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20.10.14

ROSA PARTE V


Dois dias depois, Rosa estava na cidade grande. Quase sem dinheiro, o ourives dissera que os brincos não valiam grande coisa, e pagou por eles tão pouco que quase nada sobrara depois de comprar o bilhete para a capital.
A cidade era enorme e ela não sabia para onde ir nem o que fazer. Caminhou por uma rua enorme, tão grande que era maior que a sua aldeia, batendo a todas as portas, pedindo trabalho. Mas as pessoas olhavam-na de alto a baixo como se ela não regulasse bem da cabeça e fechavam-lhe a porta na cara. Algumas até lhe acicatavam os cães. Realmente o seu aspeto não era muito agradável. A saia castanha de casimira até ao tornozelo estava bastante amassada da longa viagem de comboio, a blusa de pano-cru, com uma gola redonda, em cuja orla a avó fizera um enfeite, estava enxovalhada, as tamancas de madeira e couro e a cesta de vime escuro, onde transportava algumas peças de roupa, completavam a sua indumentária.
Faminta e cansada, sentou-se num banco de um jardim sem saber o que fazer ou para onde ir.
Pouco depois, uma mulher de meia-idade sentou-se a seu lado no banco e meteu conversa com ela. Perguntou-lhe o nome, a idade, se estava sozinha em Lisboa, se não tinha família.
Desorientada e carente, Rosa contou de onde viera, falou da morte da avó, única parente que tivera até aí, do seu desejo de arranjar trabalho, afinal a cidade era tão grande, tinha tanta casa, mal haveria de ser que ninguém precisasse de uma criada. E ela sabia fazer tudo menos comida, que nunca cozinhara e só sabia fazer chá.
Depois de a ouvir, a mulher disse que tinha trabalho para ela. Era só acompanhá-la até à sua casa.
Rosa sentiu que lhe nascia uma alma nova, quase teve vontade de abraçar a mulher.
Quando lá chegaram, esta levou-a para um quarto como Rosa nunca tinha visto. Era espaçoso, tinha uma grande cama de casal, coberta por uma colcha adamascada em tons de vinho, reposteiros do mesmo tecido, duas mesas-de-cabeceiras e um armário com as portas em espelho de alto-a-baixo. Ao lado uma porta. A mulher abriu a porta e Rosa viu um quarto de banho parecido com aquele que tinha visto na casa grande lá da aldeia. A mulher disse-lhe para se lavar e vestir as roupas que estavam no armário. Deviam ser mais ou menos do seu tamanho.
- As tuas não servem. Não se usam na cidade nem fazem jus à tua beleza. Daqui por meia hora, venho buscar-te para o jantar.


continua

Que vos parece? Será que a Rosa encontrou um anjo, ou uma bruxa?

A ROSA volta na próxima terça-feira

A todos os amigos que me honraram com a sua presença e comentário, no evento abaixo, agradeço de todo o coração. Muito obrigada. 





24 comentários:

Unknown disse...

História surpreendente.
Casos da vida que muitos nunca imaginaram ser possível alguém, um dia, vivê-los.

chica disse...

Fico torcendo para que seja um anjo bom na vida de Rosa! vamos ver!! Lindo! bjs, chica

Marina Filgueira disse...

Hola Rosa: nos dejas un texto que da mucho que pesar... No creo que el lugar idóneo para Rosa. Es algo que puede sucesible a cualquiera, nadie esta libre de una situación similar.
Ha sido un placer.
Gracias por tu paso en mi casita virtual.
Besos azules en vuelo.
Y se muy feliz.

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

A história continua muito bem contada,
para a Rosa vai de vento em popa
embora ainda esteja muito magoada
será que encontrou um anjo em Lisboa?

Que na vida a conduza!
coitada já sofreu tanto
tenha encontrado um anjo
quisera, e não uma bruxa.

Bom fim de semana,desejo para você amiga Elvira, um abraço.

Eduardo.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Bom dia, a Rosa encontrou uma nova vida, certamente que vai aparecer o neto ou o filho da senhora que a acolheu, creio que uma historia de amor vai nascer, se esta lhe vai fazer feliz, tenho duvidas.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

lis disse...

Oi Elvira
Tudo é possível Elvira
Ela merece ter encontrado uma alma boa, afinal é apenas uma menina que sofreu uma perda da avó que amava e foi surpreendida por situações de violência que jamais vai esquecer.
Mas , a vida é dura _vai depender da sorte ... e da autora se vem imprimindo ficção ou realidade...
beijinhos e bom domingo

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

eu gostava que fosse um anjo, mas, acho que não será.

no entanto, por vezes a vida reserva-nos muitas surpresas algumas delas bem inverosímeis.

vamos aguardar....

:)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Andre Mansim disse...

Hummmmmmm sei não hein.... Coitada da Rosa! Acho que essa mulher é dona de algum bordel!

Hahahahahahahaha.
Tá muito bom esse conto!

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
GOSTARIA, SE NÃO FOSSE UMA OBRA FICTÍCIA QUE FOSSE UM ANJO, MAS, PARA O DESENVOLVIMENTO DA OBRA, CREIO QUE SERÁ UMA BRUXA.
ESTOU GOSTANDO MUITO , AMIGA,CERTA DE QUE SERÁ UM PRAZER TE ACOMPANHAR ATÉ O FINAL.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

RENATA CORDEIRO disse...

Espero que seja um anjo.
Muito prazeroso de ler, Elvira.
Beijo*

Maria disse...

Não tenho grande esperança de que tenha sido um bom encontro...!
Mas vou já confirmar!!!
Bjs
Maria

São disse...

Nem uma coisa nem outra, mas de qualquer modo não é ninguém em que se possa confiar!

Lê manda-lhe um grande abraço de gratidão e deseja-lhe felicidades .

beijinhos meus para si e neta

paideleo disse...

Demasiado bonito para ser verdade.

Emília Pinto disse...

Gostaria que fosse um anjo e talvez seja, mas andamos tão desacreditados no ser humano que nem queremos arriscar que seja uma boa alma. Pelo menos comida e dormida ela já tem; seria penoso passar a noite na rua esfomeada e perdida. Pelo menos isso ela já teve; agora ela mesma tem de fugir da bruxa se for esse o caso.Fico à espera! Uma boa semana. Elvira. Beijinhos
Emília

Lilá(s) disse...

Hum, estou a achar simpatia e sorte a mais!...
Bjs

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira, boa tarde!
Muita esmola o santo desconfia...
Mas quem sabe ela é uma boa alma e quer ajudála?
Estou gostando muito do desfecho!
Beijos,
Mariangela

Nilson Barcelli disse...

Estes teus episódios da Rosa davam um filme.
Preferia que tudo corresse bem para ela, mas nunca se sabe o que te vai nessa cabecinha pensadora... eheheh...
Tem uma boa semana, querida amiga Elvira.
Beijo.

Bell disse...

Qdo a oferta é demais o santo desconfia... rs

Isamar disse...

Rosa pode ter encontrado um anjo mas também pode ter sido um demónio e costuma dizer-se que quando a esmola é grande o pobre desconfia. A mudança tinha sido tão grande que Rosa, sujeita aos perigos da grande cidade, que desconhecia completamente,não desconfiou da generosidade da senhora. Sem eira nem beira , cansada e esfomeada este encontro surpreendente foi aquilo que ela, desamparada, precisava. O conto está bastante empolgante. Vamos ver! Beijinhos

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Milagres, acontecem!

Berço do Mundo disse...

Depois do que essa menina passou, temo que as intenções dessa senhora não sejam as melhores... mas vou já conferir com o seguimento da história.
Beijinhos
Ruthia d'O Berço do Mundo