muitas Rosas.
Tudo de bom.
forte e triste...
Um desfecho triste para a menina pastora, que ainda nem tinha despertado para a vida. Mas, infelizmente, casos destes acontecem com tanta frequência que nos perguntamos se depois tantos anos de civilização ainda não se aprendeu nada...
Amiga Elvira:
O problema no meu computador já está resolvido. Era tão sério que cheguei a pensar que nunca mais me veria livre daquilo.
Muito obrigada pela sua ajuda.
Bom domingo.
Bjs
Olinda
Boa tarde, a cobardia sempre houve e continua nos tempos atuais de uma forma ainda mais violenta, será que algum dia vai parar?.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/
Olá, Elvira!
É muito dura e crua a natureza do texto. E ainda o é mais ao adivinhar-se que por detrás dele haverá um fundo de verdade...
Boa semana e um abraço.
Vitor
Oi Elvira,
Senti muita raiva com alguns trechos do seu conto, comigo eles iriam pagar no mesmo dia.
Uma pessoa que faz isso merece quando morrer um lugar pior que o inferno, pois o inferno é na Terra.
Beijos no coração
Lua Singular
Antigamente aconteciam muitos casos destes. Hoje são mais raros, embora ainda aconteçam.
Vamos ver o que vai acontecer agora à Rosa.
Oi Elvira,
Passando para agradecer o carinho das suas palavras na minha poesia na mostragem poética do Viviani.
Um lindo dia!
Beijos no coração
Lua Singular
Espectacular....
Quando eu era mocinha lia as histórias de santas, mártires, e a que mais me impressionava era a de Santa Maria Goretti. Lendo agora esse capítulo tão dramático, de tanta violência, veio-me à mente a vida daquela jovem que foi violentada. Pobre Roaa! Pobres mulheres que passam por dramas assim...
Caramba, não estava à espera desta. Um capítulo muito cruel, tem razão. Mas este mundo em que vivemos nem sempre é luminoso. Espero que denunciem esses criminosos.
Beijinhos
Ruthia
Há crimes que são mais terríveis que os outros. Muito bem escrito.
Beijo*
OI ELVIRA!
UMA HISTÓRIA TRISTE QUE AINDA SE VÊ NOS DIAS ATUAIS.
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EXISTE DESDE QUE O MUNDO É MUNDO, FIQUEI COM MUITA PENA DA ROSA, NINGUÉM MERECE.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Dói-nos a alma,o coração, tudo com a leitura deste episódio. Há muita gente cruel capaz de cometer as maiores atrocidades e gente boa que parece vir predestinada para sofrer. É o caso da Rosa. Gostei muito. Beijinhos
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