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29.10.14

ROSA PARTE VIII


Esta foto, de minha autoria retrata a antiga Caldeira do Alemão depois da intervenção da POLIS. Claro que a única coisa que a liga à antiga, a que se refere o conto, é ser no mesmo sítio. De resto na altura não existiam por ali prédios nenhuns. Existia sim uma fábrica de cortiça, um pouco mais acima onde hoje é o parque da cidade. Pertencia a um alemão que faliu pouco depois do termino da Segunda Guerra Mundial.Tudo o resto era uma quinta improdutiva.

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                                             VIII
Antes de chegarem ao seu destino, passaram por uma espécie de pequena lagoa que, contrariamente ao rio, se apresentava cheia de água. Numa ponta entre a lagoa e o rio, uma pequena ponte de madeira e, sob ela, um grande portão de zinco, que servia de comporta. Apesar da escuridão noturna, ela parou:
- É a caldeira do Alemão, pertence àquela casa grande ali em cima, que é uma fábrica de cortiça. É ali que eu trabalho. Vem, já falta pouco.
Andaram mais um bocado e foram ter a um sítio cercado por arame farpado e um portão grande no qual o homem bateu.
Pouco depois, uma mulher abriu o portão. Era Amália, a irmã de João, a porteira daquele lugar, que ela soube depois, era a Seca do Bacalhau da Azinheira, de que falavam na aldeia, algumas pessoas que todos os anos eram engajadas para a safra.
Amália tratou-a com naturalidade e até talvez um pouco de carinho. Rosa pensou que ela não devia saber onde o irmão a tinha ido buscar. Estava enganada.
João era o mais novo de seis irmãos. Não chegou a conhecer o pai, que morrera na batalha de La Lys na França, na primeira grande guerra. Devia sentir-se orgulhoso, já que toda a gente lhe dizia que o pai fora um herói, mas não era assim que ele sentia. O que sentia era uma grande mágoa de não o ter conhecido e uma grande revolta contra as guerras que deixam sozinhas mulheres cheias de filhos para criar. Pouco depois do início da segunda grande guerra, João foi para a tropa. Portugal não entrou diretamente na guerra mas, através dos Açores e da base Americana lá implantada, pode dizer-se que de certa maneira lá esteve. João foi destacado para os Açores, para prestar serviço nessa base aérea. Quando embarcou, o medo de que a base fosse atacada pelas forças inimigas era real, tanto entre os portugueses como entre os americanos. O grupo de soldados foi a Fátima, despedir-se da Virgem e pedir a sua proteção.
Então, lá perante a Virgem, João fez uma promessa que para muitos podia ser estranha, mas que foi o que lhe ocorreu no momento. Prometeu, que se voltasse são e salvo, tiraria uma mulher “da vida” e casaria com ela. Toda a família sabia da promessa e, naquele tempo, uma promessa à Virgem, era uma coisa sagrada que se cumpria sem contestação.
 Depois de sair da tropa, João procurou trabalho e quando o teve começou a pensar que tinha que cumprir a promessa. Naquele tempo, os bordéis eram proibidos por lei mas, em Lisboa, havia alguns que por qualquer razão, que ele não entendia, as autoridades fingiam desconhecer.
Aos fins-de-semana, João começou a percorrê-los. Quando encontrou Rosa, já tinha visitado dois, mas ninguém lhe agradou. Ou eram já demasiado velhas, para a mulher que ele queria para mãe dos seus filhos, ou estavam por demais ligadas àquela vida e não se habituariam a uma vida diferente. Por isso, quando viu Rosa, com o seu ar provinciano e assustado, sentiu que tinha encontrado o que procurava.
Quando foi buscar o dinheiro exigido pela dona do bordel, João falou com a irmã, que lhe disse que podia levar a moça lá para casa até casarem.
E agora, ali estava ela, numa casa estranha, pobre de móveis, mas rica de vida, a julgar pelos dois catraios que andavam à roda dela como cão à volta do dono.
Amália destinou-lhe a cama de um dos filhos, os rapazes dormiriam juntos, não havia problema. Depois, não seria por muito tempo.


Continua

Na próxima Sexta

22 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Não tenho andado muito na blogosfera mas vejo que virou escritora mais formal e tudo com um conto ;) terei de ler com mais atenção e acompanhar :)

Relativamente ao livro, poderei enviá-lo por correio autografado, depois diz...

beijo amigo

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Primeiro, parabéns pela bela foto.

Saber que Rosa deixará de ser "mulher de bordel" para constituir família com João, é prenúncio de "final feliz"...Será?

Evanir disse...

Venho te deixar um grande abraço bem
apertado com imenso amor ,
aquele amor que só existe numa grande amizade.
Eu me sinto feliz por poder contar
com seu carinho .
Na minha vida receber você no meu blog
é meu melhor presente.
Desejo você uma semana abençoada.
Beijos no coração..
Evanir..

Pedro Coimbra disse...

De quando em vez descobrimos um blogue que nos grada.
E, quando assim é, eu fico.
É este o caso.
Um abraço

chica disse...

Linda foto e continuação.Mas ROSA nem podia ser considerada de bordel,né? bjs, chica

Laura Santos disse...

O que acho interessante nesta narrativa, é para além do enredo que nos prende à história e nos provoca uma grande simpatia pela personagem Rosa, é também o facto de a narrativa se posicionar muito bem no tempo e no espaço, com todas essas referências a locais que hoje já não existem como outrora, e a acontecimentos como as várias guerras.
Tudo muito bem situado. Parabéns, Helena, uma história com muita fluidez!
xx

Edum@nes disse...

Teria sido aquele o homem que a Rosa desejava, para a sua vida, ou apenas uma promessa feita por ele à Virgem? Isso é o que iremos saber nos próximos episódios!...A imagens foi bem escolhida para mais realçar a beleza da história!

Desejo-lhe um bom dia amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

António Querido disse...

Muito bem amiga, não perco a história da Rosa, estou a viver tempos da minha juventude, tratando-se de locais que eu tão bem conheci, mais me interessa o fim da história.
Com o meu abraço

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, estou curioso por saber qual o futuro da Rosa, penso que a sorte e a paz ainda está longe de chegar para a Rosa.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

isto sofreu uma reviravolta que confesso não esperava e que me está a agradar....

:)

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira, boa tarde!
Muito interessante esta narração,achei que a Rosa tinha tirado a sorte grande, mas tem algo estranho no ar, acho que a Rosa entrará "num barco furado"... será?
Abraços!!
Mariangela

São disse...

Que bela foto e o Polis fez um bom trabalho.

Beijinhos

Marina Filgueira disse...

Hola, boa tarde.

ES un texto muy bien trabajado: fenomenal! Me ha encantado y pienso al fin Rosa y su historia tendrá un final feliz.

Enhorabuena y te dejo mi felicitación, mi gratitud y cariño.
Besos azules en vuelo.
Desde Galicia. Feliz semana.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Estou seguindo com todo o interesse
esta sua história/conto.
Desejo que se encontre bem.
Bj.
Irene Alves

lis disse...

Que sorte a dele porque encontrou a Rosa num bordel mas sem nunca dele ter participado(se é que isso importa).
Até aqui ela vem sendo protegido por algum anjo bom,
tomara saiba conduzir-se nesse novo cenário... rs
um abraço Elvira
grande escritora ! parabéns

Emília Pinto disse...

Continuo a acreditar que há anjos bons e parece-me que fazer uma promessa dessas prenuncia um bom coração, mas....vamos ver!!!! Cá estarei para continuar a saber da Rosa. Beijinhos, Elvira e até breve. Obrigada !!
Emília

Pérola disse...

Histórias que ganham vida em pensamentos com experiência.

Muito inspirado!

Beijinhos~

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Não deixa de ser curiosa a razão que conduziu ao encontro entre a Rosa e o João: O cumprimento duma promessa; bastante original para um soldado que vai para a guerra.
E agora vamos lá ver se vai dar certo...

Um abraço
Vitor

Isamar disse...

Mais um episódio muito interessante da vida de uma Rosa muito pouco afortunada. Aparentemente parece ter encontrado o ombro amigo, o carinho, o caminho certo para deixar de sofrer. Vamos ver se este homem, que acabou de cumprir a sua promessa, vai ser tudo quanto a Rosa espera e necessita. Conheci, há muitas décadas, um senhor que também casou com uma mulher que encontrou num bordel. Foi o que sempre ouvi contar. O certo é que foi amada e muito respeitada por todos até morrer. Há que dar uma oportunidade a quem leva uma vida difícil. Julgar quem optou voluntária ou involuntariamente por esse caminho não nos compete. Gostei muito da foto que já conhecia. Beijinhos

Marina Filgueira disse...

¡Hola, Elvira!!!

Preciosa imagen se ve un lindo pueblo.
Explicas sus encantos con claridad aunque yo no entienda muy bien tu idioma, intuyo lo que quiere decir.

Quiero darte las gracias por tu huella en mi poema de Prosa poética,
En J-R Viviani.
Un abrazo y se muy muy feliz.

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
AS VEZES ME PERCO PELA BLOGOSFERA E NÃO APAREÇO MAS, ASSIM QUE TE ENCONTRO VENHO CORRENDO AQUI PARA LER POIS ADORO TUAS HISTÓRIAS, SEMPRE TÃO CHEIAS DE VIDA E BEM ESCRITAS.
ABRÇS

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Fernando Santos (Chana) disse...

Para além da história excelente fotografia....
Cumprimentos